Vinte e dois dias depois de a vereadora Camila Valadão (PSOL) ter protocolado o Pedido de Indicação (PI) 8060/2021, o prefeito bolsonarista de Vitória (ES), o delegado licenciado da Polícia Civil, Lorenzo Pazolini (Republicanos) ainda não solucionou o problema da falta de médicos no Centro de Referência em Doenças Sexualmente Transmissíveis (SEMUS/DST-AIDS). A vereadora pediu para o prefeito contratar mais médicos, já que existem profissionais concursados que não foram chamados por Pazolini, que vem optando entregar os serviços médicos da capital à empresas sob suspeita de não terem idoneidade.
Pacientes entraram em contato com a imprensa para denunciar que nesta sexta-feira (15) continua a falta de médicos, já que seria para ocorrer nesta data o agendamento médico, o que não foi possível devido a inexistência de médicos. A vereadora do PSOL já havia feito anteriormente a mesma solicitação, que não foi ouvida pelo prefeito bolsonarista. Reveja o pedido de informação da vereadora Camila Valadão que vem sendo ignorado pelo prefeito Pazolini:
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“Ocorre que, em que pese tal Centro de Referência já ter sido modelo de atendimento clínico especializado a tais tipos de doenças, desde 2019 acumulam-se inúmeras denúncias por parte dos usuários acerca do processo de precarização deste serviço. Novamente, em setembro de 2021, voltou a ser noticiada a escassez de médicos infectologistas para atendimento dos pacientes do Centro, em matéria do Século Diário, segundo a qual usuários do serviço relatam prejuízo no tratamento em razão da falta de médicos especializados”, disse a vereadora através do PI 8060/2021.
Camila Valadão ainda lembra Pazolini que fez a mesma solicitação fevereiro deste asno através do Processo 878/2021 que tinha o outro PI, o de número 481/2021), onde havia feito o pedido de “contratação de mais médicos infectologistas para o Centro de Referência. À época, conforme informações extraídas no Portal da Transparência, no mês de janeiro de 2021, o Centro contava com 32 (trinta e dois) profissionais, sendo quatro médicos e apenas um deles, médico infectologista”, assinalou a vereadora do PSOL..
“São necessários quatro infectologistas”
“Segundo a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP+), seriam necessários ao menos quatro infectologistas para atender a demanda de atendimento de mais de dois mil pacientes do referido equipamento de saúde. Logo, resta demonstrada a necessidade de contratação de, pelo menos, mais três médicos infectologistas para atendimento no Centro de Referência, de modo a garantir a qualidade do serviço prestado, evitando-se a sobrecarga de trabalho dos profissionais lotados neste Centro de Referência, bem como demoras na marcação de consultas e constância no acompanhamento médico”, afirmou Camila Valadão.
“Portanto, para que a população capixaba tenha o efetivo direito ao acesso à saúde, reiteramos a indicação já feita em fevereiro deste ano para que o Chefe do Poder Executivo Municipal promova a contratação de, pelo menos, mais três médicos infectologistas para atendimento o Centro de Referência em Doenças Sexualmente Transmissíveis (SEMUS/DST-AIDS) da Prefeitura Municipal de Vitória, com urgência”, finalizou a vereadora no documento onde o prefeito ignorou..
“Vitória perde para Vila Velha e Cariacica”
Segundo o representante municipal de Vitória na Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+Brasil) e conselheiro municipal de saúde, Sidney Parreiras de Oliveira, a cidade, que era referência em política de Aids entre as capitais, hoje perde inclusive para municípios vizinhos, como Vila Velha e Cariacica. A perda foi acentuada após o início da gestão do prefeito bolsonarista.
Sidney afirma que existe somente um infectologista para atender mais de 2 mil pessoas, o que causa longa espera para consultas, prejudicando não somente quem já faz o tratamento, mas também quem foi diagnosticado e precisa dar início a ele. O médico, relata o conselheiro, convive com a sobrecarga de trabalho, o que faz os pacientes temerem a possibilidade do profissional abandonar o posto.
Além da dificuldade para marcar consulta, os pacientes têm que conviver, muitas vezes, com a impossibilidade de marcar exames devido à falta de técnicos de laboratório. Outro problema destacado por Sidney é a falta de acesso à Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) que previne a infecção pelo HIV. Trata-se de medicamentos antirretrovirais que impedem que o HIV se estabeleça e se espalhe pelo corpo, prevenindo, assim, uma possível infecção. A PrEP é também é utilizada por pessoas soronegativas que se relacionam com soropositivos, ou seja, que formam um casal sorodiferente, e também por profissionais do sexo.
O acesso à Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), segundo Sidney, está dificultado em virtude da ausência de profissionais no Centro de Referência em IST/AIDS. Ele explica que, para fazer uso do medicamento, é preciso uma equipe com trabalhadores como médicos, assistentes sociais, enfermeiro e técnico de laboratório, pois a pessoa necessita de acompanhamento contínuo em virtude dos possíveis efeitos colaterais que o medicamento pode trazer, por exemplo, problemas renais.
Diante da falta de profissionais, afirma Sidney, acontecem dois problemas principais. Um é a possibilidade de a pessoa ter a saúde comprometida. O outro, é não poder dar início ao uso dos medicamentos, aumentando a possibilidade de infecção pelo HIV.
Quem já contraiu o HIV e faz o tratamento, também passa pela dificuldade de acesso a medicamentos. O conselheiro municipal aponta que a receita para aquisição de remédios é complexa, sendo esse um dos fatores que fazem com que seja necessário o atendimento de farmacêuticos, para que não haja erro na entrega. Entretanto, os pacientes são atendidos por uma auxiliar de farmácia, que não pode tirar dúvidas, por não ser sua atribuição, e que pode ter dificuldades para compreender a receita. Para ser atendido por farmacêutico, informa Sidney, é preciso marcar uma conversa online devido à pandemia, o que torna o procedimento moroso.
O conselheiro acredita que toda essa situação pode fazer com que Vitória não cumpra a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde de garantir que pelo menos 95% dos diagnosticados tenham acesso ao tratamento e fiquem com a carga viral indetectável, ou seja, com quantidade de vírus inferior a 40 cópias por ml de sangue, o que impede a transmissão do HIV. A meta é um passo para que, em 2030, o Brasil alcance a porcentagem de 100%.