Com os 100 anos do início da produção do perfume francês Chanel nº 5 nesta última quarta-feira (5), que teve como garoto propaganda a atriz Marilyn Monroe, trouxe à tona uma pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) sobre o pau-rosa, que é o ingrediente básico, o linanol natural, extraído do Pau-rosa (Aniba rosaeodora var amazonica Ducke), uma planta da família Lauraceae, que dáo aroma do famoso perfume. A perfumaria de mademoiselle Coco Chanel usou desde 1921 o óleo essencial extraído da madeira do pau-rosa, uma árvore nativa da Amazônia.
No entanto, a exploração predatória na mata amazônica levou ao Ibama, em abril de 1992, a proibir a exploração, porque a árvore por ser ameaçada de extinção. De acordo com estimativas do Ibama desde o início da produção do Chanel nº 5 foram derrubadas aproximadamente 500 mil árvores do pau-rosa, o que acelerou o risco de extinção da espécie.
50 árvores para 1 tonelada de óleo
Para a árvore na floresta chegar ao ponto de corte demora em média de 30 a 35 anos. E para se obter uma tonelada do linalol é necessário derrubar de 25 a 50 árvores. Se o manejo e cultivo forem bem feitos, com a escolha de melhores matrizes, esse prazo cai para 25 anos. Atualmente, a produção anual do óleo de pau-rosa fica em torno de 40 toneladas, o que representa uma pequena fração das 450 toneladas produzidas nos anos de 1950.
Foi o estímulo para o professor Lauro Barata, do Laboratório de Química de Produtos Naturais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), começar a desenvolver em 1998 um projeto de extração do óleo essencial das folhas dopau-rosa, e que resultou em rendimento e qualidade semelhantes aos obtidos da madeira. Os estudos se intensificaram em 1997 quando ecologistas franceses iniciaram uma campanha para boicotar os produtos da Chanel por conta da extração do pau-rosa, e a conseqüente devastação da floresta.
Em resposta, a Chanel contratou a ONG Pro-Natura, de origem franco-brasileira, que trabalha em parceria com empresas para desenvolver programas de desenvolvimento sustentável. O objetivo era encontrar uma solução que acalmasse o ânimo dos grupos ambientalistas. Barata foi então chamado pela ONG para fazer um diagnóstico da situação da extração do óleo da árvore amazônica.
Desenvolvimento sustentável
No relatório final, ele ensinava como trabalhar com a produção sustentável do pau-rosa, que começava com o cultivo e o manejo e passava pela extração das folhas. “Fizemos um levantamento inventariando a situação e a empresa se comprometeu a adotar o desenvolvimento sustentável proposto no nosso relatório”, diz Barata.
“A solução apontada conseguiu barrar as manifestações programadas.” Mas até hoje eles continuam a comprar o extrato obtido das árvores cortadas inteiras no meio da floresta. A pressão internacional provocou uma retomada das possibilidades de manejo sustentável do pau-rosa e, após uma série de discussões com a participação dos produtores, o Ibama lançou em 1998 uma portaria com diretrizes que regulamentam a extração da árvore.
O perfume, um dos mais caros da França, e de acordo com a imprensa francesa, optou pelo mistério e não revelar que foi forçado a usar substitutos sintéticos. A estratégia da perfumaria foi deixar no ar uma ponta de exotismo, como se ainda utilizasse a extração do odor do pau-rosa da floresta amazônica. Ao longo deste século A composição do n° 5 evoluiu, se adaptando levemente aos gostos contemporâneos.
Mas sua fórmula principal foi mantida, com uma mistura complexa, que vai de Bergamota a Ylang Ylang, passando por Íris, Jasmim, Rosa, ou ainda Âmbar, Sândalo, Almíscar. Uma alquimia que faz com que nenhuma nota seja claramente identificável. Apesar do nº 5 não ter perdido a majestade na perfumaria francesa, não saiu de moda. Não é o mais vendido atualmente e perdeu mercado para outros perfumes lançados mais recentemente.