Pesquisadores da UERJ, liderados pelo professor Francisco Dourado (Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres – CEPEDES), em parceria com pesquisadores portugueses, procuraram e encontraram evidências físicas da chegada de um tsunami nas praias da costa do Brasil em novembro de 1755, como resultado de um terremoto que atingiu e destruiu Lisboa. A onda gigante atravessou o Atlântico e causou estragos na costa brasileira. Até então o fenômeno estava registrado apenas em manifestações artísticas e documentos históricos como livros, cartas e quadros da época. O estudo foi submetido a revista científica internacional sobre desastres naturais, Natural Hazards Journal. O estudo foi concluído em janeiro do ano passado.
O trabalho começou com o levantamento histórico do professor Alberto Veloso, da Universidade de Brasília (UnB), em seu livro “Tremeu a Europa e o Brasil também”. Ele é coautor da pesquisa que foi coordenada pelo CEPEDES/UERJ em parceria com a Universidade de Coimbra, Universidade de Lisboa, Instituto Dom Luiz e Instituto Português do Mar e da Atmosfera. “Trazer estas informações que estão muito longe da realidade do nosso dia a dia é um instrumento para atrair atenção para os desastres naturais no Brasil”, revela Dourado.
Trabalho de campo
DISSERTAcao_Ana-Paula-Cezario-da-Silva_correcao-biblioteca_v2-231018-ok-para-impressaoAo todo, foram 270 quilômetros de trabalho de campo em 22 praias entre Rio Grande do Norte e o sul de Pernambuco, com quatro pontos de coleta de amostras. Mas a onda gigante atingiu toda a costa nordestina, com relatos de ter chegado também ao Rio de Janeiro, no sudeste do País.
“No material coletado, a gente vê elementos químicos que não eram pra ser encontrados ali. Eram pra ser encontrados em regiões com mais profundidade. Ou seja, algo trouxe aqueles elementos até ali. Da mesma forma, há vestígios de microanimais que não deveriam ser encontrados na praia”, explica.
Ondas elevadas
Na região da praia de Lucena, na Paraíba, as ondas variaram entre 1,8 e 1,7 m de altura. Na região de Pitimbu, no mesmo estado, a altura das ondas ficou entre 1,5 e 1,1 m; na região pernambucana de Tamandaré, variou entre 1,9 e 1,8 m. As ondas não chegaram muito altas, mas o volume de água foi grande.
As ondas inundaram até 4 quilômetros distantes da linha de costa, principalmente em locais com influência de rios, nas proximidades da Ilha de Itamaracá (PE). Em Tamandaré a inundação foi de até 800 metros. Já em Lucena foi de aproximadamente 300 metros.
Além dos dois professores brasileiros e de Ana Cezario, mestranda brasileira, também participam da pesquisa os pesquisadores portugueses Pedro Costa, Maria Ana Baptista, Rachid Omira e Francisco Fatela.
Destruição de Lisboa
Era um sábado, dia 1º de novembro de 1755, consagrado pelo calendário católico como sendo o Dia de Todos os Santos e a maioria dos moradores de Lisboa, então uma das maiores cidades católicas do mundo, entre nobres e plebeus, se reuniam nessa manhã em Igrejas, acendiam velas e rezavam. Eram exatamente 9h30 da manhã quando a terra começou a tremer. Foi visto um recuo impressionante da água do mar a ponto de ficar visível embarcações que naufragaram no passado e cargas que caíram de embarcações. A terra tremeu tanto que o Terremoto de Lisboa destruiu 85% das construções. Estudos atuais indicam que o tremor atingiu entre 8 e 9 na Escala Richter, que tem o máximo em 10.
O tremor que ocorreu provocou incêndios e o que não foi destruído pelo desabamento ou pelo fogo, foi derrubado pelo tsunami com ondas que alcançaram 10 metros e invadiu a Baixa Lisboa. O tsunami não foi suficiente, entretanto, para apagar todo o fogo que tomou conta da cidade, graças às velas acesas pelo dia santificado.
Tsunami com velocidade de 800 Km/h
O tsunami se formou e percorreu o Atlântico, fazendo com que ondas violentas chegassem ao Brasil. A partir de pesquisas no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa e diversos cálculos, o geólogo chegou à conclusão de que o tsunami cruzou o oceano a uma velocidade média de 800km/h e, depois de mais ou menos sete horas, ondas estimadas em até 6m atingiram a costa brasileira, lavando cerca de mil quilômetros de praias das capitanias de Paraíba, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro; embora existam dúvidas sobre as ondas elevadas no Estado fluminense.