Após analisar nove escolas em tempo integral de nível médio da rede pública do Espírito Santo, um estudo desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAdm/Ufes) concluiu que o programa Escola em Tempo Integral, estabelecido pelo governo estadual em 2015, não teve impacto significante no desenvolvimento escolar de estudantes capixabas entre os anos de 2015 e 2021. A pesquisa avaliou as disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa, de acordo com o Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo (Paebes).
A dissertação de mestrado O impacto do programa Escola em Tempo Integral no desempenho escolar das escolas estaduais de ensino médio do Espírito Santo foi desenvolvida pelo pesquisador Mateus Amaro, sob orientação dos professores Adonai Lacruz (PPGAdm/Ufes) e Fagner Carniel (Universidade Estadual de Maringá). A pesquisa analisou o desempenho de estudantes do terceiro ano do ensino médio em escalas de proficiência. Além das nove escolas participantes do programa analisadas no estudo (grupo de tratamento), outras 18 que não participam do modelo (divididas entre grupos controle e placebo) também foram incluídas na pesquisa.
Desempenho
O programa Escola em Tempo Integral faz parte das políticas públicas da educação básica no Espírito Santo e passou a ser implementado no estado há oito anos com o nome Escola Viva. Lacruz explica que um dos objetivos de gestores e profissionais da educação com a criação da Escola em Tempo Integral é melhorar o desempenho de estudantes em exames de avaliação da qualidade do ensino brasileiro.
Os estudantes capixabas fizeram parte dos primeiros grupos do país a participarem desta política pública educacional, tendo à disposição, em 2015, uma escola adotante do modelo. Seis anos mais tarde, em 2021, eram 92 escolas, número que subiu para 132 em 2023. “Com os recentes incentivos federais, em um futuro próximo esse número de escolas deve se expandir ainda mais”, sentencia Lacruz.
Contribuição
A partir da observação de que alguns estados brasileiros e países como México, Chile e Colômbia apresentaram divergências nos dados sobre o impacto das Escolas de Tempo Integral no desempenho educacional dos alunos, Amaro decidiu investigar os efeitos do modelo no Espírito Santo. A ideia era contribuir para o desenvolvimento da teoria relacionada às políticas públicas educacionais, discutindo possíveis causas que levaram o programa Escola em Tempo Integral no Espírito Santo a obter sucesso ou fracasso.
Após análises dos dados coletados em escolas de Vitória, Cariacica, Alegre, Aracruz, São Gabriel da Palha, Cachoeiro de Itapemirim, Itapemirim e Barra de São Francisco, o estudo concluiu não ser possível rejeitar a igualdade dos desempenhos no Paebes entre as escolas. Ou seja, o Programa Escola em Tempo Integral não causou impacto significante no desempenho escolar de alunos da rede pública nas avaliações de Matemática e Língua Portuguesa do Paebes.
Benefícios
A pesquisa também identificou resultados positivos no programa. Dentre os possíveis benefícios sociais que a Escola em Tempo Integral traz, Amaro cita a manutenção dos alunos por mais tempo nas escolas, o que, segundo ele, pode contribuir para a redução da vulnerabilidade social; a redução das desigualdades sociais, “já que um programa de Escola em Tempo Integral pode fornecer acesso a oportunidades que talvez aqueles alunos não pudessem experimentar em outro lugar”; e a satisfação dos estudantes em participar das atividades escolares, advinda do acolhimento no ambiente escolar.
Lacruz considera crucial a obtenção de conhecimento acerca dos resultados de políticas públicas, caso da Escola em Tempo Integral: “A avaliação do programa no Espírito Santo serve tanto para os tomadores de decisões no estado quanto para experiências semelhantes em outras unidades da federação e, em maior medida, para a própria política pública federal. Avaliar se os objetivos propostos pela política pública foram atingidos permite manter, alterar, ampliar ou descontinuar as ações”.
Texto: Adriana Damasceno