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Pesquisa da Ufes traça perfil da dengue em Vitória com base em dados da epidemia de 2020

Pesquisa da Ufes traça perfil da dengue em Vitória com base em dados da epidemia de 2020 | Foto: André Sobral/PMV

Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas da Ufes traçou o perfil da dengue na epidemia ocorrida no ano de 2020 em Vitória. As áreas de maior incidência da doença foram os bairros das regiões de Santo Antônio e São Pedro, com um posterior avanço para a região de Maruípe. Os resultados demonstraram que mulheres, negros, indivíduos com menor escolaridade e o grupo de pessoas com idade entre 10 e 19 anos têm maior suscetibilidade em contrair a doença. Os dados revelam o rejuvenescimento dos grupos mais afetados, que usualmente eram os adultos.

O estudo Características Epidemiológicas dos Casos Notificados de Dengue no Município de Vitória-ES no Período 2018-2020 foi desenvolvido como dissertação de mestrado da estudante Lylian Resende, sob orientação do professor Crispim Cerutti. Durante três anos, foram analisados fatores determinantes envolvidos na disseminação da dengue com o objetivo de contribuir com discussões sobre o tema e propor medidas integrativas entre o setor de Vigilância Epidemiológica e a comunidade, e controlar a doença no município de Vitória.

“A importância dessa pesquisa reside no acompanhamento da dinâmica de transmissão da dengue, apontando áreas vulneráveis e indicando medidas de saúde pública capazes de reduzir os danos e atenuar os índices”, afirma Cerutti.

Sorotipo

A epidemia do ano de 2020 ocorreu devido ao sorotipo DENV-2, que não circulava na capital espiritossantense desde 2011. A pesquisadora Lylian Resende explicou que, devido ao lapso temporal desde a última circulação do DENV-2, um maior número de indivíduos não havia tido contato prévio com esse sorotipo. “A distribuição disseminada dos mosquitos devido às chuvas aliada a essa dinâmica de indivíduos suscetíveis criaram as condições ideais para uma epidemia da dengue”, afirmou.

Os dados demonstraram que os picos em 2019 e 2020 ocorreram entre períodos de baixa precipitação. Segundo a pesquisadora, esse atraso entre o período de chuvas e os casos notificados é causado pelo tempo de ciclo de vida do mosquito transmissor, o Aedes aegypti. Dessa maneira, o aumento de casos em determinado mês geralmente está relacionado com o aumento de chuvas no mês anterior ou até dois meses antes. Ou seja, a relação entre a precipitação e a incidência de casos existe, mas não é instantânea.

Em relação ao grupo de risco, há uma maior associação da dengue no grupo de adolescentes, seguido por adultos, idosos e, por último, crianças. A frequência menor em crianças pode representar subnotificação por diversos fatores: seja porque o diagnóstico neste grupo etário é mais difícil devido à inespecificidade da apresentação clínica, seja pela maior possibilidade de infecção assintomática nessa faixa etária. Já a inversão da faixa etária ocorreu em virtude de repetidas epidemias ao longo dos anos, em que houve ampla proteção imunológica aos adultos, restando os jovens como os mais suscetíveis.

Ainda sobre as variáveis demográficas dos indivíduos suscetíveis a contrair a dengue, a pesquisadora comentou: “as arboviroses (doenças causadas por artrópodes, entre eles os mosquitos) não se distribuem uniformemente nas diferentes populações, de modo que existem grupos com maior risco de apresentarem a doença”. A maior incidência em mulheres pode ser atribuída à permanência mais frequente de indivíduos do sexo feminino no domicílio. A maior associação com pessoas negras e pardas se dá devido a serem parte do grupo de maior vulnerabilidade social.

Os estudos demonstraram que viver em apartamentos é um fator de proteção à doença, pois esses usualmente possuem uma administração centralizada que normalmente observa os cuidados de limpeza e manutenção das áreas comuns, diminuindo a infestação de mosquitos.

A coorientadora da pesquisa, professora Creuza Vicente, salientou a relevância da pesquisa no cenário nacional: “ela sugere características que podem estar associadas a um maior risco de ocorrer a doença e que podem ser observadas em outros locais, como é o caso dos fatores socioeconômicos”.

Texto: Dhebora Molina (bolsista de projeto de Comunicação)