É possível que a conservação do recife de coral mais ao sul do Oceano Atlântico e atividades recreativas realizadas na região possam caminhar juntas? Em um estudo revelador, publicado no último dia 31/10, na revista científica Journal of Environmental Management, pesquisadores(as) do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha da Universidade Federal de São Paulo (LabecMar/Unifesp) demonstraram que sim. O exemplo pode ser evidenciado na prática, no entorno da Ilha da Queimada Grande, a cerca de 35 km do litoral paulista.
O recife de coral da Ilha da Queimada Grande foi descoberto e divulgado em 2019 pelo mesmo grupo de pesquisa justamente quando ocorriam as audiências públicas para a elaboração do Plano de Manejo da Área de Proteção Marinha Litoral Centro.
“Na época, a Ilha da Queimada Grande estava classificada como Zona de Uso Intensivo, o que permitia atividades extrativistas de diferentes escalas. A descoberta do recife trouxe um elemento fático para a criação de uma Área de Interesse Turístico, incorporada na versão final do Plano de Manejo publicada em 2020”, explica Maria Lanza, gestora da Área de Proteção Ambiental Marinha Litoral Centro (APAMLC).
Desafios
Embora a criação de áreas específicas para o manejo seja essencial, sua gestão efetiva apresenta desafios complexos. Para orientar o trabalho dos(as) gestores(as) de unidades de conservação, os Planos de Manejo estabelecem prioridades e diretrizes. A pesquisa está perfeitamente alinhada com o contexto delineado no Plano de Manejo da APAMLC, consolidando sua natureza de colaboração interinstitucional na promoção de políticas públicas.
“Este é um exemplo de ciência transformadora. Ao quantificar e modelar os potenciais impactos das atividades turísticas na Ilha da Queimada Grande, estamos dando passos significativos em direção ao alcance das metas de gestão desta importante Unidade de Conservação no litoral de São Paulo”, ressalta Diego Hernandes, diretor regional da Fundação Florestal, parceira na iniciativa, que também contou com o apoio do Instituto Linha D’Água.
“A pesquisa é notável por seu caráter interdisciplinar, integrando metodologias de diversas áreas do conhecimento, como Geofísica, Ecologia e Oceanografia Socioambiental. Ela confirma que, com efetiva gestão, é viável conciliar as atividades recreativas praticadas na Ilha da Queimada Grande com a conservação marinha regional.
Trata-se de um exemplo de conciliação de interesses diversos com a conservação ambiental e que pode e deve ser seguido em outras regiões”, ressalta Guilherme Pereira Filho, professor do Instituto do Mar (IMar/Unifesp) – Campus Baixada Santista e um dos responsáveis pelo estudo.
Serviço:
Uma parte desse trabalho é destacada no documentário Madracis, acessível no YouTube, clicando neste link.