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Pesquisa mostra que o mau uso de lenha e carvão pode complicar casos da Covid-19

Texto: Mikaella Mozer (bolsista em projeto de Comunicação)/UFES

Fogão a lenha tupinambá | Foto: Potyra Te Tupinambá/CC

Um estudo da Ufes mostrou que o mau uso da biomassa como fonte de energia doméstica contribui para agravar a mortalidade por covid-19. O emprego inadequado em fornos e fogões de baixa eficiência, em ambientes fechados e mal ventilados, libera os poluentes PM10 e PM2,5, causadores de diversas doenças respiratórias e cardiovasculares e de câncer, enfermidades potencializadoras da covid-19.

Mais de 3 bilhões de pessoas no mundo e aproximadamente 3 milhões no Brasil ainda utilizam a lenha e o carvão vegetal como fonte principal de energia, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“O uso errado dessas matérias contribuiu com um efeito dominó na pandemia. As classes em situação de vulnerabilidade buscam essa alternativa energética, pois é mais barata, achada em qualquer lixão ou aterro, o que gerou uma população com problemas respiratórios que poderiam ter sido evitados. Se a situação tivesse sido trabalhada antes, muitas pessoas poderiam não ter sido afetadas pelo vírus de uma forma tão forte”, analisa a engenheira ambiental e mestranda em Ciências Florestais na Ufes Gabriela Cupertino.

A pesquisa também mostrou que pessoas curadas do vírus, sem histórico de problemas de saúde, mas que moram em locais com uso desses materiais orgânicos nas mesmas condições, podem vir a desenvolver doenças graves e até mortais, por inalarem as partículas liberadas na combustão. Isso porque as sequelas da covid-19 podem ser agravadas com a aspiração dessas partículas.

Essa é uma das pesquisas de enfrentamento à covid-19 que recebem apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) da Ufes. Conheça outras pesquisas da Ufes sobre covid-19.

Formas de aproveitamento

O professor do Departamento de Ciências Florestais e da Madeira Ananias Dias Jr., que orienta a pesquisa, destaca que os riscos do consumo de biomassa estão ligados à forma de aproveitamento, e não ao produto em si. “Por exemplo, na Europa, há sistemas mais elaborados, com injetores de ar, filtros, entre outros aparatos para diminuir as emissões dos particulados e de outros gases tóxicos causadores de problemas de saúde, diferentemente da África, onde a queima é direta e em ambientes fechados onde ficam dezenas de pessoas.”

Um dos grandes problemas do uso de fogões e fornos de baixa eficiência é o longo período de exposição. Gerações e gerações, principalmente as mais vulneráveis socialmente, passam a vida produzindo os alimentos dessa maneira.

Segundo os pesquisadores, é preciso investimento para desenvolver novos métodos, sistemas e equipamentos que contribuam para diminuir o impacto desse uso de biomassa na saúde humana. “É um desafio, mas é muito importante. As pessoas olham o carvão vegetal, a lenha, como a parte ruim, mas na verdade é a forma de se queimar que causa esse resultado. Temos de encontrar uma forma de queimar pensando na própria saúde e na redução da poluição ambiental, com melhores saídas de ar e ventilação adequada e sistemas que usem de forma mais eficiente as cinzas, entre outros aspectos”, afirma Dias.

O professor, que coordena o Laboratório de Energia da Biomassa (LEB) da Ufes, desenvolve pesquisas para aplicar e tratar a madeira e o carvão vegetal sob ação do calor, oferecendo produtos e processos econômicos e socialmente viáveis, que gerem energia e também mitiguem efeitos do uso de carbono sobre as mudanças climáticas. Em outra pesquisa do Laboratório, foi desenvolvida uma cápsula de biocarvão para facilitar o plantio, replantio e reflorestamento em solos degradados.