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Pesquisadora da Ufes é premiada por ação de popularização da ciência na educação

Professora Camila Reis estimulou seus estudantes de ensino fundamental a reproduzirem, em experiência, o que estudou em sua tese | Foto: Arquivo pessoal

Uma experiência de popularização da ciência em escolas, desenvolvida durante o doutorado de Camila Reis no Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da Ufes, conquistou o IV Prêmio Educação em Ciências, promovido pela Comissão de Ensino da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (FesBE), com o apoio do Instituto Questão de Ciência (IQC). A premiação reconhece a contribuição do capítulo da tese de doutorado da pesquisadora, intitulado Educação científica e popularização da ciência: o ensino por investigação como abordagem didática. A orientadora da tese é a professora Viviana Corte.

O capítulo relata a iniciativa de levar para as escolas a pesquisa desenvolvida, que trata do estresse hídrico e salino do solo e das consequências para a população que sobrevive a partir do que semeia. A investigação se baseia na aplicação de nitroprussiato de sódio (SNP) em sementes de alface que foram submetidas ao estresse abiótico. Esse tipo de tensão pode ser causado pela seca, salinidade, temperatura alta ou baixa, deficiência ou excesso de nutrientes, metais pesados ou poluentes, entre outros fatores que ocorram de forma isolada ou combinada. Tais problemas têm se intensificado em decorrência das mudanças climáticas.

O nitroprussiato é uma substância que desempenha muitas funções no crescimento e na produtividade das plantas, tanto em condições normais como em estresse. É um sal que libera moléculas, como o cianeto (CN) e o óxido nítrico (NO), que têm potencial para agir na fisiologia das plantas, em especial na produção de enzimas que possibilitam maior resistência ao estresse, explica a professora.

Ensino integrado

O prêmio reconhece e prestigia o trabalho de professores de ciências da natureza da educação básica que contribuem para a otimização do processo de aprendizagem da disciplina nas escolas públicas do Brasil. Reis atua como professora de ciências da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Rômulo Castello, na Serra, Região Metropolitana de Vitória.

A orientadora destaca que Reis buscou conciliar o ensino, a pesquisa e a extensão em seu estudo, para popularizar a ciência e aproximar a universidade da comunidade. “Essa ponte com a comunidade contribui não só para as pessoas saberem o que estamos fazendo na universidade, mas também para a experiência e a aprendizagem dos estudantes”, afirma Borges, que coordena o Laboratório de Ensino de Biologia da Ufes (LEB), focado na popularização da ciência na educação e na sociedade.

Camila Reis (de preto) mostra aos estudantes sua proposta para lidar com o estresse abiótico em sementes | Foto: Arquivo pessoal

Em sala de aula, Reis utilizou uma notícia sobre o estresse hídrico e osmótico do Nordeste, causado pela seca e pela salinização do solo. Esses fatores intensificados pela ação humana dificultam o desenvolvimento da vida em regiões áridas e semiáridas, prejudicando o crescimento das plantas e a produtividade. A partir dessa questão, a professora estimulou um grupo de 70 estudantes a desenvolver, de forma mais simplificada do que fez em seu doutorado, a recuperação de sementes submetidas ao estresse abiótico através do SNP.

“Conduzimos um estudo investigativo sobre germinação de espécies cultivadas em situações ambientais adversas e refletimos, com os estudantes, sobre a influência dos impactos ambientais no desenvolvimento das plantas, os  riscos para a saúde e para a subsistência humana”, detalha Reis. O trabalho, desenvolvido de forma interdisciplinar, buscou compreender fenômenos e métodos científicos por meio de uma leitura contextualizada das dimensões socioculturais das comunidades humanas.

Com base nessa experiência, Reis defendeu, em seu capítulo de tese, a proposta de ensino trialético, “pautado na fusão entre investigação, alfabetização e educação científica, condições indispensáveis à popularização da ciência e ingresso na sociedade intensiva do conhecimento.” A experiência do doutorado, replicada em sala de aula, levou à conclusão de que a aplicação do SNP após o estresse hídrico ajuda a recuperar a germinação das sementes. Também foi testada a aplicação preventiva de SNP em sementes de alface, o que garantiu sua germinação, mesmo após serem expostas ao estresse.