Sob a orientação do professor Luiz Carlos Schenberg, a pesquisadora Rúbia de Souza Armini desenvolve uma pesquisa inovadora para a sua tese de Doutorado, que visa elucidar o que ocorre durante um ataque de pânico. Formada em Enfermagem, nasceu no Bairro Mata da Serra, na Serra (ES).
É filha de um dentista e uma dona de casa. Foi a primeira a ter um diploma na família. Estudou o ensino fundamental e enquanto fazia o terceiro ano do ensino médio, na Serra, surgiu o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Quando terminei o terceiro ano fiz o cursinho em Vitória (ES). Foi o primeiro ano do Enem que eu peguei”, se recorda. Rúbia fez o Enem em 2004 e foi aprovada. Entrou no curso de Enfermagem em 2005, tendo concluído em agosto de 2009.
Ela disse que imaginava cursar Biologia, mas ao optar pelo curso de Enfermagem descobriu que a profissão proporciona a humanização das pessoas, permitindo-nos se colocar no lugar dos outros. “Estar dentro de hospital, ver o sofrimento das pessoas. A Enfermagem ensina muito isso. Aprender a cuidar do semelhante. A gente entra para a Universidade com o pensamento de fazer alguma coisa que vai curar, que vai descobrir alguma coisa que possa curar. A Enfermagem ensina a você a importância do paliativo”, explica.
Mudança de rota
No terceiro semestre do curso de Enfermagem teve uma mudança de rota, após ter conhecido o professor Luiz Carlos Schenberg. Na ocasião, o mestre falou sobre o problema do pânico no animal, fazendo psiquiatria em animais. “Fiquei apaixonada”, resumiu. No curso básico já estudava o comportamento. “Como você pode estimular uma área especifica do cérebro e conseguir envolver toda uma série de comportamentos que caracteriza como um ataque de pânico. Foi apaixonante, explicou.
Em janeiro de 2010 iniciou o Mestrado, começando a estudar o ataque de pânico nos animais. “Naquela época o professor tinha acabado de publicar um artigo sobre tratamento do ataque de pânico com a fluoxetina. Conseguir demonstrar que a fluoxetina na dose terapêutica a gente observa o comportamento de galope no rato. A Teoria do Pânico começou com Freud, na verdade. Foi o primeiro que descreveu o ataque de pânico. Ele fala de crise de angústia”, disse.
Rúbia se recorda que nessa ocasião, o professor orientador publicou um artigo onde fala de um tratamento com diversos antidepressivos em pacientes que estavam internados, ao longo do tempo no hospital. “Observou-se que o tratamento só com imipramina, que é um antidepressivo, também se conseguiu inibir uma série de comportamento nos pacientes, naquilo que a gente pode chamar de ataques de pânico”, disse.
Em diversos estudos, depois disso, ficou demonstrado que no ataque de pânico não viria com a ativação do eixo do estresse, o que é muito peculiar. A tendência é de os pesquisadores dizerem que não tem como vir a ocorrer.
Mestrado
“O meu projeto de Mestrado ficou sendo esse. Eu tinha que fazer o animal fugir no comportamento de galope, que foi eleito como comportamento de pânico, e coletar o sangue dele imediatamente depois. Esse é o meu projeto de Mestrado. Esse projeto foi iniciado em 2010 e concluído em 2013. Foi muito difícil, porque tivemos uma dificuldade muito grande com os animais. O biotério era muito ruim, em um prédio velho, inadequado para esta pesquisa.”
No final de 2010 para 2011, pesquisadores chineses publicaram um artigo exatamente na mesma linha do meu projeto, com conclusão contrária, que reativava o eixo do estresse. Só que os chineses utilizaram uma arena, onde o rato podia ficar correndo. E quando o rato faz exercício físico tem uma ativação direta do eixo do estresse. Então, o que foi inovador no meu projeto foi que fizemos estimulação do rato no limiar da resposta de galope, que é a resposta de pânico, só que ele era contido dentro de uma arena pequena”, explicou.
O rato utilizado na pesquisa do projeto de Mestrado estava livre, mas não podia correr e com isso foi possível demonstrar o que ocorria em uma área pequena. Nossa pesquisa demonstrou isso. E em uma arena grande tinha ativação, porque eu fiz também. Foi um trabalho muito importante e foi indicado como um dos melhores papers do ano 2015”, prosseguiu. O estudo foi publicado e tem uma carta de um pesquisador holandês falando sobre a importância desse trabalho.
Doutorado
Agora na segunda fase, no projeto de Doutorado, que é a continuação do mestrado, “acreditamos que existe uma inibição ativa dessa área que estudamos. Isso como sendo o ataque de pânico para uma área que vai inibir o eixo de estresse. Então, o que eu estou fazendo agora é legislando essa área que controla a ativação e desativação do eixo do estresse, estimulando na região do pânico. Então, lesiono e estímulo com a hipótese de que agora vai ter aumento dos níveis de hormônios do estresse, porque já não existe mais inibição”, acentuou.
O Doutorado foi iniciado em agosto de 2019 e a conclusão é outubro de 2023. “Estamos perto. Já testamos. Só falta agora analisar. Essa análise será em São Paulo. Este mês tenho quer ir para lá na Fundação de Incentivo à Pesquisa (FIP). A FIP é um órgão que sempre incentivou e ajudou muito nosso laboratório.
Córtex frontal
“Agora, a segunda fase do Doutorado vai resultar em uma documentação e uma publicação do trabalho, onde irá se demostrar o que sabemos que existe na ativação específica do córtex frontal, nessa região do cérebro do pensamento e da razão para esse núcleo, que é quando ocorre a alteração no nível de estresse.
“Nos tratamentos fobia, o paciente por exemplo, não pode chegar perto de uma barata. Mas, se ele passa por uma terapia e que seja ensinado a ele que nada vai acontecer, ele vai pegar numa barata. Então ele já vai preparado, que vai acontecer isso, e vai inibir a resposta emocional dele. Tudo isso já se sabe. Agora, o que a gente está querendo provar é que existe essa inibição. Já tem estudos que sugerem isso, mas não tem nenhum estudo que demonstrem isso num ataque de pânico”, disse Rúbia.
Existe muitos pacientes que tem ataque de pânico e tem fobia junto, enquanto que outros pacientes não. “Então, uma possível explicação para esses pacientes que desenvolvem fobia junto com o pânico, é que não existe essa inibição ativa. O ataque de pânico, ao invés de ser mais um ataque que pode acontecer com muitas pessoas, se torna um ataque de pânico associado a fobia, tornando os pacientes altamente incapacitantes, que não podem sair de dentro de casa, não conseguem mais lidar com a vida normal”, disse a pesquisadora.
O tratamento terapêutico para o pânico é a psiquiatria e a psicologia junto à terapia. É um trabalho conjunto. “Então, o que a gente poderia ajudar é na explicação a ativação do eixo. Isso sim poderia seguir uma linha terapêutica. Nesse momento o trabalho é exploratório. Poderíamos colaborar com os pacientes nessa ajuda terapêutica, afim de ensinar e explicar do que ele está sofrendo, de passar de relações de quase morte, e ao ir no médico com urgência e emergência, dizendo que está tendo um ataque cardíaco e que vai morrer, é um ataque de pânico. É bem angustiante”, prosseguiu.
“O que é muito interessante no nosso laboratório e a questão do optogenetico, que foi considerada a técnica deste Século, que é a estimulação através de um vírus. Você coloca um vírus na área que você quer, esse vírus é específico para o neurônio e vai estimula-lo. A implantação da optogenética aqui, é a primeira no Espirito Santo.
Com o sistema bem desenhado passa a ser possível se desenvolver uma terapia. “O que eu faço agora é uma estimulação elétrica, coloco o eletrodo e faço uma estimulação elétrica e visualizo uma área do cérebro, não estando usando especificamente um tipo de neurônio, mas uma área. Esse é o ponto mais importante hoje do laboratório. A gente está meio travado porque perdemos dois pesquisadores muito importantes, já que a FAPES (Fundação de Amparo à Pesquisa) não aprovou o projeto, e ao perder os pesquisadores, acabamos perdendo o dinheiro para desenvolver a pesquisa, mas não o conhecimento. Só falta de dinheiro agora para resolver isso na segunda metade desse ano. Ela conclui dizendo que todas as teorias utilizadas são do professor orientador Luiz Carlos Schenberg.
Quem é o professor orientador:
Luiz Carlos Schenberg possui graduação em Ciências Biomédicas e Mestrado e Doutorado em Fisiologia Geral, pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Realizou Pós-Doutorado nos Departamentos de Fisiologia (ICB-USP) e Estatística (IME-USP) da Universidade de São Paulo, e no Departamento de Fisiologia da Universidade de Birmingham (Inglaterra). Atualmente é professor Associado da Universidade Federal do Espírito Santo. Em colaboração com o professor. Frederico G. Graeff, realizou estudos pioneiros sobre o papel da transmissão serotonérgica na matéria cinzenta periaquedutal na mediação dos transtornos de ansiedade, dando início a uma linha de pesquisa que envolve mais de trinta laboratórios em nosso país. Tem experiência nas áreas de neurofisiologia e psicofarmacologia, atuando principalmente nos seguintes temas: comportamentos de defesa, ansiedade, síndrome do pânico, estresse, depressão e respostas autonômicas e neuroendócrinas dos comportamentos de defesa. Em 2014, foi editor convidado (Guest Editor) do número especial do periódico Neuroscience and Biobehavioral Reviews (FI/2014, 10,3) sobre abordagens translacionais do transtorno do pânico. É revisor ad hoc do Neuroscience & Biobehavioral Reviews; Molecular Psychiatry; Psychopharmacology; J. Psychopharmacology; Psychiatric Research, British J. Pharmacology; Psychological Medicine; Brain Stimulation; Behavioural Brain Research; Physiology & Behavior; Pharmacology, Biochemistry & Behavior; Hormones & Behavior; J Neuroendocrinology; Neuropsychopharmacology; J. Pharmacy & Pharmacology; Central Europe J. Biology; Brazilian J. Medical & Biological Research; Psychology & Neuroscience, Brazilian J Psychiatry e Anais da Academia Brasileira de Ciências. As informações foram coletadas da plataforma Lattes.