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Pesquisadora encontra carta de Bolsonaro de 2004 publicada em sites neozistas

A revelação da pesquisa da antropóloga Adriana Dias, uma caçadora digital de nazistas, foi feita pelo portal de notícias The Intercept e levou ao entendimento de que a carta e o banner confirmam o entendimento de que a base do bolsonarismo é neonazista

Cartas de Bolsonaro a sites neonazistas em 2004 são localizadas por pesquisadora | Foto: Reprodução/The Inttercept

A pesquisadora, antropóloga social professora da Unicamp, Adriana Dias, disse que as provas de que os grupos neonazistas apoiam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) há pelo menos 17 anos foi por acaso. Ela contou que realiza há 20 anos pesquisas sobre grupos neonazistras no Brasil e que estava em sua casa, em Campinas (SP), quando precisou consultar o seu arquivo. Para isso pediu ao seu marido que buscasse um site que ela havia  utilizado em 2006.

Ela narrou que ao encontrar esses sites de ódio, nutre o hábito de imprimir o conteúdo e entra em contato com os provedores e solicita que o conteúdo seja retirado. Assim, vai montando um arquivo.  “Eu abri em uma página aleatória e ali estava o nome de Jair Bolsonaro. O material é uma prova irrefutável do apoio de neonazistas brasileiros a Bolsonaro quando o hoje presidente da República era apenas um barulhento e improdutivo deputado. A base bolsonarista é, há quase duas décadas, composta por neonazistas”, contou.

“Na busca ela detectou que pelo menos três sites diferentes de neonazistas trazem um banner com a foto de Bolsonaro – com link que leva diretamente ao site que o atual presidente da República tinha na época – e uma carta em que Bolsonaro  parlamentar afirmava: “Ao término de mais um ano de trabalho, dirijo-me aos prezados internautas com o propósito de desejar-lhes felicidades por ocasião das datas festivas que se aproximam, votos ostensivos aos familiares”.

Entrevista da pesquisadora ao portal The Intercept |Vídeo: YouTube

“Existência de meu mandato”

O mais estarrecedor vinha depois: “Todo retorno que tenho dos comunicados se transforma em estímulo ao meu trabalho. Vocês são a razão da existência do meu mandato. ” A única dúvida que ficou é se Bolsonaro enviou a carta através de seu gabinete em Brasília ou apenas para as pessoas que administravam os sites neonazistas. Mas uma coisa chamou atenção da pesquisadora Adriana Dias: a mensagem não foi publicada em canto nenhum da internet além dessas páginas.

O portal The Intecerpt conta foi procurado um servidor de carreira que ocupou um cargo de comando na administração da Câmara para saber como a casa arquiva e-mails enviados e recebidos por parlamentares e como, eventualmente, poderíamos legalmente acessá-los. Ele disse que o conteúdo dos e-mails é tratado como informação pessoal e, portanto, não pode ser fornecido o conteúdo através da Lei de Acesso à Informação, sendo isso possível somente através de decisão judicial, como um mandato de busca e apreensão. O funcionário acrescentou que o backup existe, desde 1995.

O The Intercept conta que buscou outras alternativas, como a busca de um processo na Justiça Federal em Minas Gerais sobre um neonazista preso por ter registrado, em foto, o momento em que ele simula o enforcamento um morador de rua. Durante a busca e apreensão em sua casa, policiais encontraram uma carta enviada a ele por Jair Bolsonaro. Foi solicitado por e-mail, entre 29 de abril e 7 de junho último, ao procurador Carlos Alexandre Ribeiro de Souza Menezes uma entrevista, mas ele não deu resposta sobre o processo que tramita em sigilo no Tribunal Regional Federal da 1a Região, em Brasília.

Reprodução de carta enviada por Bolsonaro ao site neonazista Econac |Reprodução/The Intercept

Elogios a Hitler

Jair Bolsonaro já elogiou as qualidades de Hitler, já tirou foto com sósia de Hitler, já disse que o holocausto poderia ser perdoado. Seu ex-secretário especial da Cultura reproduziu, no início de 2020, em discurso, falas, ambientação e postura, um vídeo copiando o político nazista Joseph Goebbels. Seu assessor especial, Filipe Martins, é réu por fazer um gesto de white power em uma sessão do Senado, narrou o The Intercept

Na última semana passada, Bolsonaro e vários membros de seu governo receberam sorridentes a deputada alemã Beatrix von Storch, do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), neta do ministro das Finanças de Hitler, o homem que liderou os confiscos dos bens dos judeus enviados para os campos de concentração e extermínio durante a ditadura do Partido Nazista. A conclusão da publicação é que a base do bolsonarismo é nazista.