“Políticos vão, os oceanos ficam”, Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, na abertura da Conferência dos Oceanos da ONU em Lisboa
Representando o Espírito Santo, pesquisadores do Projeto Meros do Brasil, desenvolvido no Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes) da Ufes, estão participando da Conferência dos Oceanos 2022 das Nações Unidas, que começou nesta última segunda-feira (27), em Lisboa, e prossegue até a próxima sexta-feira, 1º de julho. Mais de 130 países participam. Além da assinatura de um novo tratado para o manejo sustentável dos oceanos, a Ufes assinala que será lançada a Rede de Conservação Meros do Atlântico. A cerimônia de abertura e o primeiro plenário do evento pode ser visto na ONU Web TV clicando aqui.
No caso específico do Projeto Meros do Brasil, ao qual a Ufes está atuando, a universidade capixaba diz que a iniciativa internacional objetiva a proteção da espécie Epinephelus itajara, popularmente conhecida como peixe mero. O evento – organizado pelo Projeto Meros, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental e aprovado pela ONU – busca a colaboração e integração de diferentes instituições internacionais de pesquisa para a conservação de ambientes marinho-costeiros. O peixe mero pode alcançar 2,5 metros de comprimento e pesar 400 quilos. No Brasil, a espécie é classificada como criticamente ameaçada de extinção.
Na Ufes, o grupo de pesquisa do Ceunes foi criado em 2008, e atua em conjunto com outras instituições nacionais de ensino, pesquisa e extensão, como as universidades federais de Santa Catarina, do Pará, de Pernambuco e de Alagoas. Associadas a outras instituições brasileiras e internacionais de investigação do mar nas Américas, na Europa e na África, elas formarão a Rede de Conservação dos Meros do Atlântico.
Apresentação
A proposta de criação da Rede será apresentada pelo Projeto Meros do Brasil, integrante da Rede de Conservação da Biodiversidade Marinha (Rede Biomar), que, através de outro evento paralelo da Conferência dos Oceanos, nesta quarta-feira, 29, mostrará o seu planejamento integrado para conservação de espécies e habitats para o período de 2021 a 2030.
“A Conferência dos Oceanos, organizada pela ONU, permitirá que o Projeto Meros do Brasil possa lançar a proposta de construção de uma rede que reúna pesquisadores e instituições de pesquisa em busca de soluções para a conservação dos meros e, assim, preencher lacunas de conhecimento e, também, expandir e fortalecer a nossa atuação em todo o Atlântico”, assinala o professor e pesquisador do Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas e do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical do Ceunes Mauricio Hostim, coordenador do projeto no Espírito Santo.
Segundo ele, com a criação da Rede será possível identificar o status de conservação do peixe mero em diferentes regiões do Atlântico. O projeto de pesquisa e extensão atua com os laboratórios de Pesca e Aquicultura, de Genética e Conservação Animal, e de Ecologia de Peixes Marinhos. Para mais informações acesse www.merosdobrasil.org.
Evento reúne mais de 130 nações
Na abertura do evento, que reúne em Lisboa mais de 130 nações, o secretário-geral da ONU, António Guterres agradeceu aos “governos de Portugal e do Quênia”, ressaltando que são dois países com “longa tradição marítima”, por organizarem a conferência. O chefe da ONU disse que partilha com os seus concidadãos portugueses uma especial afinidade com o mar. Ele citou o poeta Fernando Pessoa: “Deus quis que a terra fosse toda uma, que o mar unisse, já não separasse. Faço, pois, votos para que esta Conferência represente um momento de unidade e aproximação entre todos os Estados-membros, gerado em torno dos assuntos do mar e da proteção e preservação dos Oceanos”.
António Guterres lamentou que o oceano não foi valorizado e atualmente, o mundo enfrenta o que ele chama de “Emergência Oceânica”. Para isso, é preciso “mudar a maré”, uma vez que “o aquecimento global está levando as temperaturas do oceano a níveis recorde, criando tempestades mais frequentes e mais fortes”. O secretário-geral citou vários problemas: aumento do nível do mar, acidificação dos oceanos, branqueamento dos corais, degradação de manguezais e poluição. Guterres afirmou que “quase 80% das águas residuais são descartadas no mar sem tratamento” e por ano, “8 milhões de toneladas de plástico vão parar nos oceanos”.
Lixo plástico
Segundo a ONU, os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra e concentram “cerca de 80% de toda a vida terrestre”, além de “gerar 50% do oxigênio que necessitamos e absorverem 25% de todas as emissões de dióxido de carbono”. Em retribuição, os seres humanos depositam, por ano, mais de 11 milhões de toneladas de plásticos nos oceanos, como destaca o ministro da Economia e do Mar de Portugal. Ao ser entrevistado pela ONU News em Lisboa, António Costa Silva lamentou esta deterioração.
“Como sabemos, o estado em que os oceanos se encontram é um estado que é muito mal. Nós temos tido a deterioração do sistema oceânico do nosso planeta e continuamos todos os anos a depositar mais de 11 milhões de toneladas de plástico no oceano, temos muitos dos ecossistemas que estão ameaçados. Portanto, eu espero muito por essa conferência, para que ela possa arredondar num plano de ação global, que depois pode ser declinado regionalmente a nível dos vários países, das várias plataformas que têm de ser mobilizadas”. Além da poluição dos mares, a pesca excessiva é um problema que precisa ser combatido em todos os continentes.