O documento ainda contempla mobilizações de povos de terreiro. O levantamento está à disposição de consulta pública no novo site do Ginga-UFF, onde é permitida a busca e o download de informações filtrados por temas e regiões
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O grupo de pesquisa Ginga, da Universidade Federal Fluminense (UFF), lançou um novo site que centraliza dados, relatórios e recursos educativos. A iniciativa surge como uma resposta à dificuldade de coletar dados sobre conflitos étnico-raciais-religiosos, uma vez que as denúncias institucionais muitas vezes são subnotificadas, carecem de detalhamento quanto ao evento, ou não são encontradas facilmente para consulta pública.
O site disponibiliza um acervo de dados com notícias publicadas na imprensa sobre os povos de terreiro, com a possibilidade de o usuário filtrar as informações de acordo com seus interesses. O grande diferencial da plataforma é a possibilidade de baixar informações filtradas, permitindo que pesquisadores, ativistas, jornalistas, religiosos de matrizes africanas e público em geral possam acessar dados relevantes de forma rápida e eficiente.
Coordenadora do Ginga-UFF, Ana Paula Miranda explica que o portal reúne o relatório para download, uma base de dados interativa e atualizações sobre casos de racismo religioso. Há também materiais educacionais e um espaço dedicado à divulgação da mobilização social.
“Nosso site é uma ferramenta crucial para sensibilizar a sociedade e articular ações políticas. É mais um passo na luta contra o racismo religioso e pela valorização das religiões de matriz africana. Basta um caso para que as instituições observem os conflitos de natureza étnico-racial-religiosa e tenhamos a efetivação de políticas públicas como uma resposta do poder público. A pesquisa busca oferecer uma visão ampliada e detalhada de como essas violações aparecem nas mídias de todo o país, indo além das fontes oficiais. As análises fornecem dados valiosos para políticas públicas, fortalecendo a luta contra a intolerância religiosa e o racismo”.
Acervo digital
O acervo digital do novo portal é resultado de uma pesquisa iniciada em 2021 com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), visando observar a abrangência e visibilidade dadas pela mídia a atos de preconceito e discriminação contra terreiros e seus adeptos.
A partir de 2022, com o apoio do Congresso Nacional, em especial o ex-deputado David Miranda e a deputada Taliria Petroni (PSOL-RJ), o escopo da pesquisa foi ampliado para abranger todos os estados brasileiros, permitindo uma análise mais completa do panorama nacional. A pesquisa contribuiu para embasar as discussões na CPI da intolerância religiosa que aconteceram na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Dados sobre violações contra povos de terreiro
O estudo abrange o período de 1996 a 2023 e utiliza mais de 1.200 publicações digitais para mapear casos de intolerância e racismo religioso. Foram utilizadas mídias digitais que tivessem comprometimento com o conteúdo divulgado e respondessem por ele (autoria identificada, redação, assessoria de comunicação). A maioria das mídias selecionadas é resultante de sites e portais de notícias, 67,0%. Jornais online, (23,1%), blogs (4,6%), revistas online (3,5%) e rádios online (1,8%), complementam as fontes de busca.
No volume das 1.242 publicações, foram observados 512 eventos relacionados a conflitos de natureza étnico-racial-religiosa, contra religiosos, terreiros e monumentos ou locais com referência às religiões de matriz africana e quanto a religiões de matriz africana de forma generalizada, como discursos de ódio e ofensas.
O relatório aponta que as invasões e depredações de terreiros representam 25% dos casos mapeados, seguidas por agressões verbais (14,5%) e impedimentos de culto (9%). Em relação às lideranças religiosas, foram registradas 40 mortes violentas durante o período analisado, a maioria de homens. O impacto sobre as mulheres foi destacado, com 40,8% das vítimas sendo do gênero feminino, incluindo cinco mulheres trans.
Outro ponto de atenção foram os conflitos escolares. O levantamento identificou 29 incidentes relacionados à aplicação da Lei 10.639/2003, que inclui a história e a cultura afro-brasileira no currículo escolar. Além disso, a pesquisa revelou que o Rio de Janeiro lidera em casos de disputas envolvendo o domínio armado.
Além de documentar as violações, o relatório apontou 558 iniciativas de mobilização social e respostas públicas, incluindo atos culturais, campanhas de conscientização e proposições legislativas. Os atos e manifestações públicas somadas representam 23,8% das ações descritas, e são os atos locais os mais expressivos (18,6%). As denúncias nas redes sociais também se destacam como forma de manifestação pública (14,4%).
Miranda ressalta que o estudo vai além de mapear as violações, oferecendo subsídios importantes para a formulação de políticas públicas, pois retrata também toda a rede de mobilização no país. “O trabalho do Ginga é uma tentativa de dar visibilidade às violações e, ao mesmo tempo, destacar a força e a resistência dos povos de terreiro. Queremos contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva”.
Serviço:
Acesse o novo site do Ginga: https://ginga.uff.br/