“O desenvolvimento da agricultura celular não pretende substituir completamente a produção de carne convencional, mas ampliar a diversidade de possibilidades”, diz a pesquisadora da USP Mariana Hase Ueta
Diferentes debates sobre a “agricultura celular” cresceram nos últimos anos e abordam questões como a luta pela segurança alimentar, os caminhos para uma produção agropecuária sustentável e a conquista de melhores condições trabalhistas. Mariana Hase Ueta, doutora em Ciências Sociais pela Unicamp, pesquisadora de pós-doutorado na Wageningen University & Research e mentora do Sustentarea — Núcleo de Extensão da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, comenta que esse é um tema que costuma gerar curiosidade e confusão.
“O termo ‘agricultura celular’ se refere à tecnologia que, entre outros produtos, tem como resultado a carne cultivada”, explica a pesquisadora. Nos últimos anos, o produto produzido por essa tecnologia já apresentou diferentes nomes, como carne artificial, carne de laboratório, carne in vitro, carne celular, carne sintética, carne limpa e carne livre de abate.
Mariana reflete que, por ser uma tecnologia alimentar emergente, esse produto gera diferentes controvérsias, assim, os indivíduos que não são a favor do seu uso costumam chamá-la de “carne sintética”. Esse termo é utilizado para fazer uma oposição ao que seria tratado como “carne natural”, assim, a pesquisadora avalia que, apesar das discussões, “é importante que o debate sobre essa tecnologia seja o mais transparente possível para que os cidadãos possam fazer escolhas conscientes”.
É também importante considerar que, como esse produto ainda não está disponível nos mercados, pensar nos impactos que ele teria na economia e na vida dos indivíduos é difícil. Em termos ambientais, por outro lado, considera-se que a sua produção seria positiva para a redução da utilização de água e terra e para a diminuição da emissão de gases do efeito estufa. A questão animal também está diretamente ligada a essa discussão, uma vez que o abate animal não seria necessário para o consumo de carne.
Debate
“Outras vantagens seriam a produção de carne sem antibióticos e sem contaminantes como microplásticos e metais pesados”, adiciona a especialista. Apesar dos benefícios associados a esse processo, é importante avaliar que a mudança desse mercado possui efeitos nas vidas dos produtores de carne e dos outros trabalhadores que estão envolvidos nessa cadeia, sendo importante incluir esses indivíduos nesse novo cenário.
Por fim, Mariana destaca que, na maioria dos casos, os cidadãos acreditam que a sua compreensão sobre os sistemas alimentares reside exclusivamente na decisão de comprar ou não um determinado produto. Contudo, é importante que os consumidores compreendam os processos que estão envolvidos anteriormente, pois a opinião pública faz parte do processo de regulamentação.
Texto: Júlia Galvão, sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo/Jornal da USP