O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) está conduzindo estudos que buscam aumentar a tolerância do café conilon e da pimenta-do-reino às mudanças climáticas e ao déficit hídrico, potenciais ameaças à produção desses dois grandes vetores da economia agrícola do Espírito Santo.
Realizados na Fazenda Experimental do Incaper em Linhares, os experimentos apostam no uso de fitoprotetores para reduzir os danos ocasionados por seca e temperaturas elevadas. Testes com aplicação de melatonina têm se mostrado promissores.
Molécula usada em tratamentos relativos ao sono
“É a mesma molécula que ficou conhecida pelo uso em tratamentos relativos ao sono. Com suas propriedades antioxidantes e osmorreguladoras, além de sua capacidade de reduzir as espécies reativas de oxigênio (ROS), ela contribui significativamente para a eficiência da fotossíntese em condições de estresse hídrico”, explica a pesquisadora do Incaper Sara Dousseau, que coordena os experimentos.
Segundo ela, é a primeira vez que a melatonina está sendo testada em café do tipo conilon. No arábica, sua eficiência na indução de tolerância já foi provada. “O café é uma planta bastante tolerante à seca e às temperaturas elevadas. Mas com as mudanças climáticas, eventos de seca estão cada vez mais intensos e frequentes. Além disso, alguns municípios produtores têm baixa disponibilidade de água para irrigação. Por isso, buscamos uma solução para o enfrentamento dos estresses térmico e hídrico, que podem comprometer a produção”, afirma Sara Dousseau.
Pimenta-do-reino
No caso da pimenta-do-reino, além da melatonina, biofertilizantes com base de extratos de algas marinhas também são testadas como fitoprotetores. São usadas uma alga calcária (litotâmnio), extraída no Espírito Santo, e a Ascophyllum nodosum, uma alga importada, objeto de vários estudos que apontam que ela melhora a convivência com os estresses ambientais.
Para os testes, as plantas passam pelo método de déficit hídrico recorrente, com três ciclos de seca e reidratação. “No início de cada ciclo, a gente aplica essas moléculas indutoras de tolerância e avalia a fisiologia e desenvolvimento da planta”, explica Sara Dousseau.
Fase de pesquisa básica
Os estudos estão na fase de pesquisa básica, em que se identifica a molécula indutora mais eficiente e a dose a ser usada nas plantas. “No caso do conilon, já conseguimos definir uma dose ideal, que deu uma resposta boa para o desenvolvimento da planta e para a tolerância aos estresses”, revela a pesquisadora.
A fase seguinte é a de pesquisa aplicada, que é quando os estudos são levados a uma propriedade rural para a avaliação do desenvolvimento das plantas, e também de aspectos relacionados à produção e à qualidade do conilon e da pimenta-do-reino.
“Nessa fase, disponibilizamos ao agricultor essa tecnologia para a aplicação antes do estresse. O objetivo é que ele consiga passar por aqueles momentos de excesso de temperatura ou de restrições hídricas, minimizando os efeitos disso e mantendo a produtividade”, conclui Sara Dousseau.
Os experimentos são financiados com recursos de editais da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e do Consórcio Pesquisa Café, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).