Os golpistas contatavam seguidores da fé evangélica através das redes sociais e usavam uma falsa teoria denominada “Nesara Gesara”, induzidos a investir seus recursos sob a promessa de obterem rendimentos de R$ 1 octilhão (numero um seguido de 27 zeros)
Em nota distribuída à imprensa, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), informou que por meio da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária, vinculada ao Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (DOT/DECOR), deflagrou, na manhã dessa última quarta-feira (20), a operação denominada “Falso Profeta”. O objetivo foi dar cumprimento de dois mandados de prisão preventiva e dezesseis mandados de busca e apreensão, com o objetivo de combater organização que atua na prática de estelionato e outros crimes no Distrito Federal e em várias outras unidades da federação.
A investigação aponta que os suspeitos formam uma rede criminosa organizada, estruturalmente ordenada, hierarquizada e caracterizada pela divisão de tarefas, especializada no cometimento de diversos crimes como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e estelionatos por meio de redes sociais (fraude eletrônica), com o fim de obter vantagem econômica em prejuízo de milhares de vítimas no Brasil e no exterior que são induzidas a investirem quantias em dinheiro com a promessa de recebimento futuro de valores milionários.
Pastor evangélico bolsonarista
Um dos presos é o pastor evangélico bolsonarista Osório José Lopes Júnior, apontado pela Polícia como sendo o líder do grupo criminoso. Além do evangélico goiano, que é deficiente visual, e outros pastores ligados a ele, os investigadores cumpriram mandados contra ex-candidatos a deputados federais e ex-candidatos a prefeitos bolsonaristas.
O golpe, segundo a PCDF, consiste na conversa enganosa através de redes sociais (Youtube, Telegram, Instagram, Whatsapp, etc.), abusando da fé alheia, da crença religiosa e invocando de uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara”, para convencer as vítimas, em sua grande maioria evangélicas, a investirem suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias, com promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica.
Promessa de receber de volta R$ 1 octilhão
Foi detectada, por exemplo, a promessa de que somente com um depósito (“aporte”) de R$ 25 as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” o valor de um Octilhão de Reais, ou mesmo “investir” R$ 2.000 para ganhar 350 bilhões de centilhões de euros. O golpe pode ser considerado um dos maiores já investigados no Brasil, uma vez que foram constatadas, como vítimas, pessoas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades da federação, estimando-se mais de 50.000 vítimas. O valor de R4 1 octilhão equivale a 32.451 vezes o Orçamento do Brasil para 2023, que foi fixado em R$ 30.815.457.609,00.
De acordo com a investigação, iniciada há cerca de um ano, o grupo é composto por cerca de duzentos integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intitulados pastores, que induzem e mantêm em erro as vítimas, normalmente fiéis que frequentam suas igrejas, para acreditar no discurso de que são pessoas escolhidas por Deus para receber a “Benção”, ou seja, as quantias milionárias.
Como instrumento da fraude, os investigados constituem pessoas jurídicas “fantasmas” e de fachada simulando ser instituições financeiras digitais (falsos bancos), com alto capital social declarado, através das quais as vítimas supostamente irão receber suas fortunas.
E, para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados ainda celebram contratos com as vítimas, ideologicamente falsos, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil (BACEN) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
Empresas fantasmas
A investigação também apontou movimentação superior a R$ 156.000.000 (cento e cinquenta e seis milhões de reais), nos últimos cinco anos, bem como foram identificadas cerca de quarenta empresas “fantasmas” e de fachada, e mais de oitocentas contas bancárias suspeitas.
Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu em Brasília um suspeito de envolvimento no esquema, após ele ter feito uso de documento falso perante uma agência bancária localizada na Asa Sul, simulando possuir um crédito de aproximadamente R$17.000.000.000 (dezessete bilhões de reais). Porém, mesmo após a prisão em flagrante desse indivíduo, à época o principal digital influencer da organização criminosa, o grupo continuou a aplicar golpes.
Nessa nova etapa da investigação, em que participaram cerca de cem policiais civis, foi realizado o cumprimento de mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e quatro Estados – Goiás, Mato Grosso, Paraná e São Paulo. Também são cumpridas medidas cautelares de bloqueio de valores, bloqueio de redes sociais e decisão judicial de proibição de utilização de redes sociais e mídias digitais.
Além do DECOR, participaram da operação policiais do Departamento de Polícia Especializada, e das Polícias Civis dos estados de Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Os alvos poderão responder, a depender de sua participação no esquema, pelo cometimento dos delitos de estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa.
O que é a teoria fantasiosa “Nesara Gesara“
A teoria fantasiosa que prega o “Nesara Gesara” alega que a “elite dominante, também conhecida como o cartel bancário, os illuminati, o Khazar máfia, o Cabal, etc. esconderam intencionalmente a verdade metodicamente histórica da humanidade através de um sistema global de escravidão financeira através de sua Rede Global de Controle Corporativo.”
Com isso, diz que: “Por tudo isto, a implementação do Gesaraé necessária para parar e inverter o impulso de uma ação tão rebelde e flagrante contra a espécie humana. Uma aliança Multi-Entidade trabalhou durante muito tempo para acabar com o engano de Cabal e para restaurar a verdade universal e a justiça sem mais atrasos ou negociações.” Esses fantasiosos são os mesmos que afirmam que “ETs (extraterrestres) haviam invadido o Vaticano e palácios da Inglaterra para pegar ouro, que ficariam sob posse dos Estados Unidos. Os pastores presos diziam também que essa renda seria redistribuída, começando pelas pessoas que ajudariam no projeto da ‘Nesara Gesara’.”