As bets continuam tendo liberdade de fazer tudo o que quiser e bem entender, inclusive pagando cachês milionários a famosos, para que induzam pessoas pobres a se viciarem no jogo e gastar o pouco que tem, contraindo a doença ludopatia e deixando os mais pobres na total miséria financeira
Jogos de apostas aparentemente inocentes, as conhecidas bets vêm se transformando num grave problema de saúde pública, levando pessoas ao vício e endividamento. Legalizadas no Brasil em 2018 sem regulamentação adequada, as bets têm revelado sua face perversa, como .8 milhões de beneficiários do Bolsa Família, que entre janeiro e agosto último gastaram com pagamento em Pix mais de R$ 11 bilhões em apenas 56 das mais de 200 bets (o termo em inglês, do verbo to bet, apostar) em funcionamento no Brasil.
Os números foram calculados pelo Banco Central do Brasil (BCB) a pedido do senador Omar Aziz (PSD-AM) e entregues através de uma Nota Técnica oficial. “Recebi do Banco Central um estudo feito, é oficial, de quem está jogando nas Betis. De apenas 56 e tem mais de 200 Betis no Brasil, dessas 56, 8 milhões de famílias que recebem, o Bolsa Família jogam nas Betis. Esses de janeiro a agosto, eles gastaram mais de 11 bilhões, nessas 56 Betis. Estou falando só de PIX, fora cartão de crédito e outros meios de pagamento que eu não tive acesso ainda. Esse alerta que eu estou fazendo é que está destruindo as famílias”, diz o senador Azis em suas redes sociais.
Jogos de azar provoca doença reconhecida pela OMS desde 1980
O vício em apostas, também conhecido como ludopatia, é um problema reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1980. No Brasil, é um problema significativo, com estimativas mostrando que 12% da população já apostou pelo menos uma vez na vida, sendo o vício em apostas o terceiro mais comum, atrás apenas do álcool e do cigarro.
O vício em apostas é muitas vezes comparado à dependência química, como drogas e álcool, devido aos efeitos semelhantes que gera no cérebro. Quando uma pessoa aposta, especialmente em jogos de azar de alta velocidade, o cérebro libera neurotransmissores como a dopamina, que estão associados ao prazer e à recompensa. Essa sensação de prazer reforça o comportamento de jogo, levando a um ciclo vicioso de busca por mais apostas para alcançar a mesma sensação de euforia.
Os sintomas do vício em apostas incluem:
- Compulsão: Incapacidade de resistir ao impulso de jogar, mesmo quando consciente das consequências negativas.
- Preocupação Excessiva: Pensamentos constantes sobre jogos de azar e planejamento da próxima aposta.
- Aumento nas Apostas: Necessidade de apostar quantidades cada vez maiores de dinheiro para alcançar a mesma emoção.
- Falta de Controle: Incapacidade de interromper ou controlar o comportamento de jogo, mesmo diante de perdas significativas.
- Mentiras e Enganos: Mentir para familiares e amigos sobre o envolvimento com o jogo.
- Consequências Pessoais e Profissionais: Problemas financeiros e prejuízos nas relações familiares e no trabalho.
O tratamento do vício em apostas é multidisciplinar e pode incluir:
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Ajuda os indivíduos a identificar e modificar padrões de pensamentos e comportamentos disfuncionais associados ao jogo compulsivo.
- Grupos de Apoio: Como os Jogadores Anônimos, que oferecem apoio terapêutico coletivo e seguem um programa de 12 passos similar ao dos Alcoólicos Anônimos.
- Intervenções Médicas: Em alguns casos, medicamentos podem ser prescritos para estabilizar o humor e diminuir a ansiedade e a depressão associadas ao vício.
- O reconhecimento do problema é o primeiro passo crucial para o tratamento, e a busca por ajuda profissional é essencial para a recuperação. Além disso, o apoio da família e amigos é fundamental para o sucesso do tratamento.
Impactos Econômicos e Sociais
As apostas, especialmente as online, têm se tornado um problema significativo no Brasil, impactando negativamente a economia e o orçamento familiar, principalmente entre as classes socioeconômicas mais baixas. O vício em apostas, ou ludopatia, é um problema crescente que afeta a saúde mental e financeira dos indivíduos.
- Comprometimento do Orçamento Familiar: As apostas esportivas online têm levado a um desvio significativo de recursos financeiros, superando despesas com lazer, cultura e produtos pessoais. Entre 2018 e 2023, a proporção do orçamento familiar das classes D e E destinada a apostas aumentou de 0,27% para 1,98%, quase quatro vezes mais ( fonte pública ) . Esse desvio de recursos exerce pressão sobre a demanda por produtos essenciais, afetando a dinâmica econômica geral.
- Endividamento e Saúde Mental: O aumento do endividamento entre a população de baixa renda é uma consequência direta do crescimento das apostas. Além disso, o vício em apostas pode levar a problemas de saúde mental, incluindo depressão e, em casos extremos, suicídio.
- Impacto no Consumo e Economia: As apostas online impactam os padrões de consumo, com muitos apostadores reduzindo gastos em vestuário e alimentação para financiar suas apostas. Cerca de 64% dos apostadores usam sua principal fonte de renda para apostar, comprometendo suas finanças pessoais.
Recado aos famosos que induzem as pessoas humildes a se viciar
“O que me surpreende é que pseudos influencers ficam mentindo nas redes sociais e eles mostram, eles filmam ganhando, não é verdade. Para você ter uma ideia, de 100% que se joga, apenas 0,8% volta para o apostador e 99,2% fica com as Bets. E aí você vê ídolos, Influencers, induzindo as pessoas mais humildes, pobres, porque uma pessoa que recebe o Bolsa Família é uma pessoa pobre”, iniciou Azis em seu vídeo.
“E ela tem mal dinheiro para comer, mas está tentando a sorte porque ela está sendo influenciada por alguém. O que vocês estão fazendo é a mesma coisa que faz um traficante. Quando induz um jovem a usar droga para ele ser dependente químico e passar a vida toda a assaltar, roubar, para poder comprar droga porque ele está viciado e ele está doente. O jogo é uma doença”, prosseguiu.
“Vocês estão induzindo as pessoas a ficarem doentes, a fazer qualquer coisa para poder ter dinheiro para jogar, testar a sorte. Não faça isso. Vocês estão destruindo famílias. Vocês não precisam disso. E é necessário e já passei as informações ao procurador-geral da República, que a Procuradoria seja ágil e peça o Supremo, imediatamente, que todas as Bets que estão funcionando no Brasil, sejam suspensas até normalizar quem vai poder jogar, qual é a idade, qual é o poder aquisitivo dessas pessoas”, continuou.
“Porque, do contrário, nós vamos destruir famílias, estão destruindo famílias e vocês influencers, ou pseudo influencers, que ficam rindo da desgraça dos outros, induzindo as pessoas a jogarem e a perder o pouco que elas têm. Não faça isso. Vocês não precisam disso”, conclamou o senador do PSD do Amazonas.
Bets corrompem artistas, influenciadores e até emissoras de TV
No mandado de prisão expedido contra o cantor Gusttavo Lima, que foi cassado por um desembargador pernambucano, a juíza Andréa Calado da Cruz disse em sua decisão que as empresas Balada Eventos e Produções Ltda. e GSA Empreendimentos e Participações Ltda, de propriedade do artista, são suspeitas de ocultar valores de casas de apostas online. Conforme as investigações, os empreendimentos receberam, desde 2023, cerca de R$ 49,4 milhões da Esportes da Sorte e da Vai de Bet, que são investigadas em ações criminosas.
No entanto, as bets não só corrompem com grandes repasses de dinheiro os artistas e influenciadores das redes sociais, mas também emissoras de televisão, que são concessões públicas. Esse é o caso da Rede Globo e de seu jornalista esportivo aposentado, Galvão Bueno. Sem se importar com a destruição das famílias, o incentivo ao vício do jogo rendeu à Rede Globo R$ 240,9 milhões. Esse é o montante que a Betnacional paga para ser uma das patrocinadoras do futebol exibido naquela emissora.
Já Galvão Bueno foi transformado em “embaixador” da Betnacional, recebe cachês acima de R$ 1 milhão. No jornalismo ainda há o colunista do portal Metropoles, o jornalista Léo Dias, que se tornou “embaixador” da Bet7k, companhia que também tem o ex-jogador e apresentador de TV, Neto, em seu squad. Atualmente, por dinheiro, nomes como Carlinhos Maia, Gessica Kayane, Mc Daniel e Jojo Toddynho são divulgadores do Esportes da Sorte. Outro que tenta associar a sua imagem à jogatina é o cantor Léo Santana, que também virou “embaixador” de bets.
Outros funcionários de emissoras de TVs que tem convívio semanal ou até diário com o público, como apresentadores, também estão ganhando dinheiro para influenciar seu público, com o consentimento das emissoras concessionárias de serviço público. A bet Reals também está dando dinheiro para o apresentador da Rede Record, Rodrigo Faro, que foi transformado em seu novo garoto-propaganda da bet Reals, em contrato que gira em torno de R$ 5 milhões.
Além dele, o apresentador do The Noite, da rede de TV SBT, Danilo Gentili também se rendeu a este mercado e se tornou embaixador da Casa de Apostas. Outra conquista das bets foi transformar a apresentadora da Rede Band, Renata Fan, em sua “apresentadora.” Entre muitos outros ainda há ex-bailarina do Faustão, Aline Campos, que atua como “embaixadora” da BETesporte e foi escolhida para protagonizar nova campanha comercial da empresa.
“Os nossos embaixadores são estratégia fundamental para transmitir alguns dos principais valores da empresa, como a promoção do jogo responsável e o fomento à economia, à cultura e aos esportes”, afirma Vinicius Nogueira, CEO da BETesporte, companhia que também tem como embaixadora a cantora Raphaela Santos, conhecida como “A Favorita do brega pernambucano”. Ainda há a atriz Deborah Secco, que estrelou campanha com a Mr. Jack para as bets JonBet e Blaze.