Quem explica os motivos para os preços dos ovos terem praticamente triplicado em pouco mais de um mês é o diretor-executivo da Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (Aves), Nélio Hand. Leia a íntegra da entrevista nesta matéria
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A disparada no preço dos ovos de galinha no Espírito Santo e no Brasil, que ocorreu nos últimos dias, não tem para o consumidor comum uma explicação lógica. O Grafitti News percorreu lojas da Nutrivita, um dos maiores fabricantes de rações para animais do Espírito Santo, que produz diversas linhas de alimentos para aves de postura/corte, suínos, caprinos e bovinos, gatos, cães, entre outros, e conferiu que os preços são os mesmos desde novembro do ano passado. O mesmo ocorreu com o milho revendido em lojas comuns de rações.
Em supermercados do Centro de Vitória, Jardim Camburi e da Praia do Canto, o pente com 30 ovos brancos/grande está sendo vendido por R$ 31,49, o que faz a unidade custar R$ 1,05. Já a dúzia dos ovos vermelhos é “ofertado” no supermercado de Vitória por R$ 19,94, fazendo com que cada um custe R$ 1,66.
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Comparação com o ouro
Diante da cotação oficial de uma grama de ouro 24 quilates, nesta última segunda-feira (24) ser de R$ 543,77 e o valor do pente com 30 ovos passa a representar 6% desse valor. Com outro comparativo, o pente de 30 ovos representa 2,07% do salário mínimo atual de R$ 1.518,00.
Segundo informativo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a expectativa é de que o mercado de ovos “deverá se normalizar até o final do período da quaresma, com o restabelecimento dos patamares de consumo das diversas proteínas”.
O que diz os produtores de ovos capixabas
Diante dessas constatações, a reportagem procurou os donos das granjas produtoras de ovos do Espírito Santo, através da Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (Aves). E foi obtida a explicação dos produtores para o motivo que levou o preço do ovo praticamente triplicar em pouco mais de um mês. Quem falou em nome dos donos de granjas do Estado foi o diretor-executivo da Aves, Nélio Hand, veja a íntegra da entrevista no formato ping-pong:
O que aconteceu para que os preços de ovos terem disparado?
Nélio Hand/Aves: “Termos alguns fatores que consideramos que estão contribuindo com essa alta dos preços nas últimas semanas. Alguns são sazonais e outros são consequências de outros acontecimentos, como é o caso do custo dos insumos para a produção animal. para se ter uma ideia, o milho, que é o principal insumo da ração, subiu mais de 30% nos últimos tempos.
Outro fator que vem contribuindo para fortalecer o mercado de ovos, é o consumo que vem aumentando nos últimos tempos. Para se ter uma ideia, o consumo per capita de ovos no Brasil saltou de 242 em 2023, para 269 em 2024. Isso significa um aumento de 27 ovos per capita no ano, ou seja, a população brasileira está comendo mais ovos, aumentando o consumo em mais de 10%, aquecendo a demanda.
Mas destacamos vários fatores que somados ou não, podem explicitar a alta nos preços no ES e em todo o Brasil. É o caso do preço alto das carnes vermelhas que acaba favorecendo a substituição dessas proteínas, aquecendo o mercado de ovos.
As altas temperaturas têm prejudicado a produtividade das galinhas, e isso tem provocado menor oferta no mercado, consequentemente aumentando os preços.
O retorno às aulas neste mês de fevereiro também favorece o aumento do consumo de ovos que é incluído na merenda escolar, puxando a demanda.”
Grafitti News: Conforme o que pesquisamos em lojas de ração e venda de milho em Cariacica, Serra e Vila Velha, não houve aumento nos preços, que permanecem sendo agora no final de fevereiro os mesmos de novembro do ano passado. Então, não sendo os insumos a causa do aumento, o que ocorreu de fato para essa disparada nos preços?
Nélio Hand/Aves: Sim, os preços dos insumos têm contribuído para a elevação dos custos de produção, e consequentemente acabam contribuindo para a elevação dos preços. Em julho de 2024 a saca de 60 kg de milho custava em média R$67,00 para o produtor. Hoje, essa mesma saca de milho custa R$89,00, ou seja, uma elevação de quase 33%. Vale lembrar que o produtor capixaba não compra milho em lojas, e sim importa a maior parte do centro-oeste brasileiro, em decorrência do alto volume consumido.
Outros itens que compõem o custo de produção também seguem em alta recorrente, a exemplo dos combustíveis, embalagens e aditivos para rações também afetam o valor final do produto.
Grafitti News: Qual é a produção atual de ovos do Espírito Santo por mês e, se possível, um comparativo com o mesmo mês do ano passado?
Nélio Hand/Aves: A produção no ES em 2024 fechou em 5,2 bilhões de ovos, um volume 15% maior do que em 2023. Neste início de 2025 a produção está em torno de 15 milhões de ovos por dia, mostrando uma tendência da produção capixaba deste ano crescer 5% em relação a 2024.
Mesmo assim, a produção ainda está em recuperação no estado, em decorrência da crise com os custos, principalmente em 2021/2022. Os volumes produzidos hoje ainda são menores do que os registrados em 2020.
Grafitti News: Qual é a participação do Espírito Santo na produção brasileira de ovos?
Nélio Hand/Aves: Nossa produção representa 9,5% da produção nacional. Cerca de 40% desta é destinada ao mercado do Rio de Janeiro, seguido pela Bahia, com 23% da nossa produção e Minas Gerais com 9%. O mercado capixaba consome 21% da produção de ovos.
Estados do Nordeste, Centro-Oeste e até do Norte do país também consomem o ovo capixaba. Um pequeno volume do que é produzido é destinado à exportação (menos de 0,5%).