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Prefeito de Guarapari (ES) promove limpeza étnica e retira pessoas em situação de rua da cidade


Para promover a retirada de pessoas pobres que moram nas ruas daquele balneário, o prefeito Rodrigo Lemos Borges (Republicanos), contou com o apoio da Polícia Militar e da Polícia Civil do Espírito Santo. A Prefeitura justificou a ação alegando que são pessoas “ocupando e comprometendo a utilização de espaços públicos”


Prefeito de Guarapari (ES) promove limpeza étnica e retira moradores de rua da cidade | Foto: Divulgação/Prefeitura de Guarapari (ES)

A limpeza étnica voltada à eliminação de pessoas em situação de rua em Guarapari (ES), município localizado a 52 Km ao Sul de Vitória (ES), ocorreu na última terça-feira (11). A Polícia Militar e a Polícia Civil do Espírito Santo deram suporte à ação de retirada de pessoas pobres, em situação de rua, da área central de Guarapari, promovida pela atual gestão do prefeito de Guarapari, Rodrigo Lemos Borges (Republicanos).

Para executar a ação foi designada a empresária e vice-prefeita Tatiana Cozer Pinto Perim, também do partido Republicanos e que acumula o cargo de Secretária Municipal de Trabalho, Assistência e Cidadania (Semtac). Ela admitiu nas redes sociais estar promovendo uma “limpeza” em vídeos publicados pela própria Prefeitura em redes sociais. “Realizamos toda ação de limpeza e organização, porque o espaço pertence à sociedade de Guarapari como um todo”, assinalou a empresária-secretária e vice-prefeita.

“Impedindo a utilização adequada de espaços públicos’

De acordo com noticiário oficial da Prefeitura de Guarapari, em seu site, a Companhia de Melhoramentos e Desenvolvimento Urbano de Guarapari (Codeg) realizou a retirada de colchões e outros objetos que estavam impedindo a utilização adequada dos espaços públicos. “Nosso trabalho é devolver os espaços à população em condições ideais, garantindo que possam ser utilizados com segurança e higiene”, destacou o presidente da Codeg, Ubirajara Ribeiro.

O portal oficial daquela municipalidade traz declarações do oficial da PMES que participou da ação. “Segundo o tenente coronel Walter, a presença da polícia é fundamental tanto para garantir o andamento da ação quanto para reforçar a fiscalização”, diz o portal. “Sabemos que há um histórico de consumo de drogas ilícitas e pequenos furtos associados a essa população. Nosso papel é cuidar das pessoas, inclusive dos moradores em situação de rua, que muitas vezes vivem em condições degradantes”, afirmou o oficial da PMES.

Oficialmente a Prefeitura de Guarapari admite que a retirada das pessoas em situação de rua foi para “liberação de espaços públicos” | Reprodução: Prefeitura de Guarapari (ES)

Primeiro mandato eletivo

Tatiana Perim, de 49 anos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), está ocupando pela primeira vez um cargo eletivo público e ainda de acordo com o órgão eleitoral, possui bens no valor de R$ 155.771,39, incluindo uma loja. Essa loja é onde tem a empresa Sabores Comercio e Serviços Ltda, uma casa de lanches. A Receita Federal informa que essa empresa, fundada em 19 de dezembro de 2008, encontra-se ativa e que tem como atividade principal o código “56.20-1-03 – Cantinas – serviços de alimentação privativos.”

O portal oficial da Prefeitura de Guarapari ainda traz declarações do delegado da Policia Civil de Guarapari: “A Polícia Civil também participou da operação, auxiliando na identificação dos abordados. O delegado Raphael Ramos ressaltou que a ação contribui para um melhor entendimento da realidade dessa população”, narra o portal oficial da Prefeitura.

“Essa é uma oportunidade não apenas para garantir a segurança, mas também para conhecer essas pessoas, verificar seus documentos e identificar possíveis problemas com a Justiça. Além disso, temos estudos que relacionam furtos a essa população, e essa ação nos ajuda a coletar informações importantes para nosso trabalho”, diz a declaração do delegado reproduzida pela Prefeitura em seu site.  A ação ocorreu com abordagens no Radium Hotel, no Centro da cidade, e na Praça Philomeno Pereira Ribeiro, em Muquiçaba.

Pessoas em situação de rua próximos ao extinto Radium Hotel, em Guarapari, sendo expulsas com auxilio de policiais | Foto: Divulgação/Prefeitura de Guarapari (ES)

Pastoral da Igreja Católica rechaça limpeza étnica

A Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Vitória rechaçou a limpeza étnica promovida pelos gestores municipais do Partido Republicano em Guarapari. A medida, que ficou sob o comando da empresária e vice-prefeita foi vista como sendo uma “higienização social, criminalização do povo de rua, como forma de mostrar para a sociedade que a gestão está fazendo algo.”

Em artigo publicado na TV USP, o professor Ricardo Alexino Ferreira fala sobre gentrificação, “uma forma contemporânea de amenizar o uso da palavra higienização.” Segundo ele, o termo surgiu na Londres dos anos 1960, quando bairros ocupados por operários apresentavam potencial turístico e imobiliário. A especulação imobiliária levava então os empresários a expulsar os moradores para regiões distantes, com o intuito de atender aos benefícios da elite.

“Ou seja, a população indesejada, como os usuários de drogas ou antigos moradores pobres, será expulsa de toda aquela região, abrindo espaço para a chegada da elite. A isso pode ser dado o nome de gentrificação ou higienização”, explica Alexino Ferreira. Mas, adverte que uma cidade não é uma grande empresa, e a máquina pública tem um importante papel a cumprir no tocante a suas responsabilidades sociais. Nesse caso, a higienização se torna imoral e antiética.