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Professor Carlos Nobre diz que o Brasil regrediu em política para Amazônia sob o governo Bolsonaro

O professor Carlos Nobre é diretor do Instituto de Estudos Climáticos da Ufes | Foto: Reprodução/Arquivo

Em entrevista à rede de comunicação alemã Deutsche Welle (DW), o diretor científico do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o professor Carlos Nobre, recém indicado como novo membro internacional da Royal Society britânica, alertou para a gravidade do desmatamento da floresta amazônica. “Se a gente quer se salvar do risco de ecocídio climático do planeta, temos que manter o carbono na floresta”, disse ele à DW, que divulga suas matérias em 32 idiomas e tem cerca de 290 milhões de leitores semanais em todo o planeta. Nobre disse que o Brasil regrediu décadas em termos de política para Amazônia sob Bolsonaro, e a floresta tem muito mais potencial econômico de pé do que desmatada.

O ecocídio é um crime que acontece contra as espécies animais e vegetais do Planeta. “Nos últimos 3 anos e meio, com o atual governo federal do Brasil, vimos um descontrole proposital, uma política de expandir a agropecuária, de levar a mineração a tomar tudo ali – áreas indígenas, protegidas, tudo. Nós voltamos, por incrível que pareça, para as décadas de 1970 e 1980”, lamentou. Ele avaliou que o mundo vive um momento crítico com o desmatamento e não apenas no Brasil. Se pegarmos os índices de desmatamento de 2021, veremos que todos os países que têm Floresta Amazônica mostraram aumento do nível de desmatamento nos últimos anos”, afirmou.

E citou a vizinha Colômbia, onde houve uma pequena redução em 2019 e 2020, e depois aumento em 2021. Os únicos países que têm parte dessa floresta tropical que não tiveram aumento de desmatamento são países que ainda têm uma grande área com a floresta protegida: Suriname, Guiana e Guiana Francesa – mas é uma porção menor. Para quem desejar ler a íntegra da entrevista à DW na íntegra, é só clicar neste link.

Indústria criminosa do desmatamento

“Grande parte da Amazônia, 85% dela, é motivo de grande preocupação porque os desmatamentos cresceram nos últimos anos. Além disso, está crescendo a degradação florestal. Quando se retira a madeira – e no Brasil isso é quase que totalmente ilegal, é uma indústria criminosa –, se começa a abrir a floresta. Para chegar à árvore valiosa, um pequeno caminho é feito para a passagem do trator, que depois serve de entrada para outras pessoas que vão lá cortar e colocar fogo nas árvores – para eventualmente aquilo se tornar uma área sem floresta e dar lugar à pecuária ou agricultura”, acentuou.

Ele destacou que nos últimos 15 anos, a área degradada foi o dobro da desmatada. Na Amazônia como um todo – 6,5 milhões de quilômetros quadrados originalmente de floresta – já tivemos 18% desmatados e 17% degradados. “Quando a degradação aumenta muito, você expõe o solo. E temos o aquecimento global aumentando a temperatura, que já subiu 1,5 ºC em toda a Amazônia, e nas áreas desmatadas é ainda mais quente. Você começa a fazer a floresta que levou milhões de anos para ser muito resiliente ao fogo ficar mais inflamável”, disse.

Incêndio de origem humana na floresta

O professor ainda ressaltou que cerca de 95% – ou mais – do fogo na Amazônia têm causa humana, e que não é causado por descargas elétricas (raios). E hoje esse índice aumenta exponencialmente. O incêndio em áreas degradadas se propaga às vezes até por quilômetros. ‘Quando o fogo queima os troncos, aquelas árvores vão morrer nos próximos dois anos. Ou seja, elas perdem toda a vegetação, o Sol entra e começa a secar mais ainda tudo”, afirmou.

De acordo com a DW, Nobre é ainda pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e copresidente do Painel Científico da Amazônia (SPA, na sigla em inglês) e atualmente ligado ao Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP). Os alertas sobre o desmatamento na Amazônia remontam a 1990, quando deu os primeiros alertas ao mundo sobre a possibilidade da Floresta Amazônica perder sua capacidade de se regenerar devido ao avanço do desmatamento e ele confessa que jamais imaginou assistir à floresta se aproximar desse ponto.

Com relação ao reconhecimento da da Royal Society, em convidá-lo a integrar aquele seleto grupo de cientistas, ele disse à rede alemã de comunicação o seguinte: “Acho que é um reconhecimento da preocupação não só da ciência, mas de toda a população mundial, a brasileira inclusive, com o futuro da Amazônia”. “Sou um pesquisador que trabalhou muito, muito envolvido com experimentos científicos na Amazônia ao longo da minha carreira. Esses experimentos foram lá estudar como a floresta interage com o clima, como a biodiversidade interage com a manutenção dessa belíssima floresta”, completou.