Por Lorena Molter/Comunicação CFC
O professor doutor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP) – campi São Paulo (SP) e Ribeirão Preto (SP), Eliseu Martins, falou sobre o perfil do profissional do futuro no Conexão Contábil Nordeste. A palestra aconteceu na manhã da última quinta-feira (12), no modelo híbrido – presencial, em Teresina (PI), e com transmissão ao vivo. O evento foi uma realização do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e aconteceu nos dias 11 e 12 de maio, na capital do Piauí.
A abertura do bate-papo foi conduzida pela presidente da Academia Brasileira de Ciências Contábeis (Abracicon) e ex-presidente do CFC, Maria Clara Cavalcante Bugarim. A contadora ressaltou a importância do professor Eliseu Martins e lembrou que, durante o evento, o acadêmico receberia o Título Honorífico de Cidadania Teresinense. “A Câmara Municipal estará aqui conosco, professor, para que o senhor receba, no seio da nossa classe, essa homenagem”, celebrou.
Na ocasião, o professor Eliseu Martins elogiou a minuta, desenvolvida pelo CFC, que propõe as novas diretrizes curriculares para o curso de Ciências Contábeis. “Eu vi, na semana passada, o edital com as novas diretrizes curriculares e eu me perguntei o seguinte: ‘Gente, isso aqui está tão bom. O que é que eu vou falar lá?!’”. E completou dizendo que o documento proposto com as novas diretrizes está bem completo. “Está tudo lá”, disse.
Sobre o tema da palestra, Martins explicou que “Precisamos dar uma olhada um pouco no passado e entender a maneira de tentar nos orientar para o futuro. E orientar para o futuro é o inverso: é da frente para trás”, explicou. Assim, o professor da USP contou ao público parte da história da Contabilidade, apresentando as transformações e a evolução da profissão ao longo dos séculos.
Segundo o palestrante, a Contabilidade surgiu pelas mãos dos usuários, do proprietário, dos gestores, ou seja, daqueles que necessitavam desse serviço. “A Contabilidade no modelo completo de balanço, resultado, nasceu das mãos de mercadores, ou seja, a Contabilidade nasceu da mão de um ‘rei usuário’. Foi o usuário, empreendedor, empresário, que criou a Contabilidade para satisfazer às suas necessidades de controle de patrimônio e de mensuração do seu desempenho”, contextualizou.
Os “reis da contabilidade”
A caminhada da Contabilidade, no decorrer dos séculos, foi compartilhada com os participantes por Eliseu Martins. Em seguida, o acadêmico falou sobre os tipos dos chamados “reis da Contabilidade”. Entre eles, estão os gestores, os investidores, os credores e o Fisco. O professor doutor falou sobre qual deve ser a postura dos profissionais diante desses personagens. “Tudo o que nós fazemos na Contabilidade tem que partir dos nossos reis por uma razão muito simples: são eles que fazem a Contabilidade ser importante, não somos nós. Quem faz a Contabilidade ser importante é quem precisa da informação. Eles precisam da informação para gerir a empresa, para administrar, para controlar a empresa”, afirmou.
O foco nos clientes deve guiar a mentalidade dos contadores, de acordo com Martins. “Eles são os usuários, eles são os compradores dos serviços contábeis, eles são os reis. Não somos nós. Tudo o que fazemos na Contabilidade, nós temos que fazer olhando, exclusivamente, os nossos clientes, os que compram o nosso produto, por isso que eu falo: nós temos que olhar de frente para trás, é de lá para cá que a gente vem: ‘O que é bom para ele? O que eles precisam?’”, orientou.
Outro ponto abordado foi o aumento da necessidade de “cabeças pensantes” nas organizações. Segundo o palestrante, houve uma inversão na pirâmide: anteriormente, havia poucas pessoas que tomavam as decisões e vários funcionários executores. Hoje, no topo, há grande quantidade de profissionais responsáveis pelas decisões estratégicas. “Lá em cima, [está] uma quantidade, porque é lá que precisa, é a ‘cabeça pensante’, é quem realmente sabe avaliar, conhece a teoria, conhece a prática, tem olhar para o futuro, tem experiência, tem a vivência. Esses, lá em cima, é que realmente decidem e mandam. A pirâmide se inverteu. E na nossa profissão vem acontecendo a mesma coisa”, contou. Segundo Martins, essas lideranças sabem tudo o que ocorre nas empresas e são responsáveis pela tomada de decisão. O palestrante ainda alertou que os profissionais precisam possuir conhecimentos múltiplos, sob pena de não evoluírem, caso conheçam apenas a Contabilidade.
A importância da inteligência emocional
O domínio da tecnologia também foi um dos tópicos abordados por Eliseu Marins como essenciais aos contadores. No entanto, ele falou de outra característica para a qual nem sempre os profissionais estão atentos: a inteligência emocional. Sobre o tema, o professor foi incisivo. “Ou você aprende a ter autocontrole ou você não tem sucesso na profissão lá em cima. Você precisa aprender a compreender os diferentes tipos comportamentais das pessoas para saber entender, não só o seu comportamento, mas o comportamento dos outros, e a lidar com cada um conforme o seu padrão de comportamento. Comunicação é tudo. Contabilidade é comunicação, é transferência de informação”, ressaltou.
De acordo com o professor da USP, a falta de inteligência emocional compromete inclusive o crescimento profissional. “Se você não sabe entender de comportamento e lidar, se você é aquele nervosinho, se você for um gênio, talvez, seja até mantido dentro da empresa com todo o seu “irritadismo”, só que você vai ser o técnico daquele cantinho a ser explorado pelos outros porque você só vai fazer o que te mandarem fazer e vão te explorar aquele lado técnico, mas ascensão na empresa você não vai ter. Ou você sabe se relacionar muito bem com os seu pares, seu superiores e seus inferiores ou nem no escritório de contabilidade vai subir”, analisou. A palestra do professor Eliseu Martins também contou com a participação do presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Ceará (CRCCE), Fellipe Matos Guerra; da presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Piauí (CRCPI), Adriana de Almeida Paula Graça; e do presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Norte (CRCRN), Anailson Márcio Gomes.