Segundo a Secretaria de Saúde do Espírito Santo, foram mais de mil consultas nos primeiros sete meses de 2024, em cinco municípios
O Programa de Assistência Dermatológica (PAD), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em parceria com a Secretaria da Saúde (Sesa), visa à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento do câncer de pele no Espírito Santo, iniciou os mutirões de atendimento neste ano e já contabiliza mais de mil consultas nos primeiros sete meses de 2024, em cinco municípios. Ao todo, o PAD contempla o atendimento em 11 municípios capixabas em regiões estratégicas do Estado.
De janeiro a julho, o Programa realizou 1.181 consultas, 655 cirurgias e 3.131 crioterapias, nos municípios de Itaguaçu, Afonso Cláudio, Santa Maria de Jetibá, Vila Valério e Baixo Guandu. Os municípios de Itarana, Laranja da Terra, Domingos Martins, Pancas, São Gabriel da Palha e Vila Pavão receberão as equipes já neste segundo semestre.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer de pele é o tipo de displasia mais comum no mundo. Segundo o Instituto do Câncer (Inca), a doença corresponde a aproximadamente 31,2% de todos os tipos de câncer diagnosticados no País. No Espírito Santo, chega a 41%.
O PAD busca, ao longo do ano, auxiliar a população desses municípios na prevenção, no diagnóstico e no tratamento do câncer de pele, prestando atendimento gratuito a usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Os atendimentos acontecem, em sua maioria, na população de áreas rurais e remotas, principalmente em agricultores.
“É um programa resolutivo e de grande importância já que garante in-loco o tratamento clínico e cirúrgico do câncer de pele, sem necessidade de deslocamento. A inserção da saúde do trabalhador é primordial nesse processo, pois traz dados ao Estado e permite um olhar diferenciado a essa população”, ressaltou a professora Patricia Henriques Lyra Frasson, coordenadora-geral do PAD.
O Programa de Assistência Dermatológica (PAD) foi criado pela Ufes em 1987 com o objetivo de atender a essa população de forma gratuita e na região em que residem, sendo que a partir de 2020 ele passou a contar com a parceria da Sesa.
O câncer de pele e a saúde do trabalhador
A assistente social e coordenadora técnica do Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador Metropolitano (CEREST), Lilian Lopes Damasceno, da Regional Metropolitana de Saúde, destaca que o câncer Relacionado ao Trabalho (CRT) é uma doença de notificação compulsória, porém, subnotificada devido a vários fatores, entre eles a dificuldade de se estabelecer o nexo causal entre a doença e o trabalho.
“Com essas ações anuais, temos ampliado significativamente a visibilidade que envolve a doença, principalmente quando relacionada ao trabalho. Auxiliamos as referências técnicas municipais, no momento dos atendimentos, a estabelecer o nexo causal e, depois, a qualificação das notificações realizadas a partir dos resultados das biópsias. Assim, temos conseguido identificar o perfil da população atendida e planejar ações voltadas especificamente para esse público”, pontuou.
Ainda segundo a coordenadora, este ano a partir da ação em Afonso Cláudio, deu-se início à realização de notificação de casos de dermatose ocupacional, agravo que também é de notificação compulsória e de interesse da saúde do trabalhador. “Antes eram notificados apenas os casos de CRT, por uma questão de logística e de disponibilidade de profissionais, nos municípios, para a notificação”.
O enfermeiro Reginaldo de Oliveira Lage, que atua no CEREST Norte, destacou a importância do PAD para relacionar essas atividades de trabalho ocasionadas pela exposição ao sol com a incidência de câncer de pele nesses trabalhadores. “Depois da análise, conseguimos mais assertividade nas ações de prevenção, como o uso de protetor solar, roupas com proteção ultravioleta (UV), entre outros. Das amostras coletadas em 2023, na Regional Norte, 95% aparecem como câncer. Por isso, o trabalho de conscientização quanto à prevenção é a longo prazo, principalmente em relação aos mais jovens”, explicou Lage.
Para a coordenadora do CEREST Central, Zenir Darzilho, o apoio do CEREST às ações do PAD exerce além do registro das notificações, um papel educativo na abordagem das classes trabalhadoras que atuam expostas ao sol. “O município faz a triagem e o agendamento dos pacientes. Os profissionais da Ufes realizam o atendimento médico, a biópsia e o exame histopatológico, do material recolhido dos pacientes, que é feito pelo serviço de patologia do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam). Após o resultado dessa coleta, registramos a notificação no sistema, se é câncer de pele ou uma dermatose”.
Ela lembrou também que nem todos que recebem atendimento sabem que a lesão pode ser câncer de pele, então, baseado nos dados colhidos, marcam palestras e reuniões educativas nos municípios com agentes de saúde, garis, carteiros, motoristas, além dos trabalhadores rurais, para falar sobre os riscos da exposição ao sol para a saúde.
Proteção adequada
Daguiana Vervloet Cardoso, da localidade de Santa Rosa, em Baixo Guandu, foi atendida em junho passado. “O programa é muito bom, porque dá oportunidade de a gente estar se cuidando, buscando um meio de saber se estamos com algum problema de pele. É a segunda vez que venho para consulta, no ano passado não precisei fazer cirurgia, apenas queimei a lesão [crioterapia]. Desta vez, já precisei fazer a cirurgia. No meu caso, cheguei até aqui por meio do agente de saúde da minha região”.
A usuária do SUS sublinhou que após os procedimentos realizados sai com outro pensamento: “A gente sabe que precisa se cuidar, mas muitas vezes deixamos isso de lado por conta da rotina. Os médicos sempre perguntam se a gente usa diariamente protetor solar, chapéu, calça e blusa de manga comprida e falam da importância dessa atitude durante a exposição ao sol”.
Outro usuário atendido em Baixo Guandu foi Henrique Serjo, 81, morador do Centro. “Eu agendei a consulta na Unidade Básica de Saúde (UBS). Agora, fui consultado e passei pela cirurgia e deu tudo certo, fui muito bem atendido. Os médicos falaram sobre todos os cuidados que precisamos tomar para evitar a doença. Sempre trabalhei pesado na roça, desde os 8 anos, mas usava só chapéu”.
Como é realizada a ação
Desde de 2021, com o advento da Covid-19, a equipe do PAD-UFES realiza um treinamento on-line para os profissionais da Atenção Primária dentro dos municípios atendidos pelo programa para esclarecer quais lesões são suspeitas e saber identificar os casos. Posteriormente, são feitos os agendamentos dos usuários nas Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família (UBS/USF) e gerado um QR Code.
A coordenadora administrativa do PAD, Vera Lúcia Dttmann Jarske, ressalta que desde o princípio, o objetivo é o mesmo: levar o atendimento à população mais vulnerável, focando no câncer de pele.
“A gente conta com alguns patrocinadores, mas pela importância do programa estamos sempre tentando aumentar esse apoio para que possamos continuar oferecendo um atendimento cada vez mais qualificado. Já estamos informatizados, o que facilita todo o processo dos agendamentos e cadastros dos pacientes. A cada mês, batemos recordes de consultas, crioterapias e cirurgias, proporcionando saúde e bem-estar para pessoas, em sua maioria, sem condições. É uma entrega que envolve amor, empatia, respeito e um trabalho de excelência”.
Saiba mais
O PAD conta com uma equipe composta por dois cirurgiões plásticos e duas médicas dermatologistas da Sesa, além de 40 acadêmicos de Medicina da Ufes dois alunos da Ciência da Computação duas técnicas de Enfermagem, dois motoristas da universidade, além de uma coordenadora administrativa, um médico e um coordenador do PADTECH, responsável pela aplicação de novas tecnologias do PAD.
As equipes contam, em cada uma das ações, com profissionais e residentes em Saúde Coletiva do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi).
Como prevenir o câncer de pele:
- – A proteção solar deve ser constante desde criança, com roupas adequadas (com proteção UV) e protetores solares;
- – É muito importante conscientizar trabalhadores expostos ao sol para o uso diário de roupas com proteção UV e protetor solar;
- – Evite se expor ao sol das 10h às 16 horas;
- – É importante lembrar de não se expor às câmaras de bronzeamento artificial;
- – Também é primordial fazer o autoexame para observar o surgimento de novos “sinais”.