Vencedor dentre as ações de extensão do campus de Maruípe no Prêmio de Mérito Extensionista Maria Filina 2020, o programa de extensão Museu de Ciências da Vida (MCV) é o tema da reportagem desta semana na série sobre ações geridas pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex), publicada no portal da Ufes. Em atividade desde 2008, o MCV é uma iniciativa inédita no Brasil, possuindo o único acervo plastinado em exposição do país. O programa foi idealizado pelo professor Athelson Bittencourt, do Departamento de Morfologia, com o objetivo de difundir e popularizar as ciências da vida e do corpo humano.
As atividades do MCV são organizadas e realizadas por uma equipe que envolve 77 estudantes de graduação, dois de mestrado, dois de doutorado, quatro de iniciação científica e 70 extensionistas, além de seis professores. O público-alvo do programa é formado principalmente por docentes e alunos dos ensinos fundamental, médio e técnico, da graduação e da pós-graduação, além de profissionais das áreas da saúde e biológicas. Mais da metade (73%) das visitas é constituída por estudantes da rede pública do estado.
Bittencourt explica que o programa existe para que o professor, ao visitar o Museu com seus estudantes, seja protagonista da visitação, utilizando o local como o laboratório de sua escola, na Universidade. “Acreditamos que isso potencializa muito o processo de ensino-aprendizagem e a relação professor-aluno, ao mesmo tempo em que empodera o professor e compensa a carência por recursos didáticos disponíveis nas escolas públicas em nosso estado”, destaca.
Atividades
Os estudantes que compõem a equipe do MCV são divididos em grupos, sendo cada equipe responsável por uma área de atuação: atualização do acervo do Museu, cujas peças passam por um contínuo processo de recuperação e manutenção; dissecação, plastinação e preparação de peças; montagem da grade de funcionamento do MCV, organizando dias e horários em que o programa receberá visitação em seus diferentes projetos; e manutenção e atualização do site do Museu.
Além disso, por meio do programa, alunos da Ufes exercem o ensino, a pesquisa e a extensão de forma integrada, investigando novas técnicas de abordagem do conhecimento sobre a vida, viabilizando a implantação desse saber no MCV, desenvolvendo pesquisas nas áreas de plastinação e promovendo a divulgação científica, além de cursos, capacitações e eventos científicos.
As atividades de pesquisas originárias do programa de extensão Museu de Ciências da Vida giram em torno de abordagens como educação científica, línguas e letras, formação continuada de professores, biodiversidade, plastinação, anatomia, artes e química. Como parte das ações do programa, já foram desenvolvidos os projetos Orientação quanto ao uso de fármacos, Oficina desenhando no Museu e Antissépticos Ufes.
Itinerante
Nos dez primeiros anos, o programa de extensão não possuía um espaço expositivo fixo, amplo e confortável que pudesse agregar os materiais do acervo e as ações desenvolvidas. Por isso, o MCV atuava de forma itinerante, indo ao encontro do público tanto nas cidades da Grande Vitória e do interior do Espírito Santo, quanto em outros municípios do Brasil. Foram cerca de 35 exposições itinerantes, que registraram mais de 200 mil visitas.
Buscando ações mais efetivas e duradouras, em 2018 o Museu foi instalado permanentemente em seu atual espaço, no campus de Goiabeiras. “O projeto expositivo resultou de uma ampla pesquisa multiprofissional, que entregou à sociedade capixaba mais do que um equipamento cultural-científico de padrão internacional. Entregou um laboratório interdisciplinar e interprofissional que integra, em sua essência, a extensão, a pesquisa e o ensino”, diz Bittencourt.
Em seu espaço fixo, o MCV recebeu uma média de 400 grupos escolares e 16 mil visitas anuais com a exposição A Métrica do Corpo Humano, realizada entre março de 2018 e março de 2020, cuja temática correlaciona o raciocínio lógico, a matemática e a ciência do corpo humano, trazendo um olhar amplo sobre a existência. A mostra abordou aspectos de arte, história, biologia, evolução e saúde.
Plastinação
A tecnologia da plastinação, criada pelo alemão Gunther von Hagens, em 1977, é um método de preservação de espécimes biológicos que substitui toda a água dos tecidos por polímeros (silicone, epóxi ou poliéster), produzindo exemplares secos e manipuláveis, que ficam com aspecto mais próximo de sua aparência em vida.
A plastinação faz com que seja evitado o uso de soluções conservantes tóxicas e de odor desagradável, como o formaldeído, além de elevar a durabilidade das peças, característica útil para as atividades de pesquisa, ensino e expositivas. Segundo Bittencourt, a técnica, realizada no Laboratório de Plastinação da Ufes, permite um protagonismo nacional importante para a Universidade na área de museus de anatomia e correlatos.
Entre outubro de 2019 e fevereiro de 2020, o MCV participou da exposição Alma do Mundo, Leonardo 500 anos, organizada pela Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, onde o Museu apresentou espécimes anatômicos plastinados na Ufes. Em março de 2020, o Museu comemorou dois anos de atividade em espaço fixo com a realização do evento Multiplicação do conhecimento. Durante a mostra, foi lançada a peça Tomografia (imagem acima), composta por 190 fatias plastinadas de um corpo humano adulto, que atraiu mais de 1.200 visitantes só nos cinco dias após a estreia, além de grande repercussão na mídia.
Pandemia
Desde março de 2020, as visitações ao MCV estão suspensas devido à pandemia de Covid-19 e à suspensão das atividades presenciais nos campi da Ufes. No entanto, o programa de extensão não interrompeu completamente suas atividades e segue levando ciência, educação, cultura e entretenimento para as pessoas, agora em formato virtual. As ações podem ser acessadas por meio do canal do YouTube, do perfil no Instagram e na página do Facebook do Museu.
A equipe do MCV tem também organizado lives, tours virtuais no Museu e no Laboratório de Plastinação, cursos de extensão e palestras, além de servir de palco para a gravação de aulas de diversos cursos de graduação da Ufes.
Acessibilidade e inclusão
Bittencourt ressalta que um princípio fundamental da missão do MCV é a garantia de acessibilidade a todos, independentemente das limitações, buscando atender da melhor forma possível e com prioridade máxima os visitantes com deficiência.
Para receber adequada e confortavelmente os portadores de necessidades especiais, todas as peças do acervo são padronizadas com identificação adequada para facilitar o entendimento e a interatividade por meio de visitas táteis (imagem ao lado), audiofonadas ou com tradução em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
“A incorporação da tecnologia da plastinação ao acervo do Museu garantiu acesso aos deficientes visuais que, através do toque, podem conhecer com detalhes os espécimes anatômicos, sem qualquer restrição”, lembra o coordenador. Para os cadeirantes, o MCV oferece elevador e um espaço de circulação adequado.
Segundo Bittencourt, no Brasil ocorre uma segregação intelectual em que, de um lado, observa-se uma minoria com acesso pleno aos benefícios do mundo moderno (saúde, formação educacional, avanços tecnológicos, científicos e formação profissional de alto nível) e, de outro, uma maioria que vive à margem do conhecimento e refém de uma educação insuficiente para os dias atuais. “O reconhecimento desta lamentável realidade nos impõe, enquanto agentes transformadores, o dever de agir no sentido de mitigar as distorções culturais, bem como oportunizar aos cidadãos, em especial aos jovens estudantes, o crescimento e o desenvolvimento humanos, enquanto seres pensantes e críticos”, analisa.