Por meio de um projeto desenvolvido pelo Laboratório de Desenvolvimento de Produtos Farmacêuticos (LDPF) do campus de Alegre, estudantes da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Professor Pedro Simão aprenderam a produzir um sabonete líquido com agentes antimicrobianos capazes de combater bactérias, fungos e outros micro-organismos em geral, podendo ser usado em substituição ao álcool etílico 70%. Composto principalmente por extrato de romã, o produto foi testado através de ensaios in vitro.
O projeto Capacitação de estudantes do Ensino Médio e a produção de antissépticos para as mãos como artifícios para combater a pandemia e a infodemia causadas pelo SARS-Cov-2 no município de Alegre/ES é coordenado pela professora do LDPF Janaina Villanova, e conta com a participação da professora Juliana Resende, de estudantes do Laboratório de Microbiologia (LAM) e de integrantes do Grupo de Pesquisa em Saúde Humana e Animal (GPSHA) e do Grupo de Análise Microbiológica Aplicada (Gram), todos vinculados ao campus da Ufes em Alegre.
A produção do sabonete foi acompanhada por dez estudantes da EEEFM Professor Pedro Simão, bolsistas do Programa de Iniciação Científica Júnior – Pesquisador do Futuro (PIC Jr.). O programa, lançado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes), tem a proposta de possibilitar que alunos da rede pública de ensino básico capixaba tenham experiência com a pesquisa científica, despertando a vocação para a ciência, o desenvolvimento tecnológico e ações de inovação.
Os estudantes participaram de todas as etapas do estudo, desde a formulação até a análise microbiológica. Na fase final, eles ainda tiveram a oportunidade de visitar escolas de ensino infantil do município para repassar o modo correto de higienização das mãos e apresentar palestras sobre o tema.
Casca de romã
O objetivo da pesquisa, pensada a partir da pandemia da covid-19, foi desenvolver um composto alternativo ao álcool etílico para a higienização das mãos e superfícies. Villanova lembra que a comercialização de produtos para a higienização das mãos cresceu cerca de dez vezes durante o período mais crítico da pandemia. “Embora muito eficaz e com baixa toxicidade para uso humano tópico, o uso rotineiro do álcool etílico pode ressecar a pele das mãos e comprometer sua estrutura de barreira, contribuindo para infecções por microrganismos oportunistas. Nessa perspectiva, resolvemos avaliar a viabilidade do uso do extrato da casca de romã e sua incorporação no sabonete líquido”, explica.
Alvo de pesquisas do grupo coordenado por Villanova, o derivado vegetal de extrato total seco das cascas de romã apresenta diversas propriedades favoráveis frente ao combate a bactérias, fungos e outros organismos em geral, além de atividades cicatrizantes e antioxidantes. “Já incorporamos o extrato em diferentes produtos, como orabase, gel, creme e filmes poliméricos. Como todos os testes realizados in vitro ou em modelo animal foram positivos e promissores, resolvemos incorporar, também, no sabonete líquido”, detalha a professora.
Ao estabelecer o extrato de romã como principal componente, vários testes foram realizados para compor a fórmula final, além das avaliações de segurança, eficácia e funcionalidade. O produto apresentou resultados positivos e eficazes. Durante ensaios para avaliação da carga microbiana em superfícies ele apresentou resultados comparáveis ao do álcool etílico 70%, com ação inibitória sobre o crescimento de bactérias e fungos de todas as cepas testadas.
Sobre a comercialização do produto, a professora explica que o laboratório é destinado à pesquisa e que, para solicitar registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a fim de viabilizar a produção em escala industrial, são necessárias parcerias para transferência da formulação. “Temos interesse em estabelecer esse tipo de parceria e já participamos de processos de captação de ideias inovadoras”, afirma Villanova.
Texto: Ana Clara Andrade (bolsista de projeto de Comunicação)