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Projetos turísticos no ES podem estar na contramão das principais rotas do turismo mundial


Para preservar a natureza e evitar incômodo aos moradores, governos estão colocando dificuldades no acesso de grande número de visitantes aos ícones do turismo mundial, desestimulando com taxas de até R$69 mil por pessoa


Projetos turísticos no ES podem estar na contramão das principais rotas do turismo mundial | Fotos: Reprodução YouTube/Freepik e divulgação Governo do ES

O turismo é frequentemente considerado benéfico para as cidades, por gerar emprego, renda e elevar a atividade do comércio e dos prestadores de serviços, mas em alguns países e até mesmo no Brasil estão sendo impostas limitações e cobranças de taxas. O receio é que a destruição à natureza e o incômodo aos moradores não compensa a receita proveniente do turismo. No entanto, na contramão do que vem ocorrendo no mundo, no Espírito Santo não é observada essa tendência mundial.

Ambientalistas capixabas citam o interesse do atual Governo do Estado em privatizar os parques públicos estaduais, exatamente para atrair o turismo massivo apenas para o enriquecimento de poucos, como o grupo empresarial que for explorar a concessão dos parques públicos estaduais por 35 anos, renovada por mais 35 anos. Em Guarapari (ES), cidade que segundo o IBGE possui 124.656 habitantes, teve no último Réveillon mais de um milhão de turistas, o que gerou o caos na cidade e trouxe o incômodo da superlotação aos próprios turistas.

“Overtourism” e “turismofobia”

“Para aqueles que vivem nessas cidades, a situação é insustentável. São ruas lotadas, horas de espera em filas, preços exorbitantes para produtos e serviços básicos, entre outros. Até as paisagens não podem ser aproveitadas por conta do número de turistas. O resultado é um crescente turismofobia, que é a rejeição aos turistas”, diz uma análise sobre o tema feita pelo Jornal da USP, sob o título “Cidades sofrem com o ‘overtourism’ e turistas enfrentam retaliação de residentes e governos locais.”

Para o professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (Eca-USP), Mário Beni, diz que nem tudo está perdido e que há algumas soluções para esse problema. “Uma delas é o uso de instrumentos de controle que abarquem todo o trade de turismo para que seja possível, por exemplo, emitir alertas a agentes de viagem sobre a saturação das vendas de determinados destinos quando um limite de comercialização for atingido”, diz.

Outra possibilidade levantada pelo professor é investir em destinos menos conhecidos, buscando o turismo sustentável, que procura equilibrar as necessidades dos turistas com a preservação do meio ambiente e a qualidade de vida dos residentes locais. Um dos eixos centrais é respeitar a cultura local, uso de meios de transporte sustentáveis e apoio a pequenas empresas locais, com o intuito de contribuir para a redução do “overtourism” e promover um turismo mais consciente.

No arquipélago de Fernando de Norinha há limites para entrada de turistas e cobrança de taxas | Foto: Divulgação/Embratur

Em Fernando de Noronha há ingresso e taxa de permanência

Para preservar e evitar o turismo em massa, está em vigor um acordo para a gfestão da Ilha de Fernando de Noronha, formalizado em março de 2023 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), onde é estipulado um limite. Assim, a ilha somente pode receber um máximo de132 mil turistas por ano, limitado a 11 mil visitantes a cada mês.

Para colocar mais rigor, além da limitação de turistas, está em vigor a Portaria ICMBio Nº 3.052, de 1º de outubro de 2024, que estabelece a cobrança de taxa de ingresso. Para o público geral o ingresso tem o valor de R$ 373,00 por pessoa. Brasileiros têm desconto de 50%, custando R$ 186,50. Nos dois casos a validade é de 10 (dez) dias.

Somente há isenção dessa taxa para menores de 12 anos de idade e brasileiros (as) maiores de 60 anos de idade, mediante documentação comprobatória; os moradores regularizados de Fernando de Noronha – mediante apresentação da carteira de morador permanente/temporário, parentes em 1º grau de moradores regularizados de Fernando de Noronha – pai/mãe, sogro(a), filho(a), enteado(a) e cônjuge, mediante documentação comprobatória e prestadores de serviços autorizados.

Além da taxa cobrada pelo ICMBio, há a cobrança da Taxa de Preservação Ambiental, feita pelo Governo de Pernambuco. Atualmente a Taxa de Permanência é de R$ 101,33 por dia. Fazendo com que em cinco dias a taxa fique em     R$ 498,52, com 15 dias se eleva para R$ 1.673,89 e com a permanência em 30 dias chegue a R$ 7.145,46. A Lei estadual de Pernambuco estabelece no seu artigo 86, itens I, II e III, que “O valor da Taxa de Preservação Ambiental que se referir aos dias excedentes ao período inicialmente previsto, será cobrado em dobro.”

O Governo do Nepal está cobrando elevadas taxas para reduzir o turismo em massa no Everest, devido aos prejuízos que a multidão causa no ecossistema | Imagem: Reprodução YouTube

Taxa para subir o Everest foi elevada para R$89 mil por pessoa

O Governo do Nepal está anunciando que vai publicar em breve no Nepal Gazette, o diário oficial nepalês, a taxa taxas de licença de permissão para escalada dos 8.848 metros acima do nível do mar do monte Everest, o mais alto do mundo, vão subir dos atuais US$ 11 mil (R$65.329,00) por pessoa para US$ 15 mil (R$89.085,00). De acordo com noticiário do jornal The Katmandu Post, as revisões, que já foram aprovadas na reunião do Gabinete em 8 de janeiro, entrarão em vigor após publicação oficial.

A nova taxa será aplicada para o período da alta estação do montanhismo no Everest, que ocorre entre março e maio, que é quando ocorre por lá a Primavera. Fora desse período, a taxa individual de escalada no outono (setembro-novembro) foi elevada de aumentou de US$5.500 (R$ 32.697,50) para US$7.500 (R$ 44.587,50). Já no período mais perigoso, as estações de inverno (dezembro-fevereiro) e de ventos sazonais, quando ocorre a alternância entre a estação das chuvas e a estação seca (junho-agosto) a majoração foi de US$2.750 (R$ 16.343,25) para $3.750 (R$ 22286,25).

A explicação do governo nepalês para as taxas salgadas vem da falta de zelo dos que praticam o alpinismo com a natureza. De acordo com o governo nepalês, esses turistas acumulam lixo, incluindo latas de oxigênio descartadas, tendas abandonadas, embalagens de alimentos e principalmente dejetos humanos. Agora, quem quiser ir escalar no Everest terá de levar e trazer de volta, obrigatoriamente, sacos de resíduos biodegradáveis com as suas fezes. O motivo é o excesso de fezes humanas penetram na região de nascentes de rios e trazem riscos para a saúde das comunidades locais.

Lixo no Everest

Segundo o Governo do Nepal, as estatísticas do ano passado trouxeram desagrado.  Estiveram em 2024 cerca de 600 alpinistas, incluindo 200 estrangeiros, conseguiram chegaram ao cume, sendo que nos acampamentos de base tiveram a presença de cerca de duas mil pessoas, Oito alpinistas perderam a vida e as expedições geraram cerca de 100 toneladas de resíduos na região do Everest durante a temporada de escalada da primavera de 2024. Foram 27,99 toneladas de lixo queimáveis, 7,51 toneladas de resíduos recicláveis, 27,53 toneladas de resíduos humanos e 14,15 toneladas de resíduos de cozinha. Além dessa quantidade, o Exército do Nepal removeu mais de 11 toneladas de lixo.

A maior preocupação é com as fezes, já que o derretimento das geleiras em todo o planeta, por conta das “mudanças climáticas”, está fazendo ressurgir as fezes de alpinistas de décadas atrás. De acordo com o Ministério do Turismo do Nepal, que detém o banco de dados do Himalaia, conta que desde1953, quando o neozelandês Edmund Hillary e o guia nepalês Tenzing Norgay Sherpa escalaram o pico pela primeira vez, mais de 200 pessoas já morreram no lado nepalês do Everest até o ano de 2022.

Veneza cobra taxa de acesso à cidade antiga | Foto: Freepik

Corte ao turismo massivo

O turismo massivo já teve sua glória no passado, agora governos impõem restrições, como criação de taxas de conservação e o controle na quantidade de visitantes. Um caso emblemático é de Veneza, na Itália. A Prefeitura de Veneza, colocou em seu portal oficial os motivos da cobrança da taxa de acesso.  A cobrança ocorre para todos acima de 14 anos, que visitem a Cidade Antiga.

Para quem paga a taxa diária com antecipação de até o quarto dia anterior à visita, o valor é de €5,00 (R$30,89), mas se o pagamento não ocorrer após o quarto dia anterior à visita, o valor da taxa dobra e vai para €10,00 (R$ 61,79). Segundo a Prefeitura, “a taxa turística deve ser aplicada para todas as noites passadas até 5 noites consecutivas por não residentes em instalações de alojamento localizadas no território do Município de Veneza.”

Florença, o berço do Renascimento na Itália, é outra cidade que atendeu às reclamações dos moradores diante do excessivo número de turistas e colocou um freio através do bolso dos turistas. Entre as medidas adotas está a aplicação de multas que podem chegar a € 500 (R$3.087,55) para quem comer na rua em determinados endereços. També é proibido se alimentar sentado em escadarias, nos batentes das portas ou mesmo no chão da cidade, para evitar sujeira na cidade.

Amsterdã recebe por ano uma quantidade de turistas que supera em 20 vezes os habitantes e o Governo impôs restrição ao turismo exagerado | Foto: Divulgação/Turismo do Governo da Holanda

Vinte vezes mais turistas que moradores

Em Amsterdã, capital holandesa com cerca de um milhão de habitantes, quantidade de turistas chega a ser de 20 milhões por ano. Para barrar esse incômodo, o Governo holandês já tomou algumas providências, como cobrança de taxas e proibição de grandes navios cruzeiros, proibição da construção de novos hotéis em Amsterdã.e visitas guiadas o distrito da Luz Vermelha, uma das principais atrações da cidade.

O mesmo incômodo com o turismo em massa ocorre nas espanholas Ilhas Canárias, onde moram 2,2 milhões de habitantes e a quantidade de turistas passa de 15 milhões anuais. Os residentes já realizaram protesto exigindo a limitação na quantidade de turistas e o Governo estuda cumprir esse pedido da população. Em Barcelona, na Espanha, o governo local tomou medidas para frear a horda crescente de visitantes, para inibir as grandes aglomerações e poluição sonora. Agora, excursões só com o máximo 15 pessoas. Também está proibido aluguel de apartamentos de temporada.

Outra restrição ao turismo massivo ocorreu em Santorini, banhada pelo Mar Egeu, o arquipélago grego das Ilhas Cíclades está localizado na região sul da Grécia, entre Atenas e a grande ilha de Creta. Para minimizar o impacto de visitantes, onde a maioria chega em cruzeiros, o governo da Grécia colocou um limite no número de pessoas que podem desembarcar na ilha por dia. Agora, somente oito mil passageiros podem descer em Santorini. Este bloqueio busca minimizar o impacto da “invasão” nas pequenas vilas da região.

Monte Fuji, no Japão, cobra taxa e limitou em quatro mil visitantes por dia, para evitar estrago à natureza | Foto: Divulgação/Prefeitura de Yamanashi, no Japão

Exigências

Com milhões de turistas por ano, o Governo da Islândia passou a cobrar taxas, com o intuito de gerar fundos para programas de sustentabilidade e assim reduzir o impacto ambiental do turismo excessivo. Os hotéis e pensões cobram ISK 600 (R$ 25,37) por quarto, acampamentos e casas móveis ISK 300 (R$ 12,68) e navios de cruzeiro que fazem escala em portos islandeses ISK 1.000 (R$ 42,28) por passageiro.

Em Machu Picchu, no Peru, é cobrada a taxa de US$ 65 (R$ 385,14), com exigência de apresentar o passaporte. Machu Picchu abre às 6h. Os últimos visitantes podem entrar no máximo às 5h. O ingresso é comprado para um horário específico. Os visitantes devem entrar na cidadela com um guia turístico oficial de Machu Picchu .O guia terá que acompanhar os turistas do começo ao fim., porque é proibido circular por Machu Picchu sozinho. Cada visita durará no mínimo 2,5 horas e o máximo de visita é de 4 horas a partir da chegada do turista.

Para quem deseja conhecer as praias paradisíacas de Bali, na Indonésia, também há preocupação do governo com o turismo excessivo. Para tentar controlar isto e aumentar as reservas financeiras na preservação da ilha, deste fevereiro deste ano é obrigatório o pagamento de uma taxa turística de 150.000 rúpias (R$ 54,56). Além disto, os turistas estão proibidos de alugar motocicletas e subir nas montanhas de Bali.

Também com o intuito de preservar a natureza e evitar a depredação que o turismo em massa provoca, a Prefeitura de Yamanashi, no Japão, passou a cobrar uma taxa de acesso ao Monte Fuji de 2.000 ienes (R$ 75,80) por dia. E ainda estabeleceu um limite diária de um máximo de quatro mil visitantes por dia. A explicação é ”melhorar as trilhas nas montanhas”’ e ”aliviar o congestionamento” e ”melhorar o resgate.” Atualmente, o portal oficial do governo japonês  avisa que as trilhas no Monte Fuji estão fechadas por ser inverno.