O reitor da Ufes, Paulo Vargas, recebeu um grupo de trabalho composto por lideranças indígenas do Espírito Santo, professores e uma equipe da Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assistência Estudantil (Propaes) no Gabinete da Reitoria nesta terça-feira, 24. Na ocasião, o grupo entregou ao reitor uma minuta de resolução que institui o programa de vagas suplementares para estudantes indígenas, por meio de processo seletivo específico, nos cursos de graduação presencial da Universidade. O documento será encaminhado para apreciação nos órgãos colegiados superiores.
Participaram do encontro a deputada estadual, Iriny Lopes; o pró-reitor de Políticas Afirmativas e Assistência Estudantil, Gustavo Forde; a pró-reitora de Graduação, Cláudia Gontijo; o chefe do Gabinete, Áureo Banhos; e a professora Nicole Pinto, do Departamento de Ciências Sociais. Entre as lideranças indígenas, estavam presentes o educador e líder tupinikim Jocelino Quiezza; o presidente da Associação Indígena Tupinikim de Caieiras Velha (AITCV), Joel Pêgo; o vice-cacique da AITCV e presidente do Instituto Cocar, Leonardo de Souza; o educador e diretor da Escola Guarani Arandú Retxakã, Mauro Carvalho; e a educadora e líder tupinikim da aldeia de Pau Brasil (Aracruz) Dilzeni Vieira.
Na minuta, o grupo propõe a instituição de vagas suplementares para indígenas aldeados e que tenham concluído ou venham a concluir o ensino médio até a data da matrícula na Ufes. Os colegiados dos cursos de graduação presenciais da Ufes estabelecerão o número de vagas destinadas aos indígenas, garantindo o mínimo de duas vagas anuais por curso. Tais vagas serão adicionais às ofertadas como vagas iniciais dos cursos, e não serão consideradas no cômputo das remanescentes.
Os aprovados no processo seletivo específico serão submetidos às mesmas normas acadêmicas e regimentais aplicáveis aos demais estudantes. O documento propõe, ainda, que a Universidade ofereça políticas de acompanhamento pedagógico e acesso ao Programa de Assistência Estudantil da Ufes aos indígenas ingressantes.
Esperança
O diálogo entre as lideranças e o Gabinete da Reitoria começou em 2021, quando o reitor se reuniu com estudantes e indígenas para discutir o acesso e a permanência desses povos na Ufes. A partir desse encontro, foi constituído um Grupo de Trabalho com o objetivo de elaborar e apresentar a proposta agora formalizada.
Líder tupinikim, Jocelino Quiezza se mostrou esperançoso com a proposta. “Vemos isso como uma fogueira que precisa ser assoprada. Enquanto tiver a fumaça subindo, significa que tem fogo ali. Temos muitas comunidades indígenas com desejo de ingressar na universidade”, disse.
Presidente do Instituto Cocar, Leonardo de Souza entende que o documento pode servir para devolver aos indígenas o poder de ditar suas próprias narrativas, trazendo suas vivências para as áreas do conhecimento que desejarem seguir. “Por muito tempo fomos campo de estudo sem que nos entendessem”, afirmou Souza.
Para o reitor Paulo Vargas, a iniciativa nasce a partir de uma “dívida histórica” que as universidades têm em relação aos povos originários. “Cabe à Ufes, enquanto instituição, assumir esse compromisso e construir essas possibilidades de acesso. A Universidade só ganha nesse processo”, disse Vargas.
Na mesma linha, o pró-reitor Gustavo Forde lembrou, ainda, que a inclusão de indígenas nos cursos da Ufes faz parte do Plano de Desenvolvimento Institucional da Universidade (PDI 2021-2030), que institui as ações afirmativas como um dos sete desafios institucionais. “É uma política que vai fortalecer o projeto de Universidade que estamos construindo”, afirmou Forde.
Texto : Leandro Reis