O Boletim Anual de Gases de Efeito Estufa da Organização Meteorológica Mundial (OMM) relata um novo recorde em 2023, com as abusivas emissões de gases das atividades industriais baseadas em combustíveis fósseis, além de incêndios florestais
A falta de preocupação dos governantes mundiais nessa primeira metade do Século XXI em combater as emissões de gases efeito estufa, responsáveis pelas “mudanças climáticas”, vai ser lembrado pelas gerações futuras, que vão nascer em um mundo insuportável para se viver. Segundo dados do mais recente Boletim Anual de Gases de Efeito Estufa da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o planeta teve no último ano um recorde em poluição ambiental.
“O dióxido de carbono atmosférico (CO2) é o mais importante dos gases com efeito de estufa antropogénicos que impulsionam as alterações climáticas. De 2022 a 2023, a média anual de CO2 a atmosfera superficial aumentou 2,3 ppm. Este aumento marcou o décimo segundo ano consecutivo com um aumento superior a 2 ppm, continuando já tendência significativa. O CO2 está se acumulando na atmosfera mais rápido do que em qualquer momento da existência humana”, diz a OMM na inicial do seu estudo.
“Fora do caminho”
A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, diz que este novo recorde indica que o mundo está “fora do caminho para cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global bem abaixo de 2°C”. Para ela, “cada fração de grau de aumento de temperatura tem um impacto real em nossas vidas e em nosso planeta”.
Já a vice-secretária-geral da OMM, Ko Barrett, revela que por causa da vida útil extremamente longa do CO2 na atmosfera, o mundo está “fadado ao aumento das temperaturas por muitos e muitos anos”.
Em 2004, a concentração de dióxido de carbono era de 377,1 partes por milhão, enquanto em 2023 chegou a 420 ppm, de acordo com a Rede Global de Vigilância da Atmosfera da OMM. Isso representa um aumento de 11,4% em 20 anos, e de 151% em comparação aos níveis pré-industriais.
De volta a 5 milhões de anos atrás
A última vez que a Terra experimentou uma concentração comparável de CO2 foi de 3 a 5 milhões de anos atrás, quando a temperatura era 2-3°C mais quente e o nível do mar era 10-20 metros mais alto do que agora, afirma a OMM.
Os gases metano e o óxido nitroso, também responsáveis pelo efeito estufa, atingiram 1.934 e 336 partes por bilhão, respectivamente. Segundo Barret essas concentrações se refletem na velocidade do recuo das geleiras, aceleração do aumento do nível do mar e acidificação dos oceanos. Ele alertou também para o número de pessoas que serão expostas ao calor extremo todos os anos, a extinção de espécies e o impacto nos ecossistemas e economias.
A destruição tende se elevar
A análise dos dados mostra que pouco menos da metade das emissões do CO2 permanecem na atmosfera. Pouco mais de um quarto é absorvido pelo oceano e cerca de 30% pelos ecossistemas terrestres, embora haja uma variabilidade considerável por causa de fenômenos climáticos como El Niño e La Niña.
Durante os anos de El Niño, os níveis de gases de efeito estufa tendem a aumentar porque a vegetação mais seca e os incêndios florestais reduzem a eficiência dos sumidouros de carbono da terra. O relatório da OMM indica que num futuro próximo, a própria mudança climática pode fazer com que os ecossistemas se tornem fontes maiores de gases de efeito estufa.
Segundo a análise, os incêndios florestais podem causar mais emissões de carbono na atmosfera, e o aquecimento dos oceanos podem limitar a absorção do gás. Consequentemente, mais CO2 permaneceria na atmosfera, acelerando o aquecimento global.
O Boletim de Gases de Efeito Estufa complementa o relatório sobre a lacuna de emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Ambos foram publicados em antecipação à Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, COP29 em Baku, Azerbaijão.
CO2 já está mais da metade acima do que era antes do capitalismo
Logo na inicial do relatório, a OMM alerta que o nível atual de CO2 atmosférico já está 51% acima desse nível da era pré-industrial (antes de 1750), quando o sistema capitalista começou a se consolidar na Europa. Uma análise pormenorizada da variabilidade intra-ano demonstrou que o aumento anual de CO2 em 2023 foi de 2,8 ppm [3], que é o quarto maior aumento anual dentro do ano desde as medições modernas de CO2 iniciado na década de 1950.
A razão por trás deste aumento significativo de uma década em CO2 é historicamente grandes emissões de CO2 de combustíveis fósseis em as décadas de 2010 e 2020. estima-se que os fósseis globais as emissões de carbono dos combustíveis em 2023 foram de 10,0 0,5 Pg C ano.
Elevação de emissões de carbono = aumento de CO2
De acordo com a OMM, o aumento na atmosfera de CO2 está diretamente relacionado com a quantidade emissões de carbono, porque é o resultado líquido de emissões totais de carbono que ultrapassam o total dos oceanos e sumidouros de carbono da biosfera terrestre. Embora o crescimento a taxa de emissões de carbono dos combustíveis fósseis diminuiu na década recente em comparação com a década de 2000, o carbono dos combustíveis fósseis continua elevado. Isso resultou no maior crescimento médio década do CO2 atmosférico na recorde, 2,4 ppm ano-1, entre 2014 e 2023.
A organização da ONU afirma em seu documento que ao longo dos anos vem aumento o CO2 devido à elevada combustão de combustíveis fósseis. Além disso diz que., devido ao aquecimento do planeta, tem como consequência o aumento das emissões de CO2 proveniente de incêndios florestais. Com a redução das florestas, que absorvem o CO2, passa a ocorrer uma redução dos “sumidouros” de carbono terrestres.
El Niño e La Niña
Outro ponto abordado no documento da OMM é a transição em maio de 2023, do fenômeno climático La Ni Niña com duração de três anos para p El Niño;. “Ou seja, da fase fria à fase quente, o que causou uma temperatura média global recorde, o que coincidiu com o grande aumento de CO2 durante 2023”, diz trecho do relatório.
“O calor extremo é um fator de stress para muitos sistemas terrestres e pode causar absorção de carbono pelas plantas. A investigação ainda está em curso para estimar melhor as atribuições exatas de origem e sumidouro. A entidade ainda aponta que os oceanos mais quentes podem absorver menos CO2. Consequentemente, mais CO2 poderia permanecer na atmosfera, acelerando o aquecimento global. Esses feedbacks climáticos são preocupações críticas para as sociedades em todo o mundo”, garante a OMM.
Veja a seguir a íntegra do Relatório da OMM em arquivo PDF e no idioma inglês:
Relatorio-da-OMM