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Seguranças de Bolsonaro agridem jornalistas em Roma com violência, com apoio de policiais italianos

Agressão a jornalistas por seguranças que acompanhavam Bolsonaro em Roma | Foto: Reprodução/YouTube

Seguranças que acompanhavam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), acompanhados de policiais italianos, cometeram mais uma agressão contra a imprensa brasileira, inclusive com socos e empurrões. Bolsonaro é o maior estimulador das agressões desde que começou seu mandato no início de 2019. A ação criminosa gerou notas de repúdio de entidades de jornalistas.

Tudo começou com a convocação pela equipe de Bolsonaro para reunir os apoiadores bolsomions nas proximidades da Embaixada do Brasil, em Roma, e que resultou em violência. Agentes de segurança italianos e brasileiros, sendo que estes últimos a Embaixada brasileira não respondeu se eram militares ou milicianos contratados para atuar junto a Bolsonaro, empurraram, deram socos, arrancaram celular do jornalista Jamil Chade, do portal UOL, além de o segurarem com violência. Mas, permitiam que os bolsomions se aproximassem do presidente para fazer selfies.

Bolsomions

De acordo com a BBC News, o ato começou pacificamente por volta das 15h (horário local) e reuniu dezenas de pessoas no lado dos fundos da representação brasileira. Vestidos de verde e amarelo. Haviam cerca de 60 bolsomions e eles cantavam o hino brasileiro e gritavam palavras de ordem a favor do presidente enquanto aguardavam o presidente. Cerca de uma hora depois, Bolsonaro acenou da sacada e em seguida desceu para discursar para apoiadores reunidos numa praça do centro da capital italiana. O primeiro incidente envolveu jornalista Ana Estela de Sousa Pinto, da Folha, que relatou ter sido empurrada por um segurança quando aguardava em frente à embaixada brasileira na capital italiana, onde Bolsonaro está hospedado.

Vídeo feito pelo celular do jornalista Jamil Chade, que foi tirado de suas mãos e jogado no chão por seguranças | Víideo/Twitter

As agressões incluíram jornalistas da BBC, da Folha de São Paulo, do UOL e da Rede Globo, sendo que o repórter que fazia matéria para o programa Fantástico levou um soco no estômago. O jornalista Jamil Chade, que cobria o ato para o portal UOL, teve o celular arrancado de suas mãos, enquanto filmava a manifestação, por um agente de segurança italiano que não quis se identificar. Em seguida, o aparelho foi jogado no chão pelo policial durante a manifestação pró-Bolsonaro e recuperado pelo jornalista instantes depois.

Jornalista leva soco após tentativa de entrevista

Vídeo do portal Desmascarando mostra reação da Globo no programa Fantástico deste domingo sobre as agressões | Vídeo: YouTube

Antes mesmo do início do tumulto, uma assistente da Globo que esperava para gravar imagens do presidente sofreu intimidação e foi alvo de gritos de “infiltrada” por apoiadores do presidente. O correspondente da Globo, Leonardo Monteiro, questionou Bolsonaro sobre o motivo de o presidente não ter comparecido aos eventos do G20 na manhã deste domingo. “É a Globo? Você não tem vergonha na cara…”, disse Bolsonaro. Em seguida, Monteiro recebeu um soco no estômago de um segurança e foi empurrado com violência.

Como sempre é feito nessas agressões que tem o próprio Bolsonaro como o mentor intelectual do crime de agressão, os órgãos oficiais se calam. A BBC informou que  procurou a Secretaria de Comunicação da Presidência da República em busca de uma explicação, que não respondeu. Algumas equipes, como a da Rede Globo, registraram queixa em órgão da polícia italiana. Em nenhum momento, segundo relatos dos jornalistas, Bolsonaro reagiu às agressões feitas na sua frente.

Nota do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

SJSP presta solidariedade aos profissionais de imprensa agredidos por seguranças de Bolsonaro

O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo presta solidariedade aos profissionais de imprensa covardemente agredidos por seguranças de Jair Bolsonaro enquanto realizavam seu trabalho na cidade de Roma.

Inimigo da democracia e da liberdade de imprensa, Bolsonaro envergonha mais uma vez o povo brasileiro. Como se não bastasse o ódio destilado pelo presidente em suas aparições no Brasil, agora estende sua violência em agendas internacionais.

A defesa aos jornalistas não tem fronteiras. Continuaremos a lutar de maneira intransigente contra o autoritarismo e as seguidas tentativas de impedir o livre trabalho da imprensa.

Solidariedade, força e um grande abraço, Jamil Chade, Ana Estela de Sousa Pinto, Leonardo Monteiro e todas e todos os profissionais ameaçados em Roma neste domingo. Estamos à disposição para o que necessitarem.

Nota da Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos

Abraji repudia agressão a jornalistas brasileiros em Roma

Neste domingo (31.out.2021), ao menos cinco equipes de reportagem foram agredidas durante a cobertura de um dos passeios do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em Roma, na Itália, onde esteve para participar da reunião do G20. Segundo relato do colunista do UOL, Jamil Chade, o episódio de violência começou antes mesmo da aparição de Bolsonaro, com uma produtora da Globo sendo intimidada por pessoas que aguardavam o presidente, e a repórter da Folha de S.Paulo, Ana Estela de Sousa Pinto, sendo empurrada de forma violenta por um segurança.

Jair Bolsonaro retornava para o centro de Roma, quando decidiu se encontrar com apoiadores nas proximidades da embaixada brasileira. Após um breve discurso do presidente, diversos outros jornalistas também foram empurrados e agredidos por profissionais que faziam a segurança no local.

Ainda segundo o relato do colunista do UOL, minutos depois de o presidente deixar a embaixada, uma equipe de reportagem da GloboNews foi agredida por um segurança. O correspondente Leonardo Monteiro foi empurrado e recebeu um soco no estômago, no momento em que perguntou o porquê de o presidente não ter participado de alguns eventos do G20. De acordo com o G1, Monteiro também foi tratado com hostilidade por Bolsonaro. Ao tentar registrar a violência, Jamil Chade foi empurrado e agarrado pelo braço, além de ter o celular apreendido e jogado na rua.

A Folha de S.Paulo também tentou gravar a agressão, mas, segundo esta matéria da enviada especial, outro agente teria tentado arrancar o celular da repórter e a ameaçado. No relato da jornalista, entre as vítimas, estaria ainda uma equipe da BBC Brasil.

Ao questionar Bolsonaro sobre por que ele não participaria da Cúpula do Clima (Cop-26), em Glasgow, na Escócia, Jamil Chade ouviu em resposta: “Não te devo satisfação”. Acostumado a cobrir visitas de presidentes do Brasil ao exterior, o repórter afirmou nunca haver passado por situação semelhante. “É patético o fato de a imprensa ser agredida na cobertura de um presidente em Roma para o G20, em um domingo à tarde”.

A Abraji repudia mais esse ataque à imprensa envolvendo a maior autoridade do país. Ao não condenar atos violentos de seus seguranças e apoiadores a jornalistas que tão somente estão cumprindo seu dever de informar, o presidente da República incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal.

Atacar o mensageiro é uma prática recorrente do governo Bolsonaro que, assim como qualquer outra administração, está sujeito ao escrutínio público. É dever da imprensa informar à sociedade atos do poder público, incluindo viagens do presidente no exercício do mandato. E a sociedade, por meio do art 5º da Constituição, inciso XIV, tem o direito do acesso à informação garantido.

Diretoria da Abraji, 31 de outubro de 2021

Nota da Associação Nacional de Jornais

Repúdio à agressão sofrida por jornalistas

31 de outubro de 2021

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudia com veemência e indignação as agressões sofridas por jornalistas brasileiros na cobertura das atividades do presidente Jair Bolsonaro em Roma. A violência contra os jornalistas, na tentativa de impedir seu trabalho, é consequência direta da postura do próprio presidente, que estimula com atos e palavras a intolerância diante da atividade jornalística.

É lamentável e inadmissível que o presidente e seus agentes de segurança se voltem contra o trabalho dos jornalistas, cuja missão é informar aos cidadãos. A agressão verbal e a truculência física não impedirão o jornalismo brasileiro de prosseguir no seu trabalho. A ANJ espera que os atos de violência cometidos contra os jornalistas sejam apurados e os culpados, punidos. A impunidade nesse e em outros episódios é sinal de escalada autoritária.

Brasília, 31 de outubro de 2021.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS – ANJ