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Senadores protestam contra defesa de partido nazista feita por influenciador digital

Foto de 1930 na criação oficial do Partido Nazista no Brasil, hoje proscrito gera pena de até 5 anos de reclusão para quem quiser recriar

As declarações sobre a criação de um partido nazista feitas pelo influenciador digital Bruno Monteiro Aiub, conhecido como Monark, repercutiram negativamente entre os senadores. Eles foram às redes sociais repudiar as falas feitas num podcast nesta última terça-feira (8). “Discurso de ódio não é opinião; além de uma desumanidade acintosa, é crime previsto no artigo 20 da Lei 7.716/1989”, disse o senador capixaba Fabiano Contarato (PT-ES). As informações são da Agência Senado.

Senador capixaba Fabiano Contarato (PT) criticou a proposta feita por um influenciador digital | Twittter

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também protestaram. Para eles, discurso de ódio não se confunde com liberdade de expressão e as liberdades democráticas não podem ser usadas para defender “ideologias nefastas”. Até o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), um defensor do governo Bolsonaro no Congresso Nacional, mas que é judeu, também foi um dos que se manifestaram. Ele divulgou uma nota oficial, classificando o ato de “repugnante e criminoso”.

Veja o podcast onde Monark sugere recriar o Partido Nazista e é repreendido pela deputada Tabata Amaral (PSB)

“Defender o nazismo não é liberdade de expressão”

“Durante a transmissão do Flow Podcast, o apresentador Bruno Aiub, conhecido como Monark, defendeu a criação de um partido nazista no Brasil. Defender o nazismo não é liberdade de expressão. Defender um regime que assassinou seis milhões de judeus inocentes só por serem judeus, no maior genocídio da história, é um acinte repugnante e criminoso”, disse Alcolumbre.

“O estado nazista criou campos de extermínio, dedicados única e exclusivamente a executar inocentes. Tudo isso me marca de maneira profunda, dada as minhas raízes judaicas. A religião reforça meu elo com as vítimas dessas atrocidades, fazendo com que eu me solidarize e padeça duplamente, como ser humano e como judeu. Este é um país construído sobre o respeito à diversidade e o acolhimento ao diferente. Que nós sejamos capazes de manter viva a memória de um passado tão cheio de dor para jamais termos de testemunhar um holocausto novamente”, disse o parlamentar na nota.

Também presente a gravação do programa Flow Podcast, o deputado federal de direita Kim Kataguiri (DEM) disse que não concorda com a criminalização nazismo na Alemanha.

Constituição

A senadora Leila Barros (Cidadania-DF) disse no Twitter que defender um partido nazista fere não só a comunidade judaica, mas a Constituição. Ela lembrou os limites da liberdade de expressão. “Destilar preconceito, intolerância e desprezo pelas vidas é crime. A liberdade de expressão não pode ser usada como permissão para propagar discursos de ódio”, afirmou.

Já o senador Styvenson Valentin (Podemos-RN) classificou a atitude de Monark de abominável. Para ele, ou são pessoas ignorantes, que desconhecem a história, ou conhecem e se identificam com as ideias nazistas, o que é muito grave.  A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) também se revoltou com o ocorrido. Para ela, é repugnante usar a liberdade de expressão como pretexto para apologia a crimes abjetos como o nazismo. “Nazismo é genocídio; não é liberdade de expressão. Qualquer liberdade precisa estar condicionada ao respeito ao próximo, ao direito à coletividade”, escreveu.

Partido Nazista no Brasil teve 2.822 filiados, sendo 41 alemães residentes no Espírito Santo | Tabela: Reprodução

Partido nazista que já existiu teve filiados no ES

O Partido Nazista no Brasil existiu legalmente em terras brasileiras, entre 1930 e 1940 e chegou a ter 2.822 filiados, incluindo 41 pessoas no Espírito Santo. O partido somente aceitava como membro quem tivesse puro sangue ariano e ter nascido na Alemanha. Quem não tinha esse pré-requisito, mas era nazista, se filiava ao Partido Integralista. A proximidade ideologia era tanta, que no Rio Grande do Sul uma mesma loja abrigava a sede dos dois partidos.

Durante os 10 anos de existência, havia no Espírito Santo, segundo censo da época, 623 cidadãos nascidos na Alemanha e desses apenas 41 ou 6,6% dos alemães residentes no Estado. Na época, o Partido Nazista combatia os judeus e defendia o mesmo lema do atual presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro (PL) “”Deus, pátria e família”, além de ser contrários ao comunismo. Somente em 1989 o nazismo passou a ser criminalizado no Brasil. As penas para quem difundir o nazismo vão de dois e cinco anos de reclusão.

O partido da disseminação do ódio voltou sua artilharia contra os negros, mestiços, os próprios brasileiros em geral e os povos oriundos de outras nações, já que naquela ocasião a comunidade judaica no Brasil era relativamente pequena. A diversidade racial brasileira contrariava as ideias de raça pura difundidas pelo III Reich. Os nazistas residentes no Brasil consideravam os brasileiros um povo inferior devido ao seu caráter mestiço.