Conhecer os protocolos necessários a serem seguidos com pacientes suspeitos de dengue, entre outras doenças causadas por arboviroses, desde a atenção primária, é primordial para a investigação posterior da Vigilância em Saúde. Uma anamnese bem feita pelos médicos e enfermeiros ajuda a nortear de forma assertiva a doença, principalmente quando há óbito. Por isso, a Secretaria da Saúde (Sesa), por meio da Subsecretaria de Vigilância em Saúde e do Núcleo de Vigilância em Saúde da Regional Metropolitana, realizou nessa última terça-feira (26), no Auditório do CRE Metropolitano, a segunda edição da “Capacitação em Investigação de Óbitos de Dengue”.
A superintendente da Região Metropolitana, Cybeli Pandini, lembra a importância do diagnóstico, do manejo clínico e da assistência para pacientes com sintomas de dengue desde o primeiro atendimento nas Unidades de Saúde. “Quanto mais rápido o diagnóstico for feito, mais chances tem o paciente de se recuperar”, frisou.
A médica infectologista e epidemiologista da Sesa, Theresa Cristina Cardoso da Silva, explicou que, durante o pico deste ano, entre março e abril, foram notificados em média 10 mil casos de dengue por semana. Atualmente, a média fica em torno de 1,2 mil por semana. Apesar da queda de notificações, é necessário estar sempre alerta, principalmente com a proximidade do Verão e as altas temperaturas. Em 2023, até o momento, foram 84 óbitos por dengue no Estado.
Anamnese bem feita
Theresa Cardoso abriu o evento falando sobre “Epidemiologia das Arboviroses no Espírito Santo” e “Fisiopatogenia da Dengue”. Ela ressaltou a importância de realizar uma capacitação contínua, em cada município, cada hospital e cada Núcleo de Vigilância, direcionada a médicos e enfermeiros na assistência aos doentes da dengue.
“Existem muitas coisas que acontecem no dia a dia da dengue. Por isso, é necessário estar falando constantemente para os profissionais de saúde sobre a importância de sempre rever o protocolo e o prontuário”, explicou Theresa Cardoso.
A médica destacou em palestra como é essencial a realização de uma anamnese bem criteriosa do paciente com sintomas de dengue desde o primeiro atendimento. Existem alguns alertas que mostram sintomas específicos e que sugerem com bastante precisão o agravamento da doença. “É por isso que seguir o protocolo do Ministério da Saúde é o melhor a se fazer para que a doença não avance ao estágio mais grave e ao óbito”, disse.
Theresa Cardoso explicou que entre, esses alertas, um deles é a dor abdominal intensa ou a dor com a palpação do abdome, entre outros. “Seguir o protocolo e apontar todas as ações realizadas desde o início do atendimento no prontuário do paciente contribui para que os setores responsáveis possam fazer uma análise assertiva da doença e entender o cenário geral, a partir de cada paciente notificado”, completou.
Ela também falou sobre a necessidade da “Supervisão dos Casos Clínicos” realizando a investigação dos óbitos nos locais de ocorrência/residência e coletando as informações epidemiológicas, clínicas e laboratoriais; realizando entrevistas; consolidando todas as informações coletadas; discutindo o caso/óbito; encerrando o caso e elaborando um relatório. Durante a palestra, foram analisados mais detalhadamente alguns casos notificados em 2023.
Investigação da doença
A chefe do Núcleo de Vigilância em Saúde da Superintendência Regional de Saúde de Vitória (SRSV), Gabriela Maria Coli Seidel, corrobora com o fato de que essa capacitação contínua ajuda a entender melhor o cenário geral das doenças causadas por arboviroses, porque quando se tem um óbito decorrente da dengue, por exemplo, os municípios, muitas vezes, sentem dificuldade em saber exatamente o processo para dar início à investigação dos sintomas.
“Essa investigação nem sempre é fácil, porque muitas vezes os sintomas são parecidos com outras doenças. A capacitação é para médicos e enfermeiros entenderem o que é necessário investigar para confirmar ou descartar aquele caso e, principalmente, as causas do óbito”, explicou Gabriela Seidel.
Ela ressaltou a importância de sempre seguir o protocolo, evitando o agravamento da doença, além de registrar todas as ações realizadas com o paciente no prontuário, os exames que foram realizados, as medicações estabelecidas, os sintomas revelados, as comorbidades, o histórico familiar, a internação, entre outras coisas, principalmente se o mesmo vier a óbito.
Capacidade para exames
A bióloga do Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Espírito Santo (Lacen/ES), Tássia Costa Souza, durante a palestra “Exames laboratoriais das arboviroses”, afirmou que o laboratório conseguiu realizar um quantitativo expressivo de exames de biologia molecular em 2023 para o diagnóstico de dengue e outras arboviroses. “E continuamos preparados e com capacidade suficiente para dar continuidade aos exames”, acrescentou.
O evento também contou com a presença da médica patologista do Serviço de Verificação de Óbitos, Glícia Campanharo Malheiros, que falou sobre “Achados anátomo-patológicos na dengue”.