Governo do ES insiste em manter privatização idealizada pelo governo Bolsonaro no Polo Norte Capixaba, que compreende os campos petrolíferos terrestres de Cancã, Fazenda Alegre, Fazenda São Rafael e Fazenda Santa Luzia, localizados nos municípios de Linhares, Jaguaré e São Mateus
O interesse demonstrado pelo governador e vice-governador do Espírito Santo, respectivamente Renato Casagrande (PSB) Ricardo Ferraço (PSDB), para que o Governo Lula privatize e entregue os campos de exploração de petróleo no Norte do Estado a grupos empresariais, está provocando protestos entre os petroleiros capixabas. Os dois estiveram no início deste mês com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, onde formalizaram o pedido para que a privatização idealizada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prossiga no atual governo do PT.
“A conta simplesmente não fecha! A venda do polo norte capixaba resultará em menos royalties para estados e municípios (até 50% do que era destinado pela Petrobrás). Então porque o governo de Renato Casagrande quer tanto continuar essas vendas? Quais interesses não estão sendo deixados claros para a população?”, questionada e alerta o Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo através de sua conta no Facebook.
“A conta não fecha”
“Qual governador, em sã consciência e não pautado pelos interesses empresariais, abriria mão de metade dos royalties que seu estado e seus municípios têm direito? É isso que acontecerá com o ES com a venda do Polo Norte Capixaba. Sabe, Renato Casagrande é difícil te entender. De um lado, em uma das matérias, você diz que quer trazer mais investimentos para o Estado. Mas o teu vice @RicardoFerraco pede que as vendas continuem. Entre vocês, quem está enganado e quem está enganando?”, questiona o Sindipetro-ES.
“E sinceramente, governador, do Ricardo Ferraço, que tem um histórico de ser contra os trabalhadores, a gente até esperava isso. Agora do senhor, neste momento, não. Até porque, lembramos que quando o senhor estava desesperado para vencer o 2º Turno, o senhor assinou a nossa Carta Compromisso em defesa da Petrobrás no Espírito Santo. Naquela ocasião nós avisamos que, graças à uma resolução da ANP, as vendas de ativos para empresas menores fariam com que os repasses dos royalties caíssem de 10% para até 5%”, continuou a entidade no seu alerta.
“Falamos sobre todas potencialidades do ES no setor de Petróleo e gás e o quanto a Petrobrás investindo no Espírito Santo poderá trazer em termos de arrecadação, emprego e renda ao Espírito Santo. Aliás, avisamos o senhor mais de uma vez sobre os riscos ambientais que o Espírito Santo corre em deixar esses ativos como o Polo Norte Capixaba nas mãos de empresas que não têm o expertise necessário para atuar na área. E olha, senhor governador. Não reclame de falta de diálogo conosco. Nós tentamos por vários vezes nos reunir com o senhor e fomos ignorados”, prosseguiu o Sindipetro-ES.
“No mais, avisamos que seremos incansáveis na defesa da permanência de todos os ativos vendidos da Petrobrás no ES que foram vendidos de forma criminosa nos últimos anos. Jean Paul Prates, a decisão em breve estará na sua mão. Se o governador não quer defender os interesses dos capixabas, nós iremos! Não deixe vender o polo Norte capixaba. Estamos aqui para defender os interesses dos petroleiros, do Espírito Santo e da soberania energética do nosso país!”, concluiu a entidade na sua narrativa através do Facebook.
A entidade sindical ainda lembra que o pleito para que não seja feita a privatização idealizada pelo ex-presidente Bolsonaro não é novidade para a sociedade capixaba. A reivindicação prevê a retomada das fábricas de fertilizantes em território nacional, inclusive a Fafen, a ser construída em Linhares; a construção das rotas 3 e 4 do gás do Pré-Sal, com a 4 ligando o Terminal de Campos (RJ) ao Terminal de Gás de Cacimbas (UTGC), em Linhares; além das ações de privatização que estão em andamento, com o grupo apoiando a decisão recente do presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, em suspender as vendas dos ativos da companhia.
Mas, o Sindipetro-ES ainda deixa esse alerta: “Ricardo Ferraço diz ser favorável à venda do Polo Norte Capixaba por querer seguir como exemplo ‘o dinamismo’ que outras privatizações teriam trazido no norte do Estado. Gostaríamos de saber que diabos de exemplo é esse”
“A Seacrest, empresa que assumiu a exploração que Ferraço cita, não esconde de ninguém a fórmula ‘genial’ para aumentar seus lucros: reduzir drasticamente o pessoal e os salários dos funcionários que forem absorvidos. A redução de pessoal também levará à precarização dos empregos, com redução de benefícios como vale-alimentação e piora nas escalas de trabalho”, continua.
“Vale mencionar que a rotatividade de empregos causada pelos baixos salários aumenta o risco de acidentes humanos e ambientais. Em outras palavras, as empresas terceirizadas muito provavelmente terão redução nos valores dos contratos e o resultado será… mais desemprego, piora nas condições de trabalho e perda salarial”, conclui.
O que diz o outro lado
Em entrevista exclusiva concedida no último dia 4 deste mês, ao jornalista Abdo Filho, do portal A Gazeta, o vice-governador do PSDB do Espírito Santo, Ricardo Ferraço, deu a seguinte declaração: “Fomos lá pedir para que o programa de desinvestimento não pare. Demos o nosso testemunho de como isso está sendo importante para o Norte do Estado e como pode melhorar a dinâmica da economia naquela região de Linhares e São Mateus.”
O vice-governador do PSDB ainda confirmou detalhes do interesse de grupos empresariais que estão interessados em controlar as jazidas de petróleo do Norte do Espírito Santo. “As negociações estão em vários estágios, uns mais adiantados e outros menos. Queremos que os processos sejam mantidos. Jean Paul Prates se mostrou aberto ao nosso argumento e afirmou que tudo será analisado caso a caso, ainda não há qualquer definição. Disse que serão mantidos os processos que estiverem corretos e as empresas vencedoras forem capazes de assumir a empreitada. O Governo do Espírito Santo seguirá aberto”, assinalou o vice-governador do PSDB,