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Sítios arqueológicos no ES correm risco com desmatamento e expansão no uso da terra


“O crescimento de atividades antrópicas ao redor dos sítios reforça a importância de políticas de conservação e gestão do patrimônio arqueológico brasileiro, especialmente frente às crescentes pressões sobre os biomas” propõe cientista do MapBiomas


Sítios arqueológicos no ES correm risco com desmatamento e expansão no uso da terra | Foto: Arquivo/Iphan

Em todo o Brasil, onde há 27.974 sítios arqueológicos cadastrados pelo e georreferenciadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Espírito Santo desponta como sendo o terceiro Estado brasileiro onde há o avanço do desmatamento para uso da terra em empreendimentos agropecuários e construção imobiliária.  Segundo estudo feito por pesquisadores, 75,4% dos 550 sítios arqueológicos capixabas estão sob ameaça devido a aproximação no uso de terra.

O estudo, “Projeto MapBiomas ─ cobertura e uso da terra nos sítios arqueológicos no Brasil (1985-2023)” foi elaborado por uma rede colaborativa de co-criadores formado por ONGs, universidades e empresas de tecnologia organizados por biomas e temas transversais, o MapBiomas.

Espírito Santo

Segundo o Iphan, a maior parte dos 550 sítios arqueológicos estão situados na região costeira, sobretudo no Norte do Estado, nos  municípios de Linhares, São Mateus e Conceição da Barra. A região metropolitana de Vitória, principalmente Serra, Vitória, Vila Velha e Cariacica,  também apresenta um grande potencial arqueológico, onde há mais de 80 sítios arqueológicos cadastrados.

As primeiras pesquisas arqueológicas no Espírito Santo remontam ao início da década de 1940, quando os geógrafos Alberto Ribeiro Lamego e o Othon Henry Leonardos identificaram sítios monumentais de populações sambaquieiras, às margens do rio Itabapoana. Na mesma época, pesquisas amadoras foram realizadas pelo médico sanitarista Aldemar de Oliveira Neves. Em 1943, neves publicou na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo um artigo intitulado O ceramio de Sapucaia, onde relatou as escavações feitas em um sítio arqueológico situado no vale do rio Cricaré.

Mudanças no uso da terra no Brasil

Os dados também mostram mudanças no uso da terra ao redor dos sítios arqueológicos no país. Em 1985, as florestas predominavam (43,2%), enquanto a agropecuária ocupava 38%. Já em 2023, a agropecuária passou a ocupar a maior parcela, com 43,1%, e a cobertura florestal no entorno dos sítios caiu para 32,5%. Também houve um aumento de área de superfície de água no entorno dos sítios arqueológicos, em 1985 eram 4,9% da área e em 2023, 8,9%.

“Apesar da ocupação humana histórica desses sítios, agora podemos analisar as mudanças e os impactos da ocupação recente sobre essas áreas. A identificação desses sítios arqueológicos pode estar relacionada a pesquisas, obras de infraestrutura, como estradas, ou podem ter sido descobertos depois que essas áreas foram desmatadas. Além disso, ainda existem outros sítios arqueológicos que ainda não foram identificados”, explica Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas e pesquisadora do IPAM.

Mata Atlântica

A Mata Atlântica é o bioma com maior proporção de sítios em áreas antrópicas (63%), seguida da Amazônia (47,5%), Cerrado (41,1%), Caatinga (39,9%), Pampa (33,2%) e Pantanal (18,5%). A Amazônia, inclusive, apresentou o maior aumento proporcional de áreas antrópicas no entorno dos sítios, passando de 19% em 1985 para 47,5% em 2023.

“O crescimento de atividades antrópicas ao redor dos sítios reforça a importância de políticas de conservação e gestão do patrimônio arqueológico brasileiro, especialmente frente às crescentes pressões sobre os biomas” comenta Marina Hirota, cientista e professora da UFSC e do BrazilLAB/Princeton, que colaborou com esses dados.

Quanto à presença de áreas antrópicas no entorno dos sítios nos estados, o Acre é o estado com maior percentual (89,2%), seguido por Rio de Janeiro (76,1%) e Espírito Santo (75,4%). Em contrapartida, Roraima lidera em sítios com maiores áreas de vegetação nativa nos arredores (87,6%), seguido por Piauí (78,7%) e Amapá (69,4%). Acre, Rondônia e Pará foram os estados com maior perda de vegetação nativa ao redor dos sítios arqueológicos. No Acre, a área de vegetação nativa no entorno de 100m dos sítios arqueológicos diminuiu de 70% em 1985 para 10% em 2023.

Desmatamento

Segundo o estudo, entre2019 e 2024, 122 sítios arqueológicos no Brasil estavam em área com alertas de desmatamento nesse período. Desse total, a maioria estava nos biomas Caatinga (29), da Mata Atlântica (31), onde se situa o Espírito Santo, e da Amazônia (17).

Para o pesquisador Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas, o cruzamento desses dados permite evitar que o processo recente de ocupação humana cause danos ou destrua a história contida nesses espaços. Ele explica que, a partir desses dados, já é possível apurar que “quase dois terços [79 sítios arqueológicos] estão em áreas desmatadas para expansão das áreas agrícolas. No Rio Grande do Norte, estão 13 dos 19 sítios arqueológicos em alertas de desmatamento relacionados à expansão de projetos de energias sustentáveis [solares ou eólicas]”, analisa.

Diante dos dados, a cientista e professora da UFSC, Marina Hirota, que também colaborou com o estudo, faz um alerta. “O crescimento de atividades antrópicas ao redor dos sítios reforça a importância de políticas de conservação e gestão do patrimônio arqueológico brasileiro, especialmente frente às crescentes pressões sobre os biomas”, conclui.