Sob o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a cada mês um novo recorde no desmatamento da Amazônia é batido. Segundo os dados do sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta última sexta-feira (8), em junho uma nova área da floresta foi destruída no total de 1.120 quilômetros quadrados. Foi um novo recorde na série histórica e aumento de 5,5 % na área com alertas de desmatamento, em relação aos registrados em junho de 2021. No acumulado do ano, essa área já chega a 3.988 quilômetros quadrados, número 10,6% maior que o mesmo período de 2021, que já havia sido recorde da série temporal do sistema Deter-B.
O primeiro semestre deste ano teve quatro meses com recordes de alertas de desmatamento, o que é uma péssima notícia, pois existe muita matéria orgânica morta, e com o verão amazônico começando, período mais quente, com menos chuva e mais seco do ano, todo esse material serve como combustível para as queimadas e incêndios florestais criminosos que assolam a região, adoecem os moradores e dizimam a biodiversidade da maior floresta tropical do mundo.
Na série de 2022, que se encerra no fim deste mês, houve recorde de desmatamento em outubro, janeiro, fevereiro, abril e agora em junho. Os dados do Inpe desmontam o argumento do ministro Joaquim Leite, que afirmou em audiência na Câmara nesta quarta (6/7), quando provavelmente já tinha os números de junho, que estaria ocorrendo queda do desmatamento em razão da operação Guardiões do Bioma Amazônia, lançada em março.
Porto Velho, em Rondônia, foi o município com mais alertas de desmatamento em junho (2.450), seguindo por Lábrea, no Amazonas (2.071), Apuí, também no Amazonas (1.910), São Félix do Xingu, no Pará (1.779), e Altamira, também no Pará (1.481). A explosão do desmatamento no Sul do Amazonas, em municípios como o de Lábrea, se deve à grilagem na região, por conta da tentativa do ex-ministro da Infraestrutura e hoje candidato ao governo paulista, Tarcício Freitas, de pavimentar na marra a BR-319 (Manaus-Porto Velho).
Ex-ministro bolsonarista estimulou derrubada da mata para fazer estrada
A estrada corta uma das áreas mais intocadas da floresta amazônica e estudos indicam que seu asfaltamento quadruplicará a devastação. Segundo o Observatório do Clima (OC), a área de proteção com maior número de alertas é a APA do Tapajós, no Pará (571 avisos), seguida pela Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre (411), e pela Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará (262).
Os dados de alertas até o momento indicam, porém, que a taxa de desmatamento em 2022 deverá ultrapassar novamente os 10.000 km2. Em 2021, pela primeira vez desde o início das medições, em 1988, a Amazônia teve o quarto ano seguido de aumento na devastação. A esta altura, ainda não é possível descartar um quinto. Jair Bolsonaro é o primeiro presidente desde a ditadura militar a ver o desmatamento subir em todos os anos de seu mandato.
“Espanto será se o desmatamento não subir de novo em 2022”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Como a tragédia do Vale do Javari deixou explícito para o mundo inteiro, a Amazônia está sob o comando de gente que mata e desmata, com o incentivo de Bolsonaro e seus generais. A destruição faz parte de um projeto de governo implementado com muito afinco, que o próximo Presidente da República terá muito trabalho para reverter.”
Governo Bolsonaro não tem interesse de combater a destruição ambiental
“É mais um triste recorde para a floresta e seus povos. Esse número só confirma que o governo federal não tem capacidade, nem interesse, de combater toda essa destruição ambiental. Seja por ação ou omissões, o que vemos é uma escalada inaceitável da destruição da floresta e do massacre de seus povos e defensores”, declara Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil.
O destaque ainda mais negativo fica com o Amazonas, que pela primeira vez lidera a lista de estados que mais desmataram no primeiro semestre, com 1.236 Km2, o que representa 30,9% do total desmatado no período, seguido pelo Pará, com 1.105 Km2, (27,7% do total), e Mato Grosso, com 845 quilômetros quadrados (21,1%).
Enquanto o Executivo nada faz para cessar a destruição, o Congresso nos dá ainda mais motivos para nos preocupar. Projetos de lei como o 2.633/2020, que anistia grileiros, e o PL 490/2007, que abre terras indígenas para atividades predatórias, acrescentam mais uma camada de pressão sobre nossas florestas.
“Em vez dos parlamentares estarem focados em conter os impactos da destruição da Amazônia sobre a população e o clima, no combate ao crime que avança na floresta, e que não só queima nossas riquezas naturais, mas também a imagem e a economia do país, eles tentam aprovar projetos que irão acelerar ainda mais o desmatamento, os conflitos no campo e a invasão de terras públicas. Nosso país não precisa da aprovação destes projetos. O que precisamos é de vontade política para avançar no combate ao desmatamento, queimadas e grilagem de terras”, finaliza Rômulo.