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Sob protestos da esquerda, Bolsonaro recebe nesta terça coração de Dom Pedro com honras de Chefe de Estado


Para a historiadores, além de um “desrespeito à dignidade” de D. Pedro I, o pedido do coração é um gasto de dinheiro público desnecessário


Bolsonaro repete o gesto mórbido do ditador general Emílio Garrastazu Médici, que em 1972, na comemoração dos 150 anos de independência do Brasil, trouxe e exibiu o cadáver de Dom Pedro I | Foto: Igreja de Nossa Senhora da Lapa, Porto, Portugal

A “necrofilia”, como vem sendo acusado por intelectuais de esquerda do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), por insistir em trazer o coração do imperador Dom Pedro I para a comemoração dos 200 anos de independência do Brasil, será coroada nesta terça-feira (23) com a mórbida recepção que ele dará à relíquia do antigo imperador brasileiro. Ele dará uma recepção de chefe de Estado. Bolsonaro receberá o coração de d. Pedro I na rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, em cerimônia análoga à da visita de um presidente estrangeiro, de um rei ou de um primeiro-ministro.

Segundo citação feita pelo Diário de Notícias, um dos principais jornais de Lisboa, o ex-ministro da Educação de Dilma Roussef e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro foi uma das vozes da elite acadêmica da esquerda brasileira a criticar duramente a trasladação provisória de Portugal para o Brasil do coração de D. Pedro I (ou Dom Pedro IV de Portugal). O portal português citou declaração de Janine feita através do Facebook, onde ele criticou a iniciativa mórbida de trazer um coração “morto há quase duzentos anos e que quase ninguém vai querer olhar”. “Não deve ser bonito”, acrescentou.

Assista ao vídeo oficial da Irmandade da Lapa, no Porto (Portugal), que narra os detalhes de como o coração de Dom Pedro I (ou Pedro IV, de Portugal) é guardado | Vídeo: Canal da Irmandade da Lapa no YouTube

“Necrofilia”

O acadêmico também disse que a situação lembra a “necrofilia”, ao se recordar o que se passou há cinco décadas: “A extrema-direita é tão necrófila que, para os 150 anos de Brasil, pediu o cadáver de Dom Pedro I – que percorreu o Brasil antes de ser sepultado no Ipiranga, só não passando por Pernambuco, dada a revolta que ainda causava por lá devido à repressão à Confederação do Equador.” Agora, afirma o ex-ministro de Dilma, o atual governo de Bolsonaro pede o coração do imperador e “omite-se de qualquer outra iniciativa importante”.

Para as comemorações dos 150 anos da independência, em 1972, o então presidente militar, general Emílio Garrastazu Médici, coordenou o traslado do corpo de D. Pedro I de Portugal para o mausoléu do Monumento à Independência, em São Paulo, à margem do simbólico rio Ipiranga.

D. Pedro nasceu no Palácio de Queluz, que fica em Sintra, a 15 quilômetros de Lisboa, em outubro de 1798, e foi o quarto filho do rei D. João VI. Em 1807, acompanhou os pais na mudança para o Brasil, quando fugiram da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte. Em 7 de setembro de 1822 declarou a independência do Brasil, tornando-se imperador. Em 1832 regressou a Portugal, comandando as tropas liberais que derrotaram as absolutistas, lideradas pelo seu irmão, D. Miguel. Morreu (no mesmo quarto em que nasceu) em 1834, com 35 anos. Deixou um filho imperador do Brasil (D. Pedro II) e uma filha como rainha de Portugal (D. Maria II).

Testamento

Antes de morrer, o primeiro imperador do Brasil deixou em testamento a intenção de que seu coração ficasse no Porto, com o qual tinha intensa relação, pois lá viveu durante os 13 meses (de julho de 1832 a agosto de 1833) em que a cidade foi sitiada em uma disputa de poder entre ele e seu irmão Dom Miguel I durante as chamadas Guerras Liberais (1828-1834). De dez em dez anos (a última vez foi em 2015), a Prefeitura do Porto realiza a troca do líquido – uma solução mista de formol – usado para a conservação do coração.

Em tese são sete chaves que garantem a segurança, mas na verdade são necessárias cinco delas para acessar o recipiente onde o coração está. A primeira é usada para retirar a placa de metal cravada na porta do monumento, a segunda e a terceira abrem a rede por trás da placa, a quarta abre uma urna e a quinta, uma caixa de madeira, onde há uma espécie de guarda-jóias de prata que guarda o recipiente de vidro com o coração. Para garantir o máximo de cuidado com o órgão, seis pessoas participam do procedimento.

Conservação em formol

O coração está guardado em um vaso de vidro na igreja de Nossa Senhora da Lapa, na cidade do Porto, local escolhido pela sua família, a rainha portuguesa Maria II e está sob os cuidados da Irmandade dessa igreja e da Prefeitura do Porto. Para chegar até coração implica remover a pesada placa de cobre pregada na porta de madeira que fecha o monumento, usar uma chave de cerca de 15 centímetros e outras quatro até passar a grade onde se encontram a urna, o estojo e o vaso de prata dourada com o recipiente de vidro que conserva o coração em formol. “

Além do deslocamento de um avião da FAB com cabine especialmente pressurizada para trazer a relíquia, ainda haverá a mobilização de dezenas de servidores públicos, já que o coração vai ficar em uma caixa de vidro para exibição pública. Também haverá um forte esquema de segurança para evitar aglomerações próximas da vitrine e presença permanente de policiais. No dia 8 de setembro, quando a relíquia volta em direção à cidade portuguesa do Porto, será feita uma exposição e uma cerimônia de encerramento para guardar novamente a relíquia no cofre.