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Sociedade Brasileira de Pediatria repudia foto de Bolsonaro com criança portando arma

A cena ocorreu em Belo Horizonte (MG) na última sexta-feira (1º), véspera da comemoração do Dias das Crianças

Ao estilo nazista, bolsonaristas presentes exaltaram o ato contra o Estatuto do Menor e Adolescente | Foto: Presidência da República

Na última sexta-feira (1º), em Belo Horizonte(MG), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mirou a réplica da arma e apontou para cima, colocou sobre o pescoço uma criança com uniforme militar e entregou a arma. A irresponsabilidade foi o suficiente para a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) criticar, no mesmo dia, as imagens e emitir uma nota oficial. Bolsonaro fez esse ato na capital mineiro às vésperas da comemoração do dia das crianças.

Na nota, sob o título “Arma não é brinquedo”, a  ABP lembrou das as regras de proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e citou dados da violência contra crianças no país. “Não é por acaso que a cada 60 minutos uma criança ou adolescente morre em decorrência de ferimentos por arma de fogo no Brasil”, diz trecho da nota, que poderá ser lida na íntegra nesta matéria.

Exaltação por bolsonaristas

O evento foi transmitido ao vivo nacionalmente e através do YouTube pela TV Brasil. A televisão estatal ainda exibiu os bolsonaristas que cercavam ao presidente exaltaram aos berros: “o povo armado jamais será escravo” Bolsonaro ainda parabenizou os pais do menino pelo “exemplo de civilidade, patriotismo e respeito”. Enquanto portava a réplica de arma, Bolsonaro disse: “Estou com quase 70 anos. Quando eu era moleque eu brincava com isso, com arma, com flecha, com estilingue. Assim foi criada a minha geração e crescemos homens fortes, sadios e respeitadores”.

No documento, a SBP lamenta que cenas como as exibidas às vésperas do Mês da Criança sejam cada vez mais frequentes e conclama as autoridades para uma reflexão sobre os efeitos destas ações de mídia e de marketing, que devem se basear na legislação e na ética, e nunca serem maiores que o compromisso com a dignidade da população brasileira.

“Ao contrário dos adultos, elas (as crianças) são incapazes de distinguir entre uma arma real e armas de brinquedo. Estudo recente mostrou que quase 60% dos integrantes de um grupo de crianças com idades entre 7 e 17 anos não souberam distinguir armas reais de armas de brinquedo. Não é por acaso que a cada 60 minutos uma criança ou adolescente morre em decorrência de ferimentos por arma de fogo no Brasil”, destaca a entidade.

NOTA_SBP_ARMAS_DE_BRINQUEDO

Íntegra da nota da SBP

NOTA AOS BRASILEIROS

ARMA NÃO É BRINQUEDO!

Diante da divulgação, nesta quinta-feira (30), de imagens em que o presidente da República, Jair Bolsonaro, aparece com uma arma de brinquedo em punho ao lado de uma criança vestida de soldado, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reitera a importância de a população, em especial autoridades e personalidades públicas, respeitarem a legislação que exige a proteção dos direitos dessa faixa etária.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garante à criança e ao adolescente o direito ao respeito, que consiste na inviolabilidade da sua integridade física, psíquica e moral, abrangendo, entre outros aspectos, a preservação de sua imagem e valores. Além disso, estabelece como dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Vale lembrar, também, dos efeitos negativos que as armas de brinquedo surtem sobre o desenvolvimento e a construção do caráter enquanto cidadão do futuro. Ao contrário dos adultos, elas são incapazes de distinguir entre uma arma real e armas de brinquedo. Estudo recente mostrou que quase 60% dos integrantes de um grupo de crianças com idades entre 7 e 17 anos não souberam distinguir armas reais de armas de brinquedo. Não é por acaso que a cada 60 minutos uma criança ou adolescente morre em decorrência de ferimentos por arma de fogo no Brasil.

Neste sentido, a SBP lamenta que cenas como as exibidas às vésperas do Mês da Criança sejam cada vez mais frequentes. Não se trata de uma discussão ideológica ou sobre a liberdade da posse, ou não, de arma pelos adultos. O que está em jogo é a vida e a integridade física e emocional de milhares de crianças e adolescentes. Por isso, os pediatras conclamam as autoridades para uma profunda reflexão sobre os efeitos destas ações de mídia e de marketing, que devem se basear na legislação e na ética, e nunca serem maiores que o compromisso com a dignidade da população brasileira.

Rio de Janeiro (RJ), 1 de outubro de 2021.

Sociedade Brasileira de Pediatria