Segundo a UnB o professor aposentado da Universidade de Brasília e criador do Observatório Sismológico (SIS),José Alberto Vivas Veloso, “admite-se que um terremoto com magnitude 6, parecido aos eventos de 1955, acontece em algum lugar do Brasil, a cada 50 anos, aproximadamente. Em outras palavras, vivemos a expectativa de um deles voltar a ocorrer”
Nesta quarta-feira (28), completa 69 anos que Vitória (ES) sofreu um terremoto de 6.1 na escala Richter, um dos maiores já registrados no Brasil. O sismo, que durou 30 segundos, ocorreu quando os porteiros dos relógios se aproximavam das 23 horas daquela noite de lua cheia calorenta, na segunda-feira, 28 de fevereiro de 1955.
Segundo uma publicação feita pela Ufes em julho de 2020, a professora do Departamento de Geografia da Ufes Luiza Bricalli, doutora em Geologia, informa que a ocorrência de tremores no Brasil e no Espírito Santo está relacionada a reativações de falhas geológicas, principalmente das falhas transversais presentes na Cadeia Meso-Atlântica que se prolongam para o continente.
Nessa oportunidade, a professora lembrou que já existiram cerca de 30 terremotos no estado, sendo que o mais forte, com magnitude 6,1, foi o que ocorreu na noite de 28 de fevereiro de 1955. Esse terremoto foi registrado pelo International Seismological Center (ISC) da Inglaterra, destacou.
De acordo com a Universidade de Brasília (UnB), que possui um Departamento de Sismologia e onde consta o registro do terremoto de 1995 em Vitória, o epicentro desse sismo ocorreu na região da cadeia submarina Vitória-Trindade, uma sucessão de montes vulcânicos que se estendem em direção ao continente por mais de mil quilômetros, entre os paralelos 20º e 21° S. Eram quase 23h quando as vibrações do tremor atingiram o litoral do Espírito Santo e Vitória:
“Caíram móveis, vidraças se partiram e casas foram destelhadas”
“Esta capital e alguns municípios espírito-santenses viveram, ontem à noite, minutos de angústia e de pânico. É que um tremor de terra, que durou cerca de 30 segundos, abalou Vitória, jogando nas ruas a população alarmada e surpreendida com o fenômeno”, narrou o jornal O Globo, na sua edição de 1º de março de 1955). “Objetos caíram de móveis, vidraças se partiram e algumas casas foram destelhadas, mas ninguém se feriu seriamente. Nem o Observatório Nacional, ou alguma estação barométrica, registrou esse tremor, somente estações sismográficas internacionais”, prosseguiu o jornal.
O terremoto de 6.1 em Vitória ocorreu 28 dias após um outro, de 6.2 na escala Richter, em 31 de janeiro de 1955, com epicentro nas proximidades da Serra do Tombador, no Mato Grosso. Segundo a UnB, ambos tinham potencial para ocasionar destruição, mas seus epicentros, longe de áreas habitadas, não produziram tragédias a lamentar. Os terremotos com intensidade de 6,1 a 6,9 graus na escala Richter são capazes de destruir tudo num raio de 100 quilômetros.
O Brasil não está sobre uma placa tectônica?
Nas escolas o aluno aprende que o Brasil não tem risco de terremotos porque todo o País está sobre uma placa tectônica, a Placa Sul-Americana. Quem explica é a professora da Ufes naquele texto divulgado em 2020. A pesquisadora ressalta que pesquisas científicas indicam que a placa Sul-Americana, onde o Brasil está inserido, está sendo comprimida pela movimentação das placas tectônicas
“Além disso, é importante mencionar as falhas geológicas presentes na bacia sedimentar, que é uma área deprimida, de origem tectônica, preenchida por rochas sedimentares, ou sedimentares e vulcânicas, com espessuras e dimensões consideráveis, com falhas nas bordas”.
Luiza Bricalli explica que um terremoto ocorre quando as rochas sob tensão rompem-se repentinamente ao longo de uma falha geológica. Ao se movimentarem, os blocos de rochas deslizam, provocando vibrações e ondas sísmicas.
“Ocorre com maior frequência nos limites de placas tectônicas, compostas por crosta e manto, que se deslocam horizontalmente em diferentes direções em todo o planeta.O Brasil está sobre uma placa tectônica, a Placa Sul-Americana, que denominamos como uma região de intraplaca. No Brasil, ocorrem terremotos por vários motivos geológicos, mas não com magnitudes altas, como em áreas próximas ou em limites de placas tectônicas.“, explica.
“Os terremotos no Brasil ocorrem com magnitudes baixas, com média de 2,5, 3,0, e não são sentidos pela população muitas vezes, devido à sua profundidade de ocorrência e por ocorrer, muitas vezes, longe de centros urbanos”, copmplementa.
Terremoto atingiu outros municípios do Estado
De acordo com os relatos da imprensa da época, o terremoto de 6.1 na escala Richter foi sentido da Praia do Canto a Santo Antônio, incluindo o Centro de Vitória, atingindo Jardim América, Itaquari, Campo Grande, Itacibá, no município de Cariacica; e Cobilândia, Paul e Argolas, em Vila Velha. Houve relatos inclusive do interior, na cidade de Colatina, e também Guarapari, “onde uma cama teria sido arrastada por um metro.”
Pessoas mais antigas, que viveram naquela época lembram que mesmo estando próximo da meia-noite, foi vista uma multidão vindo do Centro e uma outra com moradores de Paul, Argolas, São Torquato, Jardim América, Itaquari e Alto Lage, que atravessaram a pé as Cinco Pontes. O objetivo era ir até a Volta do Rabayolli, local que fica antes de Santo Antônio, para ver um armazém que havia ruído com o terremoto. Foi a única destruição que o sismo de 1955 provocou no Estado.
O jornal Folha Capixaba em sua edição de 2 de março de 1955 saiu com a manchete: “Tremeu a terra no Espírito Santo”, mas foi no jornal A Gazeta (edição de 2 de março de 1955), em matéria assinada pelo jornalista José Luiz Holzmeister (também na época diretor da Associação Espírito-Santense de Imprensa), que ficou registrado os detalhes mais interessantes. O manchete com o seu texto era “A Terra tremeu em Vitória”.
Como foi a narrativa do jornalista José Luiz Holzmeister
“Eram mais ou menos 22 horas e 55 minutos quando um telefonema de um colega, Enio Pereira, residente em Vila Velha nos dizia que a terra havia tremido ali. A princípio pensamos ser brincadeira. Mas a afirmativa perdurava e então resolvemos tomar as primeira notas e entrar em ligação com outros moradores naquela localidade. Desligado o telefone, outra chamada, agora da residência do Sr. Schnaider, contando-nos a mesma cousa. De acordo com a segunda comunicação, que confirmava plenamente a do repórter Enio Pereira, um tremor de terra de alguns segundos foi sentido onde se notava claramente portas e janelas tremerem à rua Henrique Moscoso. A população da cidade vizinha, sobressaltada, deixava suas casas, enchendo as ruas. Os mais variados trajes se podiam notar”, iniciou Holzmeister.
“Nesta altura, já os três aparelhos telefônicos da redação já não davam contas. Eram comunicações de todos os recantos. De Itaquari, do repórter Gualter Golçalves; da Praia do Canto, do dr, Diomar e do Sr, Alberto Busato; de Santo Antonio , do Sr, Elias Vieira, motorista profissional; do Morro da piedade, do vereador Raulino Golçalves, entre outros…”, narra o jornalista de A Gazeta.
“Estávamos na azáfama de atender telefones quando formos visitados por várias comissões de moradores de bairros distantes e morros adjacentes. Entre os visitantes, pudemos mais calmamente conversar com o Sr. Jarbas Miranda, residente em Santo Antônio, que veio acompanhado dos srs. Jair Có, Luiz Carlos Bastos, Rubens Azevedo e Paulo Lourosa”, continuou.
“Disse nos que estava no interior de sua casa quando sentiu algo estranho como um tremor . Segundo depois, agira com mais intensidade notou que porta e janelas de sua casa tremiam. Não resistiu e saiu. Do lado de fora notou que numerosas pessoas fazia a mesma cousa. Um pânico geral tomou conta de todo o bairro de Santo Antônio e minutos depois ruas e praças se encheram de gente que procurava saber o que havia. Um estado de apatia a todos envolvia. Sentiu o mesmo fenômeno ocorrido com a explosão de Caratoíra. Mas desta vez. Fora um tremor de terra, no duro”, prosseguiu.
Portas e janelas tremiam igual a bambu
“Novamente pudemos palestrar com o vereador Raulino Gonçalves. Um dos primeiros a nos telefonas. Mais calmo, o edil vitoriense nos contou que estava em seu gabinete quando notou que lápis, réguas e todos os apetrechos de seus desenhos dançavam sobre a cartolina. Sua menina de 10 anos disse: Pai, a cama está tremendo”. Portas e janelas, conclui nosso informante, tremiam como bambus ao vento. Abri as janelas e notei que meus vizinhos notaram o mesmo fenômeno e dentro me pouco todo o morro da Piedade estava cordado, com o povo nas ruas sobressaltado”, informa o texto jornalístico.
“Tão logo recebemos os primeiros telefonemas nossa reportagem se pôs em campo, percorrendo todos os bairros da capital, de Praia do Canto a Santo Antônio, de Maruípe aos Barreiros, alongando-se por Jardim América, Itaquari, Campo Grande, Itacibá, no município de Cariacica; Cobilândia, Paul, Argolas e Vila Velha, no município do Espírito Santo e pode constatar que o fenômeno foi sentido em todos esses locais. Alguns notaram no horizonte, para os lados do mar, uma espécie de bola de fogo, de uma cor alaranjada”, continuou.
“Enquanto nossa reportagem percorria as ruas centrais, bairros e distritos, procuramos nos comunicar com Colatina, Guarapari e outras cidades. Apenas dessas duas recebemos notícias e essas esclarecendo que ali o fato fora notado. Em Colatina, tanto do lado da cidade como do lado norte foi pressentido o tremor por várias pessoas, tendo em Guarapari, numa certa casa residencial, uma cama percorrido mais de um metro pelo tremor”, disse o jornalista;
Na época as pessoas duvidaram que seria um terremoto
“Para o fato há três versões diferentes. A primeiro seria uma explosão violenta como a ocorrida há tempos nos depósitos do DER em Volta de Caratoíra. Esse fenômeno foi posto à margem, pois nada conseguimos descobrir em nossa peregrinação pelos quatro cantos da cidade e de nada dizerem notícias mais longínquas. Restam portanto, duas últimas: ou um fenômeno sísmico, um tremor de terra, ocasionado segundo os geólogos, devido a deslocações da crosta terrestre nas regiões instaláveis, mesmo as que estão associadas a erupções vulcânicas, ao longo das cadeias recentes, e que se formaram depois das deslocações da era terciária, onde se agrupam as regiões de maior sismicidade”, disse Holzmeister.
“Estávamos concluindo esta rápida reportagem sobre o fato mais sensacional já ocorrido em toda a história do Espírito Santo, no setor dos fenômenos, quando um telefonema nos pôs em comunicação com o Tenente Décio Nascimento, oficial de dia do Quartel de Maruípe. Contou-nos aquele oficial da Polícia que estava no seu alojamento quando foi alarmado pelo tropel de dezenas de recrutas que assustados, deixaram o prédio onde estava, em desabalada correria. Interrogados disseram que o prédio estava tremendo”, informou naquela ocasião.
“Acompanhado do sargento Ajudante, o oficial foi ao local e ao olhar em uma das janelas, justamente onde os soldados diziam ter as paredes tremido, para o lado da praia de Camburi, viu uma bola de cor um tanto esquisita, avermelhada, que se movimentava, Chamou o sargento Rubens e este ainda pode ver a bola nas reentrâncias de montanhas sumindo-se por detrás de um morro. Segundo nosso informante diversas paredes do quartel, de largura pouco comuns, ficaram rachadas, vendo-se pelo chão a caliça desprendida”, copmpletou.
Incrédulo, o jornalista concluiu o seu texto da seguinte forma: “Como veem nossos leitores, o fenômeno ontem (28 de fevereiro de 1955) em Vitória, e mesmo em várias parte do Estado, é inédito no Espírito Santo, havendo suposições diversas. Teria sido uma explosão distante? Estaremos nós sobre uma região vulcânica? Ou foi algum meteoro que se desprendeu? Com as palavras os cientistas.”