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Udu azul, que encantou os indígenas, corre o risco de extinção

Udu-de-coroa-azul | Foto: Reprodução/Conexão Planeta

Atualmente na lista de aves em risco de extinção, o udu-de-coroa-azul é uma grande ave tropical que faz os seus ninhos em túneis em bancos de areia, colocando três ou quatro ovos brancos. Vítima do desmatamento incontrolado, que ameaça a sua existência, a ave faz parte da cultura dos indígenas brasileiros, inclusive com uma lenda que é passada de geração em geração. Entre os índios é chamada de Juruva. A ave pode variar entre 41 e 46 centímetros e pesar 145 gramas. A cauda é bem longa e tem uma ponta em forma de raquete. Suas partes superiores são verdes, a cauda inferior azul, e as partes de baixo são verdes ou possuem uma cor ferrugem. O seu nome científico é Momotus momota.

Um exemplar do Udu flagrado na natureza | Vídeo: Fazenda Santa Rita de Cássia/YouTube

Segundo o Museu Paraense Emílio Goeldi, no Brasil há 1.900 espécies de aves conhecidas e desse total 1.005 espécies são encontradas no Pará, sendo que 72 estão ameaçados de extinção. As ameaças de extinção vão se elevando, de acordo com pesquisadores desse museu. O udu-de-coroa-azul, apesar de ainda serem vistas poucos exemplares em diversos Estados brasileiros, está nessa lista. O habitat dessa espécie ocorre do Norte da América do Sul ao Norte da Argentina, incluindo grande parte do território brasileiro.

Uma outra imagem do udu-de-coroa-azul| Foto: Agência Sucuri

O udu-de-coroa-azul se alimenta de frutos, insetos e pequenos vertebrados. Captura suas presas diretamente no solo ou próximo dele. Bate as presas grandes contra galhos antes de engoli-las. Frequenta comedouros com frutos. Também tem o hábito de seguir formigas de correição. A ave constrói o ninho em buracos nos barrancos de rio, às vezes com mais de um metro e estreito, onde são depositados três ou quatro ovos brancos.

Nas matas sem barrancos pode aproveitar a entrada do buraco de um tatu para iniciar a escavação do seu túnel horizontal logo abaixo do nível do solo. Tendo a ave cerca de 45 centímetros, com sua cauda, fica a questão de como entra e sai sem danificar suas longas penas especiais. O período reprodutivo é de julho a novembro.

Lenda da Juruva | Imagem: Reprodução: Livro editado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi

Para os índios é a Juruva

O canto é semelhante ao de uma coruja, emitido mais frequentemente no clarear e escurecer, embora possa ser escutado a qualquer hora do dia e da noite. Começa com um chamado curto, grave, acelerado (entendido como udu ou duro). Quando outra juruva responde, aceleram o canto e aumentam o número de “udus” (a interpretação onomatopéica do canto passa a ser juruva).

Vários pássaros pertencentes a família Momotidae são conhecidos pelo nome de juruva, entre os indígenas. Eles habitam nas florestas e podem ser encontrados em matas virgens ou secundárias, alimentando-se de insetos e larvas, aranhas, moluscos e frutos silvestres. Chamam atenção pelo colorido esverdeado do seu corpo e pela forma das penas da cauda (retrizes), que são longas, com falhas, terminadas em raquete.

Não formam bandos, possuindo hábitos solitários ou encontrados em casais. Constroem seus ninhos em buracos nos barrancos, onde depositam de três a cinco ovos. Costumam ficar muito tempo parados em um galho ou movendo somente a cauda de um lado para o outro, como um pêndulo. Para fazer download do livro “Fauna e flora em lendas, editado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, na íntegra, é só clicar neste link.

Outra imagem do udu-de-coroa-azul | Foto: Flickr

Lenda da Juruva

A juruva, voando pela mata, encontrou-se com a mãe-do-fogo, chorando muito. Querendo saber qual o motivo de todo aquele drama, dirigiu-se até a árvore em que estava a mãe-do-fogo, que então explicou que ela havia se descuidado e deixado que as chamas que acendiam o sol se apagassem.

Para ajudar a reacender o sol, a juruva foi até um pajé que possuía uma chama que jamais se apagava. Porém, o pajé já estava muito velho e não podia ir ao encontro da mãe-do-fogo e, assim, levar um pouco da brasa da chama que nunca se apaga. Foi aí que a juruva apanhou a brasa e transportou-a entre as duas penas de sua cauda até onde estava a mãe-do-fogo, que ficou bastante agradecida. No transporte da brasa, a juruva queimou parte das suas penas e é por isso que, até hoje, existe uma falha nas penas da cauda desse pássaro.

Peripécias de uma fotógrafa

Na última semana, o portal de notícias regional Campinas e Região, do G1, trouxe as aventuras da fotógrafa de natureza Fabiana Montalvão, que encontrou um ninho do udu-de-coroa-azul. Ela avistou o ninho durante uma expedição que fazia pelo Rio Pardo na região de Morro Agudo (SP) e foi quando notou um movimento diferente na margem. “Duas aves coloridas e de rabo comprido entravam e saíam de um buraco no barranco. Ela se aproximou e começou a filmar. Logo identificou o casal de udu-de-coroa-azul que havia feito um ninho no buraco do barranco”, narra o G1.

“Tocas nas beiras de rios são os lugares preferidos para nidificação. Os túneis horizontais são estreitos e, às vezes, com mais de um metro de profundidade, onde são depositados três ou quatro ovos. Se não tem barranco o udu-de-coroa-azul pode aproveitar a entrada do buraco de um tatu para iniciar a escavação logo abaixo do nível do solo. Uma dúvida dos observadores era: como a ave entra a sai sem danificar suas longas penas coloridas?”, conta o portal de notícias. “Fabiana desvendou parte do mistério. Na gravação que fez em Morro Agudo ela flagrou a ave saindo do buraco de ré. ‘Foi maravilhoso, um momento de muita emoção, para mim é uma ave do paraíso’, comentou a fotógrafa, segundo o G1.

“Macho e fêmea se revezam no cuidado dos filhotes. Um traz uma minhoca no bico, outro um inseto. A espécie também come frutos e pequenos vertebrados que costuma encontrar no solo ou próximo do chão. Segue formigas de correição e bate as presas grandes no galho antes de engolir. Fabiana Montalvão fez o flagrante em 2017, mas só publicou o vídeo agora para evitar que curiosos fossem lá incomodar a família dos udus. Ela também não voltou nos anos seguintes para ver se o casal tinha reaproveitado o buraco. “Para preservação das aves achei melhor evitar a frequência no local”, explicou. Para a fotógrafa, ver o ninho do udu-de-coroa-azul uma vez já foi suficiente. ‘Ganhei um presente da natureza’, concluiu a narrativa do G1.