Estudantes de Química EaD da Ufes desenvolveram, em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), um método de ensino da disciplina nas prisões, de forma a motivar os estudantes e alcançar melhores resultados na aprendizagem. O trabalho de Iara Koniczna e Larissa Feitosa usa jogos feitos de material de papel para ensinar a tabela periódica e as combinações entre elementos químicos, além de outros conteúdos. O estudo contribui para a redução dos apenados nas prisões.
O estudo, que foi desenvolvido durante o estágio de Iara Koniczna no Complexo Penitenciário de Xuri, em Vila Velha, e orientado pela professora Mari Inêz Tavares, foi apresentado no início deste ano no Simpósio da Organização Internacional para Educação em Ciência e Tecnologia (IOSTE, sigla em inglês), realizado virtualmente a partir da Coreia do Sul.
O trabalho teve, também, a participação do professor do Departamento de Química da Ufes Paulo Rogério Garcez e da professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) Daisy Rezende, em forma de pôster (confira aqui). O artigo na íntegra será publicado em breve nos anais do evento.
O ensino de Química na Educação de Jovens e Adultos (EJA) nas penitenciárias tem restrições, devido à proibição de ingressar com espátulas, fontes de calor e de fogo (como os bicos de Bunsen) e qualquer material de vidro que possibilitaria demonstrar de forma prática as matérias. Até mesmo alguns materiais escolares, como lápis e canetas, têm oferta limitada, e os livros não podem ser levados para as celas.
Restrições
“Apesar das restrições, percebi que os alunos tinham muito interesse em estudar e costume de ler”, conta Iara Koniczna, que continua atuando como professora de Química em unidades prisionais, para adultos de idade entre 25 e 60 anos. A leitura e o estudo contribuem para a remição de pena dos detentos.
Além disso, a professora Mari Inêz Tavares ressalta que não há material didático produzido com foco na educação de adultos, o que torna mais essencial o desenvolvimento de novos métodos. “O trabalho se baseia nos estudos de Paulo Freire, de educação libertadora, e de Selma Garrido Pimenta, sobre estágio docente, em que se trabalha teoria e prática, reflexão e ação, além de diálogo, dando liberdade para o aluno questionar”, detalha.
Método
Durante o período analisado, Iara Koniczna usou o jogo de tabuleiro Tabela Maluca (imagem), desenvolvido em pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), para explicar os conceitos e propriedades dos elementos químicos. Outro jogo usado foi a batalha naval, para ensinar dados dos elementos químicos, como período, números atômicos e raio atômico. “O método enfatiza a comunicação oral, para que o estudante possa memorizar os conteúdos”, explica a professora Mari Inêz Tavares.
Para mapear o que os estudantes do complexo penitenciário aprenderam durante o período analisado, foi aplicado um questionário antes e após o desenvolvimento da aplicação dos jogos. “Foi possível perceber um retorno muito rápido dos alunos, até mais rápido do que no ensino regular. Muitos chegam com uma grande deficiência e é gratificante ver os avanços”, aponta a professora recém-formada. “Eles ficaram motivados e raramente faltam. Vários que deixam a prisão continuam os estudos no regime semiaberto”, detalha Iara Koniczna, que enfatiza o incentivo recebido da orientadora.
As experiências do estágio foram registradas em um diário de bordo e motivaram a publicação de um artigo acadêmico que analisa o aprendizado da estudante de Química EaD a partir desses registros.
As estudantes e a orientadora destacam a importância do apoio das secretarias estaduais de Justiça (Sejus) e da Educação (Sedu) para viabilizar o projeto que virou TCC.
A ideia de Iara Koniczna é dar sequência aos estudos e desenvolver novos métodos, para continuar aprimorando a formação desses adultos estudantes. Dentre as iniciativas previstas, estão a criação de jogos para ensinar balanceamento químico e a gravação de videoaulas mostrando as reações químicas.