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Ufes promove exposição em homenagem às cientistas brasileiras, no mês da Mulher


A mostra será aberta ao nesta quarta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e se estenderá até o dia 17. O horário de visitação é das 7 às 21 horas


Exposição cientistas brasileiras -│imagem: Ufes

Como forma de homenagear e celebrar a memória das pesquisadoras brasileiras, será inaugurada nesta quarta-feira, 8, às 10 horas, na Biblioteca Central da Ufes (campus de Goiabeiras), a exposição Cientistas brasileiras – 90 anos de Niède Guidon, organizada em parceria com o Laboratório de Ensino de Biologia (LEB) da Universidade.

A mostra trará nomes de 18 mulheres que contribuíram para o progresso da ciência no Brasil. Niède Guidon, conhecida principalmente pelo trabalho de preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara (declarado patrimônio cultural da Unesco em 1991), receberá um destaque especial, já que completará 90 anos no próximo dia 12.

A coordenadora do LEB e professora do Departamento de Ciências Biológicas, Viviana Corte, responsável pelo evento, ressalta que “o objetivo é a popularização da ciência, trazendo à tona o protagonismo feminino no campo da pesquisa de mulheres que, muitas vezes, foram invisibilizadas num país em que o brilhantismo que era delas ficou escondido”.

O acervo será composto de 18 quadros feitos por estudantes de diversos cursos da Universidade, que colaboraram na escolha das cientistas e os produziram utilizando técnicas variadas de arte. Ao lado de cada obra, um pequeno texto com informações básicas sobre a homenageada ficará disponível juntamente com um QR Code, que irá direcionar os interessados para uma página com mais informações sobre a respectiva pesquisadora. 

A exposição ficará aberta ao público entre os dias 8 de março e 30 de abril, com entrada gratuita, de segunda a sexta-feira. O horário de funcionamento será das 7 às 19 horas entre os dias 8 e 17 de março, e das 7 às 21 horas nos dias restantes da exposição.

Clara Zetkin, na foto está a esquerda e de vestido branco., foi a feminista antifascista que idealizou o Dia Internacional da Mulher │ Imagem: Arquivo

Quando começou o Dia Internacional da Mulher

Tudo começou em 1908, após 15 mil mulheres terem marchado pela cidade de Nova York exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto. Um ano depois, o Partido Socialista dos Estados Unidos declarou o primeiro Dia Nacional das Mulheres. Em 1910, ativista comunista e defensora dos direitos das mulheres, Clara Zetkin, lançou a proposta de criação do Dia Internacional das Mulheres durante uma Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague. Havia 100 mulheres, de 17 países, presentes, e elas concordaram com unanimidade com a sugestão.

A data foi celebrada pela primeira vez em 1911, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. Mas o Dia Internacional das Mulheres só foi oficializado em 1975, quando a ONU começou a comemorar a data. A data 8 de março foi em homenagem às mulheres russas, que durante a Revolução Russa de 1917 haviam uma luta contra a tirania do Czar que dominava aquele país. Elas promoveram uma greve pedindo “pão e paz” no dia 23 de fevereiro, pelo calendário Juliano, que era utilizado na Rússia. Pelo calendário Gregoriano, a data correspondia ao dia 8 de março de 1917, que foi quatro dias antes do Czar Nicolau II ter sido forçado abdicar do trono.

Clara Zetkin era socialista, marxista e feminista. Ela ]nasceu em Königshain-Wiederau, Alemanha, em 5 de julho de 1857. Estudou direito e começou a ter contato com movimentos operários alemães em 1874. Quatro anos depois, inicia sua militância no Partido dos Trabalhadores Socialistas (SAP), que se converte no Partido Social-democráta Alemão (SPD) em 1890. Zetkin torna-se uma das principais referência dentro da organização.

Em 1882, Zetkin se exila na Suíça e França por causa da proibição do governo Bismack em manter os movimentos comunistas na legalidade. Em Paris, é uma das criadoras da Internacional Socialista e começa a editar livros na clandestinidade. Sua principal luta foi pelo voto] feminino, reivindicado por uma ótica marxista de classe, e a denúncia certeira sobre os perigos que a ascensão do fascismo traria à humanidade.

Clara Zetkin morreu aos 76 anos em Moscou em 20 de junho de 1933. Em sua vida pessoal, teve filhos com o revolucionário russo Ossip Zetkin, que faleceu em 1889. Posteriormente, se casou com o pintor alemão Georg Friedrich Zundel, 18 anos mais jovem que ela, até o divórcio que aconteceu em 1927.

Zetkin combateu o fascismo

Em 1923, ao observar a conjuntura internacional e a ascensão do fascista Benito Mussolini na Itália, Clara Zetkin elabora uma das primeiras — e mais profundas — análises sobre o fascismo:

1 – O surgimento do fascismo está intrinsecamente atado à crise do capitalismo e ao declínio de suas instituições. Esta crise é caracterizada por uma escalada de ataques à classe trabalhadora, enquanto as camadas sociais intermediárias são espremidas e rebaixadas ao proletariado:

“As raízes do fascismo estão, de fato, na dissolução da economia capitalista e do Estado burguês… A guerra destruiu a economia capitalista a partir de suas bases. Isso é evidente não apenas pelo empobrecimento assustador do proletariado, como também pela proletarização de amplas massas pequeno e médio burguesas”.

2 – A ascensão do fascismo é baseada na incapacidade do proletariado resolver a crise social capitalista pela tomada do poder para reorganização da sociedade. Esta incapacidade da liderança da classe trabalhadora gera desmoralização entre os trabalhadores e das forças sociais que vislumbravam o proletariado e o socialismo como uma solução para a crise.

Essas forças sociais, indica Zetkin, acreditavam que “o socialismo pudesse acarretar uma transformação completa. Essas expectativas foram dolorosamente destroçadas… Perderam sua fé não apenas nos líderes reformistas, como no próprio socialismo”.

3 – O fascismo possui um caráter de massas, com apelo especial às camadas pequeno-burguesas ameaçadas pelo declínio da ordem capitalista.

O declínio capitalista resulta na “proletarização de amplas massas pequeno e médio burguesas, na situação de calamidade entre os pequenos camponeses e na aflição melancólica da ‘intelligentsia’. (…) O que pesa acima de tudo sobre eles é a falta de segurança para sua subsistência básica”.

4 – Para conquistar o apoio dessas camadas, o fascismo faz uso de demagogia anticapitalista:

“As massas aos milhares se juntaram ao fascismo. Ele se transformou em um asilo para todos os desabrigados políticos, os socialmente desenraizados, os destituídos e desiludidos… A pequena-burguesia e as forças sociais intermediárias inicialmente vacilam entre os poderosos campos históricos do proletariado e da burguesia. São levadas a simpatizar com o proletariado por conta das dificuldades em suas vidas e, em parte, pelos desejos nobres e ideais elevados em seus espíritos, na medida em que este aja de forma revolucionária e apresente perspectivas de vitória. Sob a pressão das massas e de suas necessidades, e influenciados por essa situação, até mesmo os líderes fascistas são forçados a, minimamente, flertar com o proletariado revolucionário, ainda que não possuam por ele qualquer simpatia”.

5 – A ideologia fascista eleva a nação e o Estado acima de todos os interesses e contradições de classes:

“O que as massas não esperavam mais da classe proletária revolucionária e do socialismo, agora esperam que seja atingido pelos elementos mais capazes, fortes, determinados e impetuosos de todas as classes sociais. Todas essas forças deveriam unir-se em uma comunidade. E essa comunidade, para os fascistas, é a nação… O instrumento para atingir os ideais fascistas é, para eles, o Estado. Um Estado forte e autoritário que será sua própria criação e ferramenta obediente. Este Estado estará suspenso acima de todas as diferenças de classe e partido”.

6 – A ideologia do nacionalismo chauvinista é utilizada pelos líderes fascistas como cobertura para incitar o militarismo e a guerra imperialista:

“As forças armadas da Itália fascista eram apenas para defender a pátria. Esta era a promessa. Mas o aumento do exército e a aquisição de armamentos estão dirigidos a grandes aventuras imperialistas… Centenas de milhões de liras foram aprovadas para a indústria pesada construir as mais modernas maquinas e impiedosos instrumentos de morte”.

7 – Uma característica fundamental do fascismo é o uso da violência organizada levada à frente por tropas de choque contrárias à classe trabalhadora, com o fim de esmagar toda atividade proletária independente.

Na Itália, as forças de Mussolini ocuparam-se do “terror direto, sanguinário”, indica Zetkin. Partindo de áreas do interior, os fascistas “atacaram os trabalhadores rurais, de quem as organizações foram devastadas e incineradas, enquanto seus líderes eram assassinados”. Mais tarde “o terror fascista estendeu-se ao proletariado das grandes cidades”.

8 – A ideologia do racismo e o bode expiatório racista é central na mensagem do fascismo. Mesmo que esse aspecto ainda não estivesse inteiramente nítido em 1923, Zetkin lembra como na Alemanha “o programa fascista é esgotado pela frase: ‘porrada nos judeus’.”

9 – A certa altura, setores importantes da classe capitalista passaram a apoiar e financiar o movimento fascista, encarando isso como uma maneira de conter a ameaça da revolução proletária:

“A burguesia não pode mais confiar nos meios de força regulares de seu Estado para garantir sua dominação de classe. Para tal, ela precisa de um instrumento de força extralegal e paramilitar. Isto lhe foi oferecido pelo aglomerado heterogêneo que constitui a turba fascista. Os capitalistas patrocinam abertamente o terrorismo fascista, apoiando-o com dinheiro e de outras maneiras”.

10 Uma vez no poder o fascismo tende a se burocratizar e distanciar dos apelos demagógicos de antes, levando a um ressurgimento das contradições e conflitos de classes:

“Existe uma contradição flagrante entre o que o fascismo prometeu e aquilo que entregou às massas. Toda conversa sobre como o Estado fascista colocará o interesse da nação acima de tudo, uma vez exposta aos ventos da realidade, estoura como uma bolha de sabão. A ‘nação’ revelou ser a burguesia; o ideal fascista de Estado revelou-se como o vulgar e inescrupuloso Estado burguês… As contradições de classe são mais poderosas do que todas as ideologias que negam a sua existência”.