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Velhos e novos olhares sobre a desindustrialização capixaba, por Arlindo Villaschi


Improvável é a construção com ampla participação social de consenso de oportunidades a serem buscadas para o desenvolvimento capixaba


Chuvas no Espirito Santo | Foto: Reprodução/Jornal GGN/Agência Brasil

Reprodução/Jornal GGN/por Arlindo Villaschi (*)

A provocação feita por Luis Nassif sobre a desindustrialização capixaba chega como oxigênio para o necessário debate sobre rumos e prumos para o processo de desenvolvimento do Espírito Santo. Debate que deixou de existir há anos em razão do encantamento por parte das elites capixabas, primeiro com a industrialização retardatária ocorrida a partir da década de 1970; segundo com as oportunidades surgidas para que o estado se tornasse ‘porta do mar para uma vasta hinterlândia’ a partir do inovador sistema de incentivos financeiros do Fundap (Fundo de Incentivo a Atividades Portuárias).

Quando as operações Fundap no final dos anos 1990 mergulharam em esquema de corrupção, a resposta rápida por parte das elites locais foi aceitar acriticamente propostas conservadoras formulada a partir do patrocínio da ONG ‘Espírito Santo em Ação’. Montada sob a égide intelectual de executivos dos chamados grandes projetos de impacto (originalmente Vale, Aracruz, Companhia Siderúrgica de Tubarão e a partir do final dos anos 1990 a Petrobras), a ‘ES em Ação’ coptou fornecedores locais dessas empresas de porte e principais veículos estaduais de comunicação e se tornou a única a pautar em planos de crescimento de longo prazo quais deveriam ser as ações principais do governo estadual.

A falta de debate sobre limites do processo de crescimento sustentado em grandes projetos de impacto e em incentivos financeiros locais para atividades majoritariamente de importação por portos capixabas, se deu a despeito de alertas que vêm sendo feitos ao longo dos últimos quase quarenta anos. Primeiro, por diversas contribuições feitas pela inovadora iniciativa da Rede Gazeta nos anos 1980, sob inspiração intelectual de Lélio Rodrigues, ‘Espírito Santo no Século 21’.

Segundo, por artigos periodicamente publicados no jornal A Gazeta pelo professor Roberto Garcia Simões ao longo de mais de vinte anos e organizados na trilogia “Estado em questão”. Terceiro, principalmente por estudiosos da Ufes de colocar na agenda local de debates sobre o desenvolvimento capixaba questões contemporâneas como economia do conhecimento e do aprendizado, inclusão social, emergência climática e outras dimensões das crises sistêmicas que ameaçam a humanidade.

Em diversas dessas tentativas foi explicitado que o modelo de crescimento capixaba se dá na contramão de tudo o que se possa pensar em termos de portar de futuro. Afinal, por um lado, o processo de crescimento estadual continua ancorado em exportação de commodities de baixo valor agregado e baseada quase em sua totalidade na exploração de recursos naturais não renováveis. Por outro, a questão ambiental é fortemente negligenciada pelas grandes empresas – vide, dentre outros, os crimes ambientais cometidos pela Vale em Mariana e Brumadinho. E mais, são continuadas e aprofundadas a exclusão social e os desequilíbrios provocada por omissões da ação governamental em função das prioridades estabelecidas para o Espírito Santo nos planos e projetos gestados pelo ES em Ação e operacionalizados por poderes estadual e municipais.

Mais do que analisar criticamente o processo formação socioeconômica capixaba, algumas dessas tentativas de alertas sobre fragilidades do modelo capixaba de crescimento propuseram o necessário debate plural sobre mudanças nos rumos da ação governamental no que diz respeito ao desenvolvimento estadual. Consta, por exemplo, em “Elementos da economia capixaba e trajetórias de seu desenvolvimento”, livro por mim organizado e publicado em 2011, com contribuições de estudiosos da Ufes, uma sugestão de agenda de temas que precisavam ser debatidos. A idéia era criar fóruns envolvendo agentes econômicos e sociais com a finalidade de construir visões compartilhadas sobre trajetórias para o desenvolvimento do Espírito Santo que contemplassem localmente aspectos sociais, econômicos e ambientais da agenda mundial.

Mais recentemente os pesquisadores Érika Leal e Ednilson Felipe, do Observatório do Desenvolvimento Capixaba, têm atualizado o debate sobre esgotamento do modelo capixaba de crescimento utilizando evidências tanto quantitativas quanto qualitativas.

A resiliência de tantos que optam por se recusar a zona de conforto dos dogmas TINA (there is no alternative, em tradução livre só existe uma alternativa) quando encontra algum eco é em eventos de lançamento de programas de governo que necessitam de alguma credibilidade acadêmica.

A resposta chapa branca a evidências de que a economia capixaba tem desempenho sofrível vis-à-vis seus vizinho na Região Sudeste, é sempre forte em culpar baixas no preço das commodities e a suspensão de atividades da Vale e coligadas em função de Mariana e Brumadinho. Como se preço de commodities só subisse e como se crimes ambientais fosse algo acidental na mineração.

Para quem entende que existem outras possibilidades futuras para a formação socioeconômica capixaba, para muito além das listadas em documentos patrocinados pela ES em Ação e adotadas como dogmas por considerável parcela das forças políticas locais, resta acreditar que o improvável pode acontecer. Improvável é a construção com ampla participação social de consenso de oportunidades a serem buscadas para o desenvolvimento capixaba.

Consenso improvável mas vai que acontece a partir da pertinente e oportuna chamada de atenção em nível nacional pela matéria de Luis Nassif neste jornal.

(*) Arlindo Villaschi – Professor Titular da Ufes; ocupou a Cadeira Rui Barbosa como Professor Convidado da Leiden University, Holanda. Foi Diretor Técnico da Fundação Jones dos Santos Neves, Secretário de Planejamento do governo do ES, e Diretor Adjunto junto ao BID, representando o Brasil e o Suriname