Pela segunda vez dentro desta mesma semana, o atual prefeito de Vitória (ES), Lorenzo Silva de Pazolini (Republicanos), um delegado licenciado da Polícia Civil, impediu a vice-prefeita da Capital do Espírito Santo, Estéfane da Silva Franca Ferreira, a Capitã Estéfane (Patriota) de se dirigir aos munícipes em evento público da Prefeitura de Vitória (PMV). O ato, que foi repudiado pela classe política, vem após a Capitã Estéfane ter apoiado, no segundo turno, a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB), o inimigo político do prefeito do Republicanos.
A mais recente grosseria de Pazolini ocorreu nesta última quarta-feira, durante à assinatura de uma ordem de serviço no Bairro Jardim Camburi. O prefeito simplesmente arrancou o microfone das mãos da vice-prefeita, na frente do público presente, para não deixar que ela falasse aquela comunidade. O vídeo com essa cena correu as redes sociais e provocou indignação dos moradores de Vitória e dos demais municípios da Região Metropolitana de Vitória.
Na última tarde de segunda-feira, a grosseria de Pazolini ocorreu na Praça Costa Pereira, no Centro Histórico de Vitória, quando ocorria nesse local a entrega de novos veículos para a Guarda Municipal de Vitória e ele impediu que a vice-prefeita se pronunciasse no ato. “Infelizmente não tive a oportunidade de fala. O prefeito… Não me deram oportunidade de fala pela primeira vez. Mas, eu continuo vice-prefeita de Vitória e se eu não posso falar no microfone, eu posso falar nas minhas redes sociais”, diz\ trecho de vídeo que ela gravou para as suas redes sociais, naquela mesma praça.
O deputado estadual reeleito Fabrício Gandini (Cidadania) usou a sua conta no Instagram: para cobrar dos atuais vereadores de Vitória a adoção de atitude urgente contra a agressão de Pazolini à vice-prefeita. “Urgente. Vereadores, o parlamento serve para mediar conflitos e interromper abusos, o povo confiou o voto em vocês, o prefeito precisa explicar isso que está fazendo com uma mulher, na campanha ela foi fundamental, mulher negra e de São Pedro, agora sendo humilhada assim? Confiamos em vcs para reestabelecer a postura digna de um prefeito da cidade de Vitória! Convoquem ele para dar explicações!.”
Revolta entre vereadores
Apenas os vereadores bolsonaristas, que formam a base de apoio de Pazolini na Câmara de Vitória se calaram e se omitiram diante do ataque do prefeito à vice-prefeita da Capital capixaba. A vereadora e deputada estadual eleita Camila Valadão (PSOL), mostrou a sua indignação com o tratamento desrespeitoso e, em vídeo nas suas redes sociais, apresentou a sua solidariedade à Capitã Estéfane. A deputada eleita ainda registrou o ato de Pazolini nos anais da Câmara, ao discursar sobre o assunto no plenário.
“Quero registrar a minha solidariedade á Capitã Estéfane, vice-prefeita da Cidade de Vitória, que vem tendo o exercício da sua função e vale ressaltar que assim como o prefeito foi eleito, a Capitão, vice, também foi eleita. Essa é uma eleição de chapa, portanto os votos são da chapa, e a Capitã Estéfane vem sendo cerceada no exercício da sua função como vice-prefeita. Isso não é mimimi. Isso é exigir o direito dela exercer , na plenitude, o seu mandato como vice-prefeita. Então, registro toda a minha solidariedade à Capitão Estéfane. Considero um absurdo esse ato do prefeito, ainda mais se tratando de uma mulher, uma mulher negra ocupando esse cargo, que é um cargo importante. Esperamos que isso seja resolvido!, disse Valadão.
Já o ex-presidente da Câmara de Vitória e vereador a ser empossado em janeiro próximo (no lugar do atual vereador e deputado estadual eleito, Denner Januário da Silva, o Denninho Silva (União), Vinicius Simões (Cidadania) gravou um vídeo nas suas redes sociais. “Senhor prefeito, Vitória não é uma Delegacia. A cidade não é sua. A Prefeitura não é sua. As inaugurações não lhe pertencem. Nem o microfone é seu. O que parece ser seu, como gestor, é a intolerância, o machismo, a truculência, o desequilíbrio e a falta de respeito com as pessoas. Quando o senhor toma a força o microfone de uma mulher, que recebeu do povo de Vitória o direito de falar como vice-prefeita, o senhor não está apenas tirando esse direito dela, mas também do povo de Vitória, que também a elegeu. Capitã, a minha solidariedade a você e a todas as mulheres que sofrem com esse tipo de violência.
Já a vereadora karla Coser (PT) também criticou a atitude do prefeito. “O prefeito foi eleito numa chapa com a Capitã Estéfane, com o dinheiro, inclusive, que veio para a campanha por ela ser uma mulher negra, e a gente tem esse recurso do fundo eleitoral destinado a isso, e ela no exercício da sua função de vice-prefeita foi desprestigiada”. Coser lembrou que antes do segundo turno das recentes eleições, a Capitã Estefáne era tratada com muita cortesia.
“LGBTfobia institucional’, acusa vereadora
O mesmo prefeito que arrancou o microfone da vice-prefeita, é acusado de estar promovendo a “LGBTfobia institucional’ em Vitória. “O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, está mais preocupado em perseguir militantes da comunidade LGBTQIA+ e artistas da nossa cidade, do que de fato implementar, garantir, executar políticas para essa população. :Desde o início do nosso mandato, temos cobrado políticas para essa comunidade”, disse Camila Valadão em plenário da Câmara nesta última segunda-feira. “ “Demonstrando que existe na Cidade de Vitória o que nós podemos chamar de LGBTfobia institucional”, arrematou.
“O que é LGBTfobia institucional? É exatamente o negligenciamento das demandas de pauta relativas a essa comunidade. Como não bastasse o olhar mais humano, mais direcionado para essa população, a comunidade já vem a bastante tempo tecendo críticas à gestão, o prefeito decide processar Deborah Sabará, líder da Gold, e o fato é que ela é uma das principais lideranças da comunidade LGBT do Espírito Santo. E também o Mindu, que é um artista, chargista, que tem a crítica social um dos fundamentos da sua arte. O processo do prefeito contra essas pessoas demonstra o autoritarismo”, disse Camila Valadão no plenário da Câmara.
“A LGBTfobia institucional por um prefeito, que ao contrário de se preocupar em garantir direitos e fazer avançar essas pautas na cidade de Vitória, está mais preocupado em perseguir e processar. Eu quero registrar aqui toda a minha solidariedade à Deborah e ao Mindu. E vamos continuar denunciando e cobrando da gestão municipal a implementação de políticas públicas para essa comunidade, na nossa cidade. Toda a nossa solidariedade e o repúdio ao prefeito. Prefeito Lorenzo Pazolini, se preocupe em garantir direitos, implementar políticas públicas e fazer com que a Cidade de Vitória seja referência na dignidade humana. E não em perseguir militantes, através de processo judicial. Continuaremos na resistência denunciando e cobrando”, completou.
Pazolini protocolou no último dia 21 de outubro o processo 0007851-53.2022.8.08.0024, que está tramitando na 1º Juizado Especial Criminal/Fazenda Pública de Vitória. A acusação é crimes de calúnia, injúria e difamação de competência do Juiz Singular. Na última segunda-feira (7), os autos foram entregues em carga ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES).