A cerimônia, realizada no Triplex Vermelho, no Centro Histórico de Vitória (ES), foi histórica e serviu para reunir a esquerda capixaba. Entre os convidados estava o ex-ministro da Casa Civil do Governo Lula, José Dirceu
A esquerda capixaba se reuniu na noite desta última sexta-feira no Centro Histórico de Vitória (ES), para participar da entrega da Comenda Camarada ao ex-governador Vitor Buaiz. O objetivo foi a aos 30 anos do primeiro governo petista em um Estado brasileiro. Entre as estrelas, além do homenageado, estava o ex-ministro da Casa Civil do Governo Lula, José Dirceu, um dos ícones do PT. Mas, no Triplex Vermelho, estavam outras estrelas do PT, do PSOL, do PCdoB e de outras agremiações de esquerda. A exceção é do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que não se fez presente.
Boa parte do ex-secretariado de Estado de Vitor Buaiz, que governou o Espírito Santo estava presente. Também estava presente a ex-chefe do Cerimonial do Palácio Anchieta, Terezinha Calixte. Vitór Buaiz foi eleito governador do Espírito Santo em 1994, para o mandato 1995 -1998. Sua eleição ocorreu em 2º turno, tendo disputado contra o candidato do então PSD, o extremista de direita Cabo Camata. O ex-deputado do PCdoB, João Martins, também estava presente no evento.
Internacional socialista
No início da cerimônia um coral do Centro Cultural Triplex Vermelho cantou uma música natalina, o Natal todo Dia. Em seguida, o mesmo coral cantou a Internacional Socialista, o que fez o público presente se levantar e cantar junto. O convidado de honra, José Dirceu, não resistiu e usou o seu telefone celular para filmar o coral cantando.
Após a apresentação do coral, foi dado início à cerimônia, que culminaria com a entrega da Comenda Camarada ao ex-governador Vitor. Buaiz. Foi lida a biografia de Buaiz. Perly Cipriano, o responsável pela administração do Triplex Vermelho, fez um emocionado relato, onde lembrou que quando Vitor Buaiz começou a se destacar na política capixaba, ele era preso político e de dentro do presídio nutria a esperança de o conhecer pessoalmente.
Foi lembrada a trajetória de Vitor, que se formou em Medicina e fundou o Sindicato dos Médicos do Espírito Santo e contribuiu para a fundação do PT. Entre os políticos do PT com cargos eletivos presentes no evento, estava a deputada estadual Iriny Lopes e o deputado estadual João Coser. Também estava presente na festa da esquerda capixaba a vereadora eleita de Vitória, Ana Paula Rocha (PSOL), moradora do Centro Histórico de Vitória.
José Dirceu disse que assim que Perly Cipriano o comunicou que seria feita a homenagem ao Vitor Buaiz, ele decidiu vir à Vitória para estar presente, mesmo estando com uma renite há três dias e está sob medicação. Mas, mesmo assim, fez questão de vir à capital capixaba. Na sua fala, destacou o dever de casa que as esquerdas deverão fazer para os próximos anos.
“A cultura foi a primeira vitória da direita no Brasil. Porque ela nos colocou na defensiva. Quando nós temos dúvidas em defender certos valores, pela pressão da grande mídia e pela pressão de direita, é o começo do fim. Então, quero dizer que isso aqui (o evento) é um ato revolucionário. Vamos lembrar, falando em cultura e em educação, o nosso Brasil, quando o Lula ganhou a eleição, ele me abraçou e disse o seguinte: Nós fizemos o sonho da sua geração.”, iniciou José Dirceu.
“A minha geração 68 pegou em armas para lutar pelo Brasil dos trabalhadores. E quem fez o Brasil dos trabalhadores foi o PT. Mas, veja bem, lá se vão 45 anos. Aquele período de construção do Brasil não existe mais. Aquela classe trabalhadora não existe mais. Aquela cultura não existe mais. Mas, nós cumprimos com o nosso papel. Governamos o Brasil cinco vezes. Não governamos a sexta por causa do golpe e da prisão do Lula”, prosseguiu.
Vitor Buaiz
Após receber a Comenda Camarada, o ex-governador iniciou a sua fala agradecendo a presença do ex-ministro José Dirceu. Vitor lembrou que se encontrou com Lula pela primeira vez em 1979, em um encontro de lideranças sindicais articulado pelo frei Beto. “Eu era presidente do Sindicato dos Médicos. Foi naquela ocasião em que pela primeira vez ouvimos o Lula falar em criar o Partido dos Trabalhadores para enfrentar o patronato. Essa reuniu foi para discutir a criação de uma central única de trabalhadores”, se recordou.
“De lá para cá muita coisa aconteceu. Eu estive preso em 1972, acusado de desviar medicamentos para a guerrilha do Araguaia. Lá dentro da prisão do Exército, estavam seis estudantes de Medicina, do Diretório Acadêmico. Aquilo criou uma situação de preocupação para a nossa família. A Lourdinha, a companheira que sempre me acompanhou durante toda a minha trajetória, também ficou presa por quase 10 horas, pressionada para que ela falasse alguma coisa que teria feito de errado”, revelou Buaiz.