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Ato na ABI lembra os 60 anos do comício de Jango na Central do Brasil nesta quarta (13)

Histórico comício de Jango completa 60 anos em 2024. Ouça a íntegra do discurso famoso | Vídeo: YouTube

Nesta quarta-feira (13), a partir das 16 horas, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) vai se transformar no palco para rememorar o comício da Central do Brasil, quando, em 1964, o então presidente João Goulart fez o discurso histórico pelas reformas de base no Brasil.

No evento da ABI estarão presentes a viúva do presidente João Goulart, dona Maria Teresa, filha e netas; Clodsmidt Riani Filho, cujo pai foi organizador do comício; parentes do ex-governador Leonel Brizola, entidades do movimento social como o MST, Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia, parlamentares, sindicatos, lideranças de estudantes (UNE, UJS e UBES) e o Conselheiro da ABI, professor Ivan Proença, histórico defensor da democracia, atuado na resistência ao golpe de 1964. Gabriel do Vale, cantor e neto do ‘poeta do povo”, João do Vale, fará uma participação especial.

Antecipando o ato, no foyer do nono andar, o Rio Memórias recebe os convidados para a inauguração da exposição “Rio 64 – a capital do golpe” que permanecerá em cartaz até o dia 13 de abril. A exposição traz uma representação iconográfica dos principais acontecimentos que culminaram no golpe na madrugada do dia 01 de abril e o contexto histórico e cultural da época. Simultaneamente à inauguração da exposição física, será lançada a versão virtual no site Rio Memórias (www.riomemorias.com.br) onde os visitantes poderão acessar na íntegra as memórias apresentadas na exposição física, além de outros acontecimentos.

Histórico comício de Jango na Central do Brasil completa 60 anos nesta semana | Foto: Arquivo/Reprodução

Jango teve o apoio popular para as reformas

O comício reuniu milhares de pessoas na Central do Brasil, no centro do Rio, para pressionar o Congresso a apoiar as chamadas reformas de base – agrária, bancária, eleitoral, administrativa e universitária – que prometiam modernizar as estruturas do país e combater a pobreza.

“Trabalhadores, acabei de assinar o decreto da Supra [Superintendência de Política Agrária]. Assinei-o com o pensamento voltado para a tragédia do irmão brasileiro que sofre no interior de nossa pátria. Ainda não é aquela reforma agrária pela qual lutamos. Ainda não é a reformulação do nosso panorama rural empobrecido. Ainda não é a carta de alforria do camponês abandonado. Mas é o primeiro passo”, discursou o então presidente.

Na ocasião, Jango anunciou a desapropriação de terras improdutivas próximas a rodovias, ferrovias e açudes feitos com recursos federais, como forma de evitar a especulação fundiária, aumentar a produção de alimentos e facilitar o escoamento, e que as refinarias particulares passariam ao controle da Petrobrás. Dias depois, o presidente seria deposto pelos militares, que deixaram o poder somente em 1985.

Convite para o comício histórico | Imagem: Arquivo/Reprodução

Como foi o histórico comício

O Comício das Reformas, realizado no Rio de Janeiro em frente à estação ferroviária Central do Brasil, reuniu cerca de 300 mil pessoas, entre trabalhadores, camponeses, representantes de partidos políticos, estudantes, servidores públicos, soldados e sargentos. Foi organizado para apoiar a decisão do governo de João Goulart de levar à frente as chamadas Reformas de Base — que incluíam as reformas agrária, urbana, educacional, tributária e eleitoral — e de propor a legalização do Partido Comunista e o direito de voto para analfabetos, cabos e soldados. Entre os oradores, estavam os governadores Leonel Brizola e Miguel Arraes e dirigentes do Comando Geral dos Trabalhadores e da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Em seu discurso, Jango anunciou a encampação das refinarias privadas de petróleo e a desapropriação, para fins de reforma agrária, das terras às margens de rodovias, ferrovias e açudes federais. O presidente afirmou que essas terras começariam a ser divididas em até 60 dias, “com a colaboração patriótica e técnica das nossas Forças Armadas”. Anunciou também o envio ao Congresso de mensagem propondo as reformas universitária e eleitoral, que estendia o direito de voto a soldados e analfabetos. Comprometeu-se ainda a assinar um decreto para regulamentar o valor dos aluguéis.

Num ambiente político radicalizado, Jango rebateu a oposição, os jornais e os empresários contrários às reformas, que o acusavam de atropelar a Constituição e de tramar um golpe de Estado: “A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobras; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício”.