A possibilidade e não uma certeza prevista por cientistas de que uma grande erupção no Vulcão Cumbre Viejas, na ilha vulcânica Canárias, sob controle da Espanha e próxima à África possa provocar em breve um megatsunami que atingirá todas as Américas e inclusive o Brasil, deixou os brasileiros em pânico nesta última quinta-feira (16). A possibilidade existe, mas é remota, amenizam os especialistas. Isso somente será possível se a atividade vulcânica for abrupta. Erupções históricas do Cumbre Vieja ocorreram em 1470, 1585, 1646, 1677, 1712, 1949 e 1971.
As Ilhas Canárias são um arquipélago espanhol no Oceano Atlântico, a oeste da costa de Marrocos. Constituem uma Região Autônoma do Reino da Espanha. É também uma das oito regiões com uma consideração especial da Nacionalidade histórica reconhecidas como tal pelo Governo espanhol. A área é de 7 447 km², sendo assim a décima-terceira Comunidade espanhola em área, a população de 2 127 625 habitantes. A densidade demográfica é de 284,46 habitantes por quilômetro quadrado e tem como capital as cidades de Santa Cruz de Tenerife e Las Palmas de Gran Canaria, ambas com status de capital compartilhado e que foram as duas províncias da ilha. A população representa quatro vezes mais do que a quantidade de moradores de Vitória (ES).
Megatsunami de até 60 metros de altura
Cientistas britânicos formularam a hipótese de que durante uma erupção em um futuro indeterminado, a metade ocidental do Cumbre Vieja – cerca de 500 quilômetros quadrados e com uma massa de cerca de 1,5 x 1015 kg – vai colapsar catastroficamente em um enorme deslizamento gravitacional e entrar no Oceano Atlântico, gerando um fenômeno chamado de “megatsunami”.
Os destroços vão continuar a viajar – como um fluxo de detritos, ao longo do leito do oceano. A modelagem por computador indica que a onda resultante inicial pode atingir uma amplitude local (altura) acima de 600 metros e um pico inicial de altura que se aproximaria de 2 quilômetros e viajaria a cerca de 1000 quilômetros por hora (aproximadamente a velocidade de um avião a jato), inundando o litoral da África Ocidental em cerca de uma hora, o litoral sul do Reino Unido em cerca de 3,5 horas, e a costa leste das Américas até o Brasil. No caso brasileiro, atingiria todo o Nordeste até a Bahia em cerca de seis horas, altura em que a onda inicial teria diminuído em uma sucessão de pequenas ondas, cada uma com cerca de 30 a 60 metros de altura.
Estas podem aparecer algumas centenas de metros de altura e vários quilômetros de distância, mas mantendo a sua velocidade original. O estudo indica que poderia ser provocada uma inundação de até 25 quilômetros no interior dos continentes afetados. Isso iria prejudicar gravemente ou destruir as cidades ao longo de toda a costa leste das Américas. Os danos físicos levariam dezenas, se não centenas de anos, para serem reparados e restaurados. As economias dos países afetados igualmente levariam vários anos para retornar aos níveis pré-inundação.
Nota oficial do Instituto Vulcanológico das Canárias
A atividade sismo-vulcânica no vulcão Cumbre Vieja nas Ilhas Canárias já injetou 11 milhões de metros cúbicos de magma, informa o Instituto Vulcanológico das Canárias (Involcan). A rede geodésica Canária, que administra o Involcan, registrou, nos últimos dias, uma significativa deformação do terreno de origem vulcânica. “Esse padrão de deformação pode ser interpretado como o efeito da pressurização de um pequeno reservatório magmático, com um volume de cerca de 11 milhões de metros cúbicos, localizado no interior de cúpula Velha na mesma área onde a maioria dos terremotos do enxame recente está sendo localizada, e a uma profundidade de cerca de 6-7 km”, diz o órgão do governo espanhol em nota à imprensa.
“Esta observação confirma que a fonte deste enxame, que começou no último sábado, 11 de setembro de 2021, tem uma origem magmática e está relacionada à intrusão de um pequeno volume de magma no interior do vulcão de cúpula Velha”, prossegue a mesma nota. Involcan informa que continuará informado sobre a evolução deste novo enxame sísmico no antigo vulcão. “Deve-se lembrar que não se pode descartar que a sismicidade sentida nos próximos dias se intensifique, dependendo da evolução da atividade” ,prossegue.
“A situação atual do sinal vulcânico está em amarelo para os municípios de El Paso, Los Llanos De Aridane, Malho e Fuencaliente (nas Ilhas Canárias); portanto, fique atento às informações fornecidas pelas autoridades de Proteção Civil correspondentes”, conclui na nota. Desde o século XV as Canárias já viveu cerca de 16 erupções (algumas delas com mais de uma “janela” de emissão), concentradas em Quatro Ilhas: Tenerife, La Palma, El Hierro e Lanzarote; são as três ilhas mais jovens em termos geológicos (e mais ativas) do arquipélago, mas também a segunda mais antiga, Lanzarote desde que nesta terça-feira se ativou o semáforo de risco vulcânico em La Palma pelas centenas de pequenos terremotos que abalam a ilha são muitos os que se perguntam se haverá uma erupção.
Por enquanto, não há resposta, mas é isso que a história das Canárias ensina que se pode esperar. Em tempos históricos-ou seja, desde que há registros escritos, desde a Conquista no século XV -, as Canárias viveram cerca de 16 erupções (algumas delas com mais de uma “janela” de emissão), concentradas em Quatro Ilhas: Tenerife, La Palma, El Hierro e Lanzarote. A lista é formada pelas três ilhas mais jovens em termos geológicos (e mais ativos) do arquipélago, mas também a segunda mais antiga, Lanzarote.
Do vulcanismo nas Canárias costuma-se dizer que não tem sido particularmente prejudicial, mas essa expressão depende de onde o foco é colocado: se é em vidas, os vulcões das Canárias “apenas” mataram 24 pessoas em seis séculos. Mas se os vizinhos de Lanzarote do século XVIII fossem questionados sobre essa catástrofe que cobriu de lava e cinzas a quarta parte da ilha, a erupção de Timanfaya, ou seus coetâneos de Tenerife pela fundição ardente que cobriu o porto de Garachico, então o mais importante da ilha, provavelmente a resposta era bem diferente.
Já elevou 10 centímetros do solo
Nesta semana o Instituto Vulcanológico das Canárias (Involcan) revelou seus cálculos sobre o magma que pressiona sob o solo da Palma e que já elevou dez centímetros o terreno em alguns pontos da ilha: são 11 milhões de metros cúbicos. Esse montante equivale à quarta parte do material que emitiu a última erupção registrada na ilha, a Del Teneguía (1971): 43 milhões de metros cúbicos em 24 dias de duração (fonte: Sociedade Geológica da Espanha) e empalidece se comparado com os 1.000 milhões de m3 que surgiram nos cinco anos e meio de lava e fogo que brindou Timanfaya (fonte: Parques Nacionais).
Nível de alerta
Não há duração fixa de um processo sísmico. São quatro níveis de sinais e atualmente está no segundo nível, o amarelo. A sinalização é o instrumento utilizado pelo Instituto Geográfico Nacional (IGN) para definir como as autoridades devem agir em função do risco vulcânico, bem como as comunicações que devem ser estabelecidas com proteção Civil. O sistema de sinalização fica verde quando a atividade do vulcão for normal, bem como quando os sinais anômalos começarem no enclave. Neste caso, serão realizadas reuniões entre especialistas e responsáveis dos grupos científicos para avaliar tais anomalias.
Quando essas alterações se elevarem, o sinal ficará amarelo, como é o que está ocorrendo atualmente. Nesse momento, o espaço afetado será delimitado e, de acordo com o IGN, a instrumentação de crise será implantada. A reunião do Comitê de Avaliação e acompanhamento dos fenômenos vulcânicos também será solicitada. Se a presença de magma for evidenciada e houver risco de erupção cutânea, o semáforo vermelho é declarado. Assim, as comunicações serão mais frequentes, novos especialistas serão incorporados ao Comitê de Avaliação e os porta-vozes científicos e especialistas oferecerão conferências de imprensa diárias.
Processo de erupção está em andamento
O Comitê explica que o processo de proximidade de uma erupção vulcânica continua e pode ter uma evolução rápida a curto prazo, sendo esperada a ocorrência de terremotos sentidos de maior intensidade. Nesta situação, é reforçado o acompanhamento contínuo da atividade e será comunicado quaisquer alterações significativas observadas. Também é solicitado à população que se mantenha atenta às informações fornecidas pelas respectivas autoridades de Proteção Civil.
O Comitê Científico é coordenado pela Direção Geral de segurança e Emergências do Governo das Canárias e é composto por representantes do Instituto Geográfico Nacional (IGN), Conselho Superior de pesquisas Científicas (CSIC); Instituto Volcanológico das Canárias (Involcan), Instituto Geológico e Mineiro de Espanha (IGME), Agência Estatal de Meteorologia (AEMET), Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO), Universidade da Laguna e Universidade de Las Palmas de Gran Canaria.
Plano de fuga
Antes de uma erupção vulcânica, ocorre um aumento gradual da atividade sísmica, que pode ser prolongada por um longo tempo e pode ser percebida pela população, então você precisa manter a calma. O sinal atual, o amarelo, recomenda-se conhecer a rede de comunicações do ambiente em que reside para uma possível evacuação e ter localizada alguma habitação de familiares fora das zonas de risco. É solicitado à população que tenha um plano de fuga, com uma pequena mochila ou bolsa de viagem para determinar a evacuação, com telefone celular com carregador, medicamentos pessoais e documentação de importância.
Segundo a Associação vulcões das Canárias, os municípios afetados podem, nesse nível de risco, continuar com suas atividades rotineiras. Algumas recomendações do siinal amarelo são renovar os itens básicos que podem ser úteis se a situação de emergência chegar a alterar as condições habituais de vida. Estes produtos podem ser um kit de primeiros socorros, medicamentos, alimentos, água de reserva, rádio, lanterna, velas, baterias de substituição, Isqueiro, artigos de higiene, agenda com telefones de contato e serviços de emergência.
Outra recomendação é comunicar às autoridades que gerenciam o plano de emergência local é se houver na família houver pessoas doentes, com deficiência, grávidas ou idosas. Também deve ser relatado se as famílias têm uma segunda residência em uma área não afetada em que essas pessoas possam ficar.
Fases
Os processos vulcânicos são dinâmicos e têm uma evolução temporal, mas não existem fases estabelecidas. “Não há roteiro. É um resultado de um sistema complexo”, descreve Maria José Blanco, do IGN. Em alguns casos, eles podem começar com sismicidade repentina, como aconteceu no passado em Tenerife. “Em um instante começa um enxame com terremotos muito frequentes e pequenos que se concentram em um período mais ou menos curto. Começa e termina bruscamente”, acrescenta a especialista.
No caso do vulcão El Hierro, após o maior terremoto deu-se uma calma sísmica que não era real. Não houve percepção de terremoto, mas depois o processo vulcânico acabou em erupção. “Depende do estado do sistema vulcânico. Pode terminar ou pode continuar evoluindo com terremotos mais frequentes e de magnitudes maiores”, apontam do IGN.