As placas de sinalização turística interpretativa estão oxidadas com o passar do tempo e outros vandalizadas. Mas, a CDTIV, que é quem tem os modelos originais em seus arquivos, ignora. Assim, o abandono da PMV vai fazendo com que o Centro se transforme em uma região sem administração municipal
O abandono das placas de sinalização turística interpretativa, em frente aos principais monumentos do Centro Histórico de Vitória (ES) é o melhor indicativo de que a Prefeitura de Vitória (ES) esqueceu que a capital do Espírito Santo é a terceira mais antiga capital do Brasil. Os olhos da atual administração municipal estão voltados para os bairros da periferia onde moram a elite econômica, como a Praia do Canto, Ilhas do Frade e do Boi, além dos bairros de classe média Jardim Camburi e Jardim da Penha. As placas turísticas, em frente aos monumentos onde surgiu o Espírito Santo, estão entregues à sua própria sorte.
Essa situação de abandono incomoda a quem mora, trabalha ou transita pelo Centro de Vitória. A impressão que se tem é que não existe governo municipal. São inúmeros os relatos de moradores incomodados com o descaso da atual gestão da PMV. Entre esses está o professor Raphael Leite Teixeira. Ele mostra os registros de inúmeras solicitações de reparos não atendidas. Ele disse que entre o descaso está o arco do índio Arariboia, nas proximidades do antigo Saldanha da Gama, que teve o arco quebrado por vândalos e assim continua.
“Tem mais de um ano que tenho solicitado (a reparação). Tenho pedido para que eles restaurem. Eles enrolam muito. É lamentável. A PMV e a CDTIV (Companhia de Desenvolvimento, Turismo e Inovação de Vitória – a empresa da Prefeitura responsável pelo turismo da cidade) sempre dão uma desculpa. Alegam que precisam uma autorização do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Pura mentira. Procurei o Iphan. É uma situação lamentável de abandono”, afirmou o professor.
Placas de sinalização turística interpretativa
A situação mais exposta de abandono ocorre com as placas de sinalização turística interpretativa, que foram construídas na frente dos monumentos históricos com uma síntese da importância do monumento em português e inglês. Ao lado do texto há uma foto antiga. Essas placas foram instaladas na gestão do ex-prefeito João Coser (PT), que recebeu dinheiro do Ministério do Turismo durante a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva.
O projeto teve custo total de R$ 4,28 milhões em outubro de 2009, que com a correção inflacionária equivale atualmente a R$ 8,97. O Ministério do Turismo entrou com um aporte de R$ 3,4 milhões (R$ 7,12 milhões nos dias atuais) e a PMV disponibilizou R$ 880 mil, o que equivale em março de 2022 a R$ 1,84 milhão. Foram instaladas 45 placas de lâmina de aço e acrílico, no espaço urbano compreendido entre a Vila Rubim e o Clube Saldanha da Gama. As localizações das placas observaram as normas de visibilidade, formas e impacto no ambiente e nos fluxos normais da cidade definidas pelo Guia.
Projeto seguiu o Guia Brasileiro de Sinalização Turística
As placas interpretativas foram instaladas na região, do lado externo e interno aos monumentos e irão direcionar o pedestre, indicando os principais acessos ao centro histórico, demarcando e mapeando o espaço. As placas, atualmente sem manutenção na atual gestão do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), foram instaladas seguindo normas definidas pelo Guia Brasileiro de Sinalização Turística, produzido pelo Ministério de Turismo, tornando-as inéditas no Brasil. Vitória foi a primeira capital a orientar-se pelo Guia, seguindo padrão de cores, orientações sobre texto e pesquisa.
O intuito da antiga Companhia de Desenvolvimento de Vitória (CDV), que na gestão do Coser cuidada do turismo da capital capixaba, era fazer com que o pedestre, morador ou turista pudesse entender a importância daquele marco da história ali presente, além de contribuir diretamente para a revitalização do Centro Histórico de Vitória. A atual gestão Pazolini ainda não apresentou plano de revitalização do Centro de Vitória, como já foi adotado alguns anos atrás em Salvador e na região da Lapa, no Rio de Janeiro.
Diante do descaso da CDTIV e da atual administração da PMV, moradores estão interessados em refazer as placas de sinalização turística interpretativa, fazendo vaquinha. Mas, para isso dependem da boa vontade da CDTIV, que é quem possui os detalhes do projeto original feitos pela antiga CDV. “Se eu encontrasse alguém de dentro da CDTIV que tivesse acesso à arte e mandasse para mim, eu faria uma vaquinha e, por conta própria, mandaria imprimi-la”, disse Raphael Teixeira.
Vitória foi a primeira cidade do país a ter essas placas
Vitória foi a primeira cidade do Brasil a instalar as placas de sinalização turística interpretativa. A metodologia para a confecção e instalação das placas de sinalização turística que foi proposto naquela ocasião pelo Ministério do Turismo no governo Lula, adotava normas técnicas. De acordo com guia brasileiro “o projeto preliminar é desenvolvido a partir do Plano Funcional e deve considerar aspectos referentes à padronização, aos tipos de placas e aos critérios de seleção e ordenamentos das mensagens”.
As placas proporcionam uma comunicação qualitativa, priorizando os registros que são importantes ao se reportar à história daquele lugar, daquele monumento levando o morador e o turista a fazer associações e ao andar pelo Centro Histórico ao mesmo tempo em que visita a história. O conteúdo das placas foi objeto de convênio com professores do Departamento de História da Ufes, para que as informações históricas tivessem perfeição. Além de estar em português, um tradutor juramentado fez a tradução para o inglês fosse impecável. Cada placa tem fotos antigas do local onde está instalada.
As placas interpretativas ilustram, contam histórias, reforçam temas, através de informações qualitativas. As quarenta e cinco que foram instaladas dividem-se em seis placas de região, onze de entorno de monumento, vinte e uma internas de monumentos e sete placas direcionais para pedestres. As placas de sinalização interpretativa contaram com os seguintes parceiros: Mitra Arquidicocesana, Secretaria de Estado e Cultura do Espírito Santo, Irmandade de São Benedito do Rosário, Venerável Arquiconfraria Nossa Senhora da Boa Morte e o Instituto Goia. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) é um dos parceiros cuja chancela se encontra nas placas, conforme normas do Guia Brasileiro de Sinalização.