Os alertas sobre inundações e deslizamentos de terra, que podem afetar a vida de 1.920 pessoas, são classificados como sendo riscos alto e muito alto

A exemplo da recente catástrofe provocada pelas fortes chuvas nas cidades do Sul do Espírito Santo, que haviam sido anunciadas quatro anos antes pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia (MME), a mesma entidade já alertou de tragédia semelhante que poderá vir a ocorrer em Santa Leopoldina (ES). O alerta foi feito em outubro de 2021 e o documento do SGB/CPRM foi entregue aos políticos com cargos no executivo municipal e estadual. No entanto, as principais recomendações foram ignoradas.
De acordo com o órgão federal, em Santa Leopoldina há 25 áreas de risco geológico mapeadas como sendo de risco alto e uma de risco muito alto. O número aproximado de imóveis em áreas de risco alto é 448, enquanto os que estão classificados como sendo de risco muito alto é de 32 imóveis. Já o número de pessoas em risco alto é de 1.792 habitantes e os que estão correndo alto risco é de 128 cidadãos.

Gravidade na Rua Bernardino Monteiro, no Centro
Segundo o SGB, a Rua Bernardino Monteiro, no Centro se encontra em área suscetível a transbordamentos prolongados do canal de drenagem do rio Santa Maria da Vitória. “Planície de inundação estreita e confinada entre vertentes de serras e morros altos, tornando o rio caudaloso e com alta energia. Ocupação ao longo de margem, da borda do canal até base de vertente, submersa até dois metros de profundidade.”
Os imóveis do setor, localizados nas ruas Bernardino Monteiro e Cabo Milton são de alvenaria com bom padrão construtivo e baixa vulnerabilidade. O nível do rio está sob influência da Barragem Hidroelétrica Suíça localizada a montante. Alguns dos imóveis localizados na rua Cabo Milton também estãoem áreas de atingimento de possíveis deslizamentos.
As sugestões de intervenção são:
- 1. Avaliar possibilidade de remover e realocar temporariamente em locais seguros os moradores que se encontram nas áreas de risco durante o período de chuvas;
- 2. Evitar novas ocupações dentro dos setores, fora das especificações de projeto necessárias;
- 3. Avaliar a possibilidade de construção de obras de contenção nos taludes marginais sujeitos a erosão;
- 4. Acompanhar permanentemente a variação do nível de água na bacia hidrográfica a montante para a emissão de alertas;
- 5. Manter contato constante com a administração da barragem Suíça para conhecimento da vazão;
- 6. Implantar ou corrigir o sistema de drenagem superficial, a fim de evitar infiltrações excessivas nas encostas.

Os riscos da Rua Presidente Getúlio Vargas, no Centro
O SGB fez a seguinte descrição: Área suscetível a transbordamentos prolongados do canal de drenagem do rio Santa Maria da Vitória. Planície de inundação estreita e confinada entre vertentes de serras e morros altos, tornando o rio caudaloso e com alta energia. Ocupação ao longo de margem, da borda do canal até base de vertente, submersa até três metros de profundidade, ao longo da Rodovia Paulo Nascimento, do número 886 até o 1644, nos dois lados da rua em alguns pontos.
Os imóveis do setor, dos quais faz parte a sede da prefeitura municipal, são de alvenaria com bom padrão construtivo e de baixa vulnerabilidade. O nível do rio está sob influência da Barragem Hidroelétrica Suíça localizada a montante.
As sugestões são:
- 1. Avaliar possibilidade de remover e realocar temporariamente em locais seguros os moradores que se encontram nas áreas de risco durante o período de chuvas;
- 2. Evitar novas ocupações dentro dos setores, fora das especificações de projeto necessárias;
- 3. Avaliar a possibilidade de construção de obras de contenção nos taludes marginais sujeitos a erosão;
- 4. Acompanhar permanentemente a variação do nível de água na bacia hidrográfica a montante para a emissão de alertas;
- 5. Manter contato constante com a administração da barragem Suíça para conhecimento da vazão.
Sugestões gerais para o municpio de Santa Leopoldina
O Serviço Geológico do Brasil explica que não se limita a apontar os riscos, inclusive o risco à vida dos moradores, mas apresenta aos politicos eleitos eleitos em cargos de comando executivo as sugestões. Cabe a esses polpiticos acatar ou não as recomendações, mas o aviso de que pode ocorrer uma tragédia é dado e fica registrado.
“É de suma importância esclarecer que as medidas de intervenção apresentadas constituem orientações gerais, não-mandatórias, que objetivam nortear as administrações municipais a respeito de possíveis formas de atuação para mitigar o risco geológico. Dessa forma, em nenhuma hipótese, as propostas apresentadas dispensam a realização de estudos e projetos que, em função das características específicas de cada região, indiquem a viabilidade, o tipo e as formas de implantação de medidas de intervenção eficazes”, informa o SGB.
E as sugestões, após apresentar o que foi constatado nos levamentos in locum, são:
- 1. Avaliar possibilidade de remover e realocar temporariamente em locais seguros os moradores que se encontram nas áreas de risco durante o período de chuvas;
- 2. Desenvolver estudos de adequação do sistema de drenagem pluvial e esgoto a fim de evitar que o fluxo seja direcionado sobre a face dos taludes ou encostas.
- 3. Verificar e reparar os pontos de vazamento de água em encanamentos;
- 4. Desenvolver estudos geotécnicos e hidrológicos com a finalidade de embasar os projetos e/ou obras de contenção de encostas ou de blocos rochosos;
- 5. Fiscalizar e proibir a construção em áreas protegidas pela legislação vigente;
- 6. Instalar sistema de alerta para as áreas de risco, através de meios de veiculação pública (mídia, sirenes, celulares), permitindo a remoção eficaz dos moradores em caso de alertas de chuvas intensas ou contínuas;
- 7. Realizar programas de educação ambiental voltados para as crianças em idade escolar e para os adultos em seus centros comunitários, ensinando-os a evitar a ocupação de áreas impróprias para construção;
- 8. Elaborar plano de contingência que envolva a zona rural e urbana, para aumentar a capacidade de resposta e prevenção a desastres no município;
- 9. Fiscalizar e exigir que novos loteamentos apresentem projetos urbanísticos respaldados por profissionais habilitados para tal;
- 10. Executar manutenção das drenagens pluviais e canais de córregos, a fim de evitar que o acúmulo de resíduos impeça o perfeito escoamento das águas durante a estação chuvosa;
- 11. Agir de modo preventivo nos períodos de seca, aproveitando a baixa no número de ocorrências para percorrer e vistoriar todas as áreas de risco conhecidas e adotar as medidas preventivas cabíveis;
- 12. Adequar os projetos de engenharia às condições geológicas e topográficas locais, evitando realizar escavações e aterros de grande porte;
Conclusões do SGB sobre os riscos de Santa Leopoldina
“Os setores de risco de Santa Leopoldina, com tipologias decorrentes de movimentos gravitacionais de massa, são resultado da combinação da suscetibilidade natural do terreno somada a uma ocupação desordenada do meio físico. A situação poderia ser pior se não fosse pelo tipo de solo que ocorre na cidade e se as encostas não fossem ocupadas por um número relativamente baixo de casas”, inicia o SGB.
“Já os setores com tipologias decorrentes de transbordamentos dos canais de drenagem são resultado da combinação da queda abrupta do gradiente hidráulico do rio Santa Maria da Vitória na área da cidade, somada a uma ocupação imprudentemente próxima às margens, aliada a ações humanas que dificultam a vazão normal da rede de drenagem”, continua.
“A queda do gradiente hidráulico gera mudança no regime de escoamento, causando um aumento significativo dos níveis d’água, e por conseguinte, uma baixa velocidade de escoamento do transbordamento, fazendo as inundações do município terem longa duração. Esse remanso das águas do rio Santa Maria da Vitória, é a principal causa de transbordamentos do ribeirão Crubixá-Mirim e do córrego do Nove, por terem suas vazões barradas pelo rio no qual desaguam”, conclui.
Relação dos setores de risco geológico em Santa Leopoldina
Logradouro | Tipologia | Grau de risco | Número aproximado de imóveis | Número aproximado de pessoas |
Rua Bernardino Monteiro -Centro | Inundação | Alto | 27 | 108 |
Rua José Machado Alvarenga – Centro | Inundação | Alto | 32 | 128 |
Rua Cabo Milton – Centro | Deslizamento | Alto | 26 | 104 |
Rua Adelino Espíndola (beco) – Centro | Deslizamento | Alto | 08 | 32 |
Rua José Machado Alvarenga – Vila Nova | Inudanção | Alto | 07 | 28 |
Rua Adelino Espíndola com rua Ribeiro Limpo – Vila Nova | Inudação | Alto | 10 | 40 |
Rua Ribeiro Limpo com rua Natalino Teixeira – Vila Nova | Deslizamento | Alto | 12 | 48 |
Rod. ES-080 (estrada Santa Leopoldina – Santa Tereza, s/n) | Deslizamento | Alto | 19 | 76 |
Rod. Paulo Nascimento – Centro | Inudação | Alto | 126 | 504 |
Rod. Paulo Nascimento – Olaria | Deslizamento | Alto | 22 | 88 |
Rua Natalino Teixeira -Olaria | Deslizamento | Alto | 10 | 40 |
Rua Ver. Sebastião José Siller – Centro | Inudação | Alto | 33 | 132 |
Rua Ver. Sebastião José Siller – Centro | Deslizamento | Alto | 16 | 64 |
Rua Marechal Floriano Centro | Deslizamento | Alto | 12 | 48 |
Rua do Funil – Funil | Queda de blocos | Muito alto | 32 | 128 |
Ribeirão dos Pardos | Deslizamento | Alto | 14 | 56 |
ES-080 – Barra de Mangaraí | Deslizamento | Alto | 06 | 24 |
Rua Projetada – Barra de Mangaraí | Deslizamento | Alto | 28 | 102 |
Rua Projetada (beira rio) – Barra de Mangaraí | Inudação | Alto | 40 | 160 |
Fonte: Serviço Geológico do Brasil