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Surgem novas denúncias de prefeitos no escândalo dos pastores envolvidos no bolsolão do MEC

A cada dia surgem novas denúncias do bolsolão do MEC com envolvimento de pastores evangélicos | Foto: Divulgação

Após o vazamento do áudio do pastor-ministro da Educação do governo Bolsonaro, Milton Ribeiro, onde evidencia a existência de um gabinete paralelo da corrupção com pastores evangélicos em busca de propina, surgiram novas denúncias do envolvimento de pastores corruptos com o Ministério da Educação (MEC). As mais recentes é a de um dos pastores do esquema de desvio de dinheiro público, o pastor da Igreja Cristo para Todos, Arilton Moura. Há novos relatos de prefeitos, onde dizem que além de dinheiro, era exigido o pagamento de propina em Bíblias.

É exatamente na Bíblia, usada como arma para o crime por evangélicos, que consta no Livro de Mateus, no Capítulo 7 e versículos de 15 a 20 a seguinte advertência: “”Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores.”. “Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo”, assinala o versículo 19 do mesmo Capítulo bíblico.

Na última quarta-feira (23), em áudio gravado o prefeito da cidade maranhense de Luis Domingues, Gilberto Braga (PSDB) havia denunciado que o mesmo integrante do gabinete paralelo, o pastor Arilton havia solicitado uma propina de R$ 14 mil para dar entrada no pedido de liberação de verbas e mais um quilo de ouro quando estivesse prestes a sair a liberação. O quilo de ouro vale atualmente entre R$ 300 mil e R$ 308 mil. Nesta quinta-feira, o jornal conservador O Estado de São Paulo trouxe novas denúncias de prefeitos contra esse mesmo pastor evangélico.

Novas denúncias

Nesta quinta-feira (24) vieram à tona novas denúncias sobre a atuação da máfia dos pastores evangélicos dentro do gabinete paralelo do MEC. De acordo com novas denúncias de prefeitos que foram abordados pelos pastores evangélicos, os pedidos de propina não tinham um valor fixo e iam de R$ 15 mil a R$ 40 mil. Nessas novas denúncias constam depoimentos dos prefeitos Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis (GO), e José Manoel de Souza, de Boa Esperança do Sul (SP). Eles afirmam que tiveram audiências com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, e que depois foram encaminhados para se reunirem com o pastor Arilton.

O prefeito Kelton disse que, além do dinheiro para “facilitar” o trâmite da liberação de verbas federais, o pedido de propina se completava com o pedido de que o prefeito da cidade goiana de Bonfinópolis incluísse a compra de Bíblias. O pastor, segundo ele, ainda explicou que as Bíblias eram para ajudar na arrecadação de dinheiro da sua igreja. Com a distribuição de Bíblias, iria elevar a receita proveniente da arrecadação das ofertas entre as pessoas que frequentam o seu templo.

“Que eu desse uma oferta para a igreja, comprasse as bíblias para ajudar na construção da igreja (…) Seria uma venda casada. Eu teria que comprar essas bíblias, porque ele estava em campanha para arrecadar dinheiro para a construção da igreja”, afirmou Kelton. O prefeito paulista da cidade de Boa Esperança do Sul, José Manoel de Souza, disse que se reuniu com o pastor-ministro em 13 de janeiro de 2021,. Juntamente com outros 30 gestores no MEC. O esquema do pedido de propina foi n o mesmo modus operandi. Após o encontro com Milton Ribeiro, disse que foi abordado por Arilton e que o pastor evangélico teria pedido R$ 40 mil de propina para a liberação de recursos do MEC para seu município. “Eu bati nas costas dele e falei: ‘Obrigado senhor Arilton, mas para mim não serve’”, disse o prefeito de Boa Esperança do Sul.

Já o prefeito Kelton ainda contou que após dizer que seu município precisava de mais uma escola, ouviu do pastor o pedido de propina. “Disse que eu teria que dar R$ 15 mil para ele naquele dia para ele poder fazer a indicação. (Ele disse) ‘Transfere para minha conta, é hoje (…) No Brasil as coisas funcionam assim”, contou Kelton ao jornal carioca O Globo. Ao mesmo jornal, o prefeito goiano disse que se reuniu no MEC, em Brasília, com Ribeiro e outros 15 gestores municipais em 11 de março de 2021. Após o encontro, os pastores Arilton e Gilmar chamaram os prefeitos para um almoço, no qual Arilton o abordou questionando se sua cidade tinha algum pedido de melhorias.

No áudio vazado do pastor-ministro Milton Ribeiro ele diz textualmente: “Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam. E, em segundo lugar, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar. Não tem nada com o pastor Arilton e tudo com o Gilmar. Tá entendendo? Então o Gilmar, que foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar. Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser publicado. É apoio sobre a construção de igrejas.

No vídeo áudio de outro pastor confirmando que os prefeitos tem que intermediar o pedido de repasses de dinheiro do FNDE através da igreja Assembleia de Deus | Vídeo: canal Grafitti News no YouTube

Quem são os pastores evangélicos acusados de intermediar dinheiro do MEC?

O pastor Arilton Moura, da Igreja Cristo para Todos, atua como assessor político da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil e já ocupou diversos cargos políticos, entre eles, o de secretário no governo do Pará. Foi o pastor apontado pelo prefeito da cidade de Luís Domingues (MA) que cobrou pagamento de propina em dinheiro e em ouro e dinheiro para atuar na liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ele estava na reunião do áudio vazado com o pastor-ministro Milton Ribeiro.

Já o pastor Gilmar Santos, que segundo o titular do MEC é o indicado pelo presidente Bolsonaro para ser atendido em tudo que solicitasse, é presidente da Convenção Nacional das Igrejas e ministro das Assembleias de Deus no Brasil e apontado por prefeitos como o responsável por intermediar junto ao MEC o repasse de verbas do FNDE para prefeituras.

O pastor José Wellington Bezerra da Costa, um dos líderes mais influentes da Assembleia de Deus, em depoimento dentro da sua igreja confirmou que o pastor-ministro da Educação Milton Ribeiro, favorece pastores ligados ao presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), Gilmar Silva dos Santos, a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). José Welliton, que ao completar 86 anos em 6 de outubro de 2020 teve um culto em ação de graças com a presença de Bolsonaro e de dois pastores-ministros, o Milton Ribeiro e da Damares Alves, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Foi exatamente esse pastor homenageado por Bolsonaro, que determinou à TV Brasil (https://youtu.be/5NXT1t27KL8) que fizesse a transmissão online do culto, que durou 2h 6 minutos e quatro segundos, foi quem admitiu que, em fevereiro último, que a igreja fez intermediação de pagamentos de emendas parlamentares para eleger três de seus filhos em São Paulo. Tendo os votos fáceis, já que os evangélicos não votam por sua própria vontade, mas por determinação do pastor, José Wellington elegeu os três filhos na carreira política.

Os três filhos do pastor são, o deputado federal Paulo Freire Costa (PL-SP), a deputada estadual Marta Costa (PSD-SP) e as vereadoras Marta Costa (PSD-SP) e Rute Costa (PSDB-SP). Os filhos políticos tiveram acesso a R$ 25 milhões em recursos públicos no ano passado. A Assembleia de Deus apoiou abertamente os três nas eleições que disputaram. “A emenda só vai para o prefeito por intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus. O eleitorado que ali está, irmãos, não é do prefeito, mas são irmãos em Cristo que estão nos apoiando para que os nossos candidatos continuem trabalhando”, disse José Wellington, no dia 7 deste mês, de acordo com revelação inicial feita pelo jornal Estadão. Leia a seguir a íntegra do pedido de impeachment ao pastor-ministro Milton Ribeiro, solicitado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em arquivo PDF:

Crime-de-responsabilidade-Milton-Ribeiro-orcamento.docx

Pedido de impeachment do pastor-ministro da Educação

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou no Supremo Tribunal Federal, nesta última quarta-feira (23), pedido de impeachment do ministro da Educação do governo Bolsonaro, Milton Ribeiro. A ação já foi direcionada para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux. O documento é embasado nas denúncias de que o pastor Milton Ribeiro atuava em favor de outros pastores evangélicos nos repasses de verbas do FNDE.

No documento, o senador do Amapá, diz que o pastor-ministro cometeu crime de responsabilidade e corrupção passiva. Além do afastamento, a solicitação do senador solicita a quebra do sigilo telefônico, além de uma busca e apreensão no gabinete e na residência dele, com o intuito de colher provas matérias do trafego de influência e da corrupção.